Morreu na última sexta-feira (12) o metalúrgico aposentado Elio Nogueira de Almeida, o último que ainda estava vivo dos 40 trabalhadores que colaboraram na fundição do Monumento ao Imigrante, em Caxias do Sul. Ele tinha 86 anos e deixa a esposa, Maria Adelaide Lahm de Almeida, e cinco filhos.
Elio não participou da inauguração do monumento, em 28 de fevereiro de 1954. Em uma reportagem do Pioneiro sobre o Dia do Trabalhador de 1º de maio de 2010, Elio contou que lembra de ter visto o então presidente Getúlio Vargas naquele dia, em um desfile da Festa da Uva.
— Não fui na inauguração. A gente não dava importância. Eu era um rapazinho e aquilo era coisa de autoridade — confessou, à época.
Uma foto com os trabalhadores que participaram da construção do monumento, recebida um tempo após a entrevista, fez com que Elio percebesse a importância do seu trabalho. Ele conseguia apontar no papel 15 ou 20 trabalhadores braçais que forjaram, na antiga Metalúrgica Abramo Eberle, a Maesa, o monumento idealizado pelo artista Antonio Caringi há sete décadas.
Um dos mais jovens funcionários da Maesa em 1953, Elio trabalhou na metalúrgica por cerca de dois anos. Ele optou pela fundição da Eberle porque a empresa era uma das mais importantes do país. Alguns meses depois de contratado, o chefe de setor trouxe a novidade.
— Chegaram peças de gesso e um italiano chamado Tito Bettini. Falaram que íamos fundir um monumento, mas eu não imaginava o significado, era só um guri — recordou, em entrevista ao Pioneiro em 2014, quando a estrutura completou 60 anos da inauguração.
Uma das funções de Elio era impedir a mistura de lascas de carvão no metal derretido, o que preservaria a matéria-prima. Para isso, ele colocava uma espátula na fornalha e retirava o material indesejado. Outra tarefa era manusear cera para formar moldes. O espaço seria preenchido mais tarde com o bronze liquefeito. Segundo o aposentado, a obra foi constituída por partes. Meses após a inauguração, ele deixou a Eberle e migrou para o ramo de joias e fotografia. Foi perdendo contato com os colegas e só visitou o Monumento esporadicamente.
Em 2018, em nova entrevista ao Pioneiro, Elio recordou do dia em que o prédio desocupado da Maesa foi doado ao município. Ele participou da solenidade, que ocorreu em 2014, no governo do ex-prefeito Alceu Barbosa Velho. Foi uma nova oportunidade para que o metalúrgico aposentado percebesse a importância do seu trabalho.
— Quando o prédio da Maesa foi doado ao município pelo Estado, eu estava lá ao lado dos netos do Abramo Eberle. O prefeito falou que eu era o único operário vivo que tinha construído o monumento. Eu levantei e me segurei para não chorar — recordou, emocionado.
Trajetória desde os 14, aliás, 13 anos
Na reportagem especial do Pioneiro em homenagem ao Dia do Trabalhador, publicada na edição de 1º e 2 de maio de 2010, a repórter Juliana Bevilaqua contou a trajetória profissional de Elio Nogueira de Almeida, à época com 72 anos. Confira um trecho:
"Elio começou a trabalhar muito cedo. Aos 14 anos, já era empregado da Metalúrgica Gazola, em Caxias. Na verdade, aos 13, porque, para poder ser admitido, a mãe alterou o ano de nascimento na certidão do filho, de 1937 para 1936.
— Minha mãe fez um 6 com caneta por cima do 7 — entrega.
Depois da Gazola e da Eberle, Elio partiu para outro ramo, o de joias. Aprendeu a fazer gargantilhas de ouro e, em 1960, chegou a realizar testes em uma fábrica do Rio de Janeiro. Mas nem quis saber do resultado. Recebeu uma proposta da Metalúrgica Fátima e ficou em Caxias. Quem gostou foi a noiva, Maria Adelaide Lahm de Almeida, com quem casou em 1961.
Depois de 16 anos de dedicação à Metalúrgica Fátima, montou seu próprio negócio. Em parceria com um irmão e um amigo, fundou a fábrica de máquinas Almeida, também destinada a confecção de gargantilhas e joias. A passagem pela Metalúrgica Abramo Eberle rendeu a Elio um emprego extra. Por meio de um colega, conseguiu uma vaga de operador de projetor do extinto Cine Ópera. O trabalho era à noite, durante a semana e nas tardes de domingo. Nos sete anos em que permaneceu no Ópera, foram muitas as películas projetadas, mas Elio ainda lembra da primeira, o filme brasileiro O Cangaceiro (1953, direção de Lima Barreto).
Anos depois, casado, Elio montou um estúdio fotográfico onde revelava filmes em preto e branco. A atividade durou até 1980."