Aos 76 anos, Elio Nogueira de Almeida é o único operário que restou do grupo de metalúrgicos responsáveis pela fundição do bronze empregado no Monumento ao Imigrante, em Caxias do Sul. Ele só percebeu a relevância dessa participação há pouco tempo, quando um conhecido entregou-lhe uma foto.
- Eu não dava muita importância, mas a foto mudou minha opinião sobre isso - reconhece.
A imagem eterniza funcionários da extinta Metalúrgica Abramo Eberle, conhecida como Maesa, nos idos de 1953. Elio aponta no papel 15 ou 20 trabalhadores braçais que forjaram o monumento idealizado pelo artista Antonio Caringi há seis décadas.
O aposentado era um dos mais jovens, e só permaneceu dois anos como contratado da empresa. Tempo mais do que suficiente para contribuir na montagem de um dos principais símbolos da imigração no Brasil. Elio optou pela fundição da Eberle porque a empresa era uma das mais importantes do país. Alguns meses depois de contratado, o chefe de setor trouxe a novidade.
- Chegaram peças de gesso e um italiano chamado Tito Bettini. Falaram que íamos fundir um monumento, mas eu não imaginava o significado, era só um guri - recorda.
Uma das funções de Elio era impedir a mistura de lascas de carvão no metal derretido, o que preservaria a matéria-prima. Para isso, ele colocava uma espátula na fornalha e retirava o material indesejado. Outra tarefa era manusear cera para formar moldes. O espaço seria preenchido mais tarde com o bronze liquefeito. Segundo o aposentado, a obra foi constituída por partes.
- O Tito Bettini era muito bom no que fazia. Usava um maçarico e talhadeira para finalizar o monumento. Era um trabalho artesanal impressionante.
A fundição durou aproximadamente um ano. Com o serviço concluído e a Festa da Uva se aproximando, houve alvoroço em torno da inauguração e da presença do presidente Vargas em Caxias. Elio ficou alheio às festividades e não participou da concorrida cerimônia em 28 de fevereiro de 1954, um domingo. Naquele dia, projetou filmes no antigo Cinema Ópera, um trabalho extra para garantir o rendimento da família.
Meses após a inauguração, ele deixou a Eberle e migrou para o ramo de joias e fotografia. Foi perdendo contato com os colegas e só visitou o Monumento esporadicamente. Na semana passada, a pedido do Pioneiro, Elio voltou ao monumento, mas não teve forças para subir a escadaria.
- Não consigo ver nada muito bem - lamenta.
O aposentado sabe que haverá uma cerimônia em homenagem ao aniversário da obra às 10h desta sexta-feira. Ele só tem dúvidas se o diabetes permitirá a sua participação.
- Se alguém me buscar em casa e me levar.... Se o tempo estiver bom, talvez eu vá.
Leia mais na edição impressa desta sexta-feira.
Memória
Aposentado revela como ajudou a fundir o Monumento ao Imigrante, em Caxias do Sul
Elio Nogueira de Almeida é o único operário que restou do grupo responsável pela fabricação da escultura
Adriano Duarte
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