Em entrevista ao Show dos Esportes da rádio Gaúcha Serra nesta quinta-feira (16), o presidente em exercício do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) de Caxias do Sul, Ângelo Barcarolo, voltou a afirmar que há risco iminente de desmoronamento de uma encosta na região do km 158 da RS-453 (Rota do Sol), na região de Vila Seca.
No local, uma adutora que transporta água da estação de tratamento até a área urbana de Caxias, sofreu três rompimentos devido ao deslocamento de terra. Caso o deslizamento da encosta aconteça, além de afetar o abastecimento de água e o trânsito na Rota do Sol, as redes elétrica e de telecomunicação da cidade também devem sofrer impacto, visto que há uma torre de energia e cabeamento de fibra ótica próximo ao local. Segundo Barcarolo, equipes de especialistas e geólogos avaliaram o ponto e indicaram a chance de desmoronamento.
— O risco, eu lhe diria que ele é 9,99% pelo que está posto. O estudo geológico aponta que há um risco de 99% (de desmoronamento) para não dizer 100%. A partir destes estudos começamos a verificar as consequências, não só no abastecimento, verificando que havia uma torre também ali, que está em risco iminente de queda. Não se sabe quando esse desmoronamento poderá ocorrer, mas pela movimentação do talude, o desmoronamento poderá ser parcial ou por inteiro — afirma Barcarolo.
Segundo ele, além da Garden Engenharia, empresa contratada pelo Samae para acompanhar o trabalho, técnicos do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) também apontaram que o risco é iminente. A área em questão tem mais de três hectares de extensão. Uma sondagem feita com equipamento específico estimou em 300 mil e 350 mil metros cúbicos de material. Isso representa, segundo Barcarolo, 30 mil cargas de caminhão.
— Ou seja, não é só a adutora de água que corre o risco de cair. A gente corre o risco de ter um deslizamento de terra que vem inclusive a bloquear a Rota do Sol por um período de 15 a 20 dias, se isso for confirmado.
Ainda conforme o presidente, caso ocorra o desmoronamento, afetando o abastecimento de água e a rede de energia, o corredor humanitário que Caxias do Sul se tornou devido às enchentes que atingiram a Região Metropolitana, também comprometido.
—É um problema completo que afeta a região rodoviária, afeta o trânsito de veículos, afeta a distribuição de água e pode causar um problema de energia. Isso faria com que todo o sistema de abastecimento da serra gaúcha tivesse que ser reconectado e a gente teria que depender de linhas de energia, que vem da região de Porto Alegre, que também estão afetadas. Ou seja, algo que hoje afeta apenas o abastecimento de água pode ser tornar uma situação extremamente grave — pontua o presidente em exercício.
Sobre a possibilidade de queda da torre de transmissão de energia, Barcarolo afirmou que a EletroSul já foi acionada para encontrar uma alternativa para o fornecimento de energia. Foram encaminhadas à superintendência em Florianópolis, por e-mail, cópias do laudo preliminar geológico. Porém, não houve uma manifestação pública por parte da companhia. Com o agravamento da situação, a RGE, concessionária local, também foi acionada e direcionou o contato para o setor competente, responsável pelas linhas de transmissão.
— A partir daquele momento, eles foram até o local, e como medida provisória, eu diria assim, paliativa, de forma emergencial, eles fizeram um ancoramento daquela torre em uma árvore, que era o que tinha para o momento lá.
Caso a queda ocorra, as regiões norte e nordeste da cidade seriam as mais afetadas com a falta de energia.
Retomada do abastecimento
Ao longo desta quinta, a adutora que transporta a água tratada da estação de tratamento precisou passar por um novo conserto. Às 19h, o Samae iniciou os testes e, em seguida, a água chegou ao reservatório junto à Empresa Mundial, de onde teve início a distribuição para os bairros da cidade.
— Importante frisar que o abastecimento será de forma gradativa, durante noite, madrugada, com a expectativa de nós normalizarmos durante o dia, durante a sexta-feira.
O sistema Marrecas abrange aproximadamente 27% da cidade de Caxias do Sul. A partir desta sexta-feira (16), equipes estarão atuando no local para implementar uma adutora de 600 milímetros, que deve operar de forma provisória. A medida foi decidida de maneira emergencial e será implementada em um ponto longe do local que está comprometido.
— Isso demandará, certamente, uma semana de serviço. Vamos ver se a gente consegue. Nós vamos colocar duas frentes de trabalho, duas empresas, e trabalhar em turnos. Temos que analisar todos os cenários para reduzir o tempo de implantação — menciona o presidente.