Após 16 dias tomada por 45 deslizamentos de terra provocados pela chuva, a BR-470, entre Bento e Veranópolis, está sem pontos de bloqueios. A liberação da rodovia ocorreu nessa quinta-feira (16), quando a equipe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) conseguiu desobstruir o último bloqueio na cabeceira da Ponte Ernesto Dornelles, a Ponte dos Arcos, no lado de Veranópolis. Contudo, o trânsito no local seguirá bloqueado por tempo indeterminado.
No total cem profissionais atuaram na ação de liberação da rodovia. A maior parte das obstruções estava concentrada em 24 quilômetros – entre o quilômetro 178 em Veranópolis até o quilômetro 202 em Bento Gonçalves, próximo ao acesso para Tuiuty.
O Chefe de Serviços, Adalberto Jurach, que acompanha a situação in loco, detalha que os bloqueios foram ocasionados por diversos elementos: deslizamento de terra, detritos levados pela água, além de parte da pista totalmente destruídas. Nesses trechos, as equipes utilizaram terra e brita para criar um caminho que permitisse a passagem de maquinário e carros de segurança.
O trânsito segue bloqueado porque agora inicia a fase de estudos para a recuperação da rodovia. Serão necessários meses para que a estrada seja reconstruída.
— Nós já temos profissionais do setor de engenharia desenvolvendo anteprojetos para a rodovia. Depois, a partir do decreto de emergência do Dnit, emitido na semana passada, poderemos contratar empresas em situação emergencial para executar os projetos. As obras serão agregadas em lotes, sendo que cada empresa será responsável por desenvolver um desses lotes. Na prática, teremos diversos pontos com obras ocorrendo ao mesmo tempo. A expectativa é realizar essas contratações ainda em maio - explica.
Na semana passada, o Ministério dos Transportes liberou R$12 bilhões para a recuperação das rodovias atingidas pela chuva. Deste total, R$1,2 bilhão será utilizado pelo Dnit. Só o orçamento inicial de recuperação da BR-470 é de R$500 milhões. Os valores já estão disponíveis para uso.
Na próxima semana, as primeiras ações de recuperação já estão previstas. Conforme o chefe de serviços do Dnit, equipes contratadas antes do desastre acontece, estão atuando em soluções de engenharia.
Fluxo comprometido e impactos na economia
Importante via de ligação entre a Serra e o Norte do Estado, a BR-470 é o principal caminho para o escoamento da produção agrícola e industrial da região. Dados do Dnit indicam que antes da catástrofe, cerca de 7 mil veículos transitavam no local por dia, sendo uma parte substancial de caminhões.
Os reflexos na economia local já começam a ser sentidos. Em Veranópolis, empresas tiveram que parar a produção devido à falta de insumos ou o nível de estoque alto.
— Os materiais necessários na produção não chegam na cidade, ao mesmo tempo que o que é feito aqui não consegue sair. Nenhuma dessas empresas parou totalmente a produção, mas há pausas setoriais. Nesses casos, os colaboradores recebem férias — explica Rubia Pazzionata, presidente da Associação Comercial e Industrial de Veranópolis (ACIV).
Conforme ela, a perspectiva a longo prazo é que as empresas tenham perdas de 30% no faturamento. Ainda, Rubia prevê que comércios situados ao longo da BR-470 correm o risco de encerrar as atividades pela impossibilidade de manter os atendimentos. Além das tradicionais tendas, há restaurantes, postos de combustíveis, borracharias, entre outros empreendimentos na rodovia.
Para atenuar a situação e possibilitar a circulação de produtos e serviços uma via alternativa tem sido utilizada. A rota entre Vila Flores, Antônio Prado e Caxias do Sul está liberada e deverá passar por melhorias nas próximas semanas. De acordo com Rubia, os prefeitos das cidades vizinhas e meio empresarial estão trabalhando em conjunto para realizar as obras necessárias.
— É uma via limitada, com muitos trechos sem pavimentação, mas permite que caminhões de até 25 toneladas trafeguem. Com essas obras que estão previstas para ocorre, acredito que em 60 dias tenham um fluxo bem fluído — estima.
Ainda, paralelo a esse projeto uma força-tarefa de entre as Associações do Comércio, Indústria e Serviços da região, empresários e prefeituras deverão buscar recursos para reconstruir a ponte entre Bento Gonçalves e Cotiporã.
— Os municípios já estão se organizando para elaborar e aprovar projetos de lei que permitam a doação de valores da iniciativa privada para a reconstrução dessa ponte. A partir disso, teremos duas vias secundárias para diminuir o fluxo dos veículos até que tenhamos a BR-470 em condições de trafegabilidade — aponta
Contudo, a morosidade no fluxo dos materiais deverá encarecer o frete em R$50 por tonelada. Essa é o cenário que Carlos Lazzari, presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC), prevê para os próximos meses.
— Nós vamos ter uma circulação, uma logística muito mais demorada e com um custo muito maior. Entendo que vai demorar pelo menos três vezes mais para que alguma matéria-prima que viria de Nova Prata, Nova Bassano ou Veranópolis chegue aqui. Esses materiais terão que percorrer um longo caminho por Lagoa Vermelha, Antônio Prado, Caxias do Sul, Farroupilha até chegar aqui — detalha.
Segundo Lazzari, os repasses ainda não começaram a ser feitos, mas é uma questão de tempo até que a situação se acalme e os valores sejam cobrados. O reflexo será sentido não apenas por Bento Gonçalves e Veranópolis, mas por toda cadeia produtiva da Serra e das cidades que dependem dela.
— Acredito que o impacto maior seja em pequenos negócios, pequenas empresas que produzem matéria-prima de todos os gêneros, principalmente alimentos. Esse impacto seguirá até o ano que vem, porque antes disso dificilmente teremos a BR-470 reconstruída.