Equipes do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) de Caxias planejam pelo menos duas ações emergenciais para tentar assegurar o abastecimento de água do sistema Marrecas, que atende a 25% da população da cidade. A retomada definitiva do serviço tem sido dificultada por recorrentes deslizamentos de uma encosta no km 158 da RS-453 (Rota do Sol), na região de Vila Seca. A adutora que transporta água da estação de tratamento até a área urbana de Caxias sofreu três rompimentos devido ao deslocamento do terreno.
De acordo com Elton Boldo, diretor da Garden Engenharia, empresa contratada pelo Samae para acompanhar o trabalho, existe a possibilidade de deslocamento de uma área da encosta equivalente a três campos de futebol. O risco, inclusive, é iminente, principalmente com a previsão de chuva para esta quinta-feira (16) e os próximos dias.
— A gente não pode botar um equipamento para fazer sondagem para dar esse volume certo, mas a gente já estima entre 300 mil e 350 mil metros cúbicos. Isso precisa, em um caminhão normal, 20 mil a 25 mil caminhões para tirar esse material de lá — explicou Boldo na sessão desta quinta da Câmara de Vereadores de Caxias.
Essa instabilidade tem impedido o início da ação mais imediata planejada pela autarquia: a criação de uma adutora "reserva", passando por baixo do leito da Rota do Sol, para garantir uma continuidade no fornecimento em caso de novo deslizamento. Essa segunda tubulação terá diâmetro de 60 centímetros, contra um metro do duto principal.
Outra medida planejada pelo Samae é transferir a adutora principal para o outro lado da rodovia. A obra também tem sido tratada de forma emergencial, mas também depende de uma estabilidade mínima da encosta e levaria de três a quatro meses para ser concluída. A tubulação para a transferência já foi solicitada e tem entrega prevista para daqui a 20 dias.
Para não deixar os moradores totalmente desabastecidos, o Samae tem recorrido a caminhões-pipa que abastecem reservatórios nos bairros atendidos pelo Marrecas. Em alguns casos, a água é também injetada em hidrantes e distribuída pela rede.
— Nós estamos trabalhando, neste momento, com 17 caminhões-pipa, entre carretas de 28 mil litros e trucks de 15 mil litros — observa o presidente substituto do Samae, Ângelo Barcarolo.
A longo prazo, o Samae planeja ainda interligar todos os sistemas de abastecimento de água da cidade. Isso permitiria remanejar a água de outras estações de tratamento em caso de interrupção em um dos sistemas, como ocorre no momento. Atualmente, as redes são parcialmente interligadas, que permite remanejar o fornecimento apenas em parte da área atendida pelo Marrecas.
Risco de impacto na energia e nas telecomunicações
Não é apenas o abastecimento de água e o trânsito que o eventual deslizamento completo da encosta poderia prejudicar. O ponto onde o solo está cedendo fica embaixo de uma torre de linha de transmissão de energia operada pela Eletrosul. De acordo com Elton Boldo, a Eletrosul já foi acionada e escorou a torre para evitar uma eventual queda. Caso seja arrastada com a movimentação do terreno, contudo, pode causar uma interrupção no fornecimento de energia para a cidade.
— Essa é uma das três linhas de transmissão que atendem Caxias. O risco de colapso caindo só essa torre é baixo, porque existem as outras duas linhas. Ambas estão operando, mas têm problemas similares ou até piores que esta, em torres de sustentação e até mesmo em subestação (em Nova Santa Rita, na Região Metropolitana de Porto Alegre, uma subestação está alagada) — explica.
Junto à torre de energia na região de Vila Seca também passa um cabeamento de fibra ótica, que, em caso de rompimento, poderia também prejudicar os serviços de telecomunicações em Caxias.
Para evitar impactos graves nos serviços, equipes do Samae, da Garden e de órgãos públicos têm trabalhado em medidas paliativas para tentar conter a encosta. Trabalhos mais efetivos, contudo, dependem de maior estabilidade do terreno.