Noites sem dormir, uma sensação constante de insegurança dentro do próprio lar e o sentimento de não poder mudar a situação. É dessa forma que moradores da Rua Borges de Medeiros, na altura do Estádio Alfredo Jaconi, se sentem nos últimos cinco anos. É o período em que passaram a conviver com um ponto de drogadição ao redor das próprias casas e prédios. Popularmente, o ponto é chamado de cracolândia, iniciando no Morro do Sabão e seguindo pelos muros do Mato Sartori. Os moradores continuam pedindo ajuda às autoridades, uma vez que o problema não foi solucionado.
Moradores que conversaram com a reportagem, e não serão identificados por motivos de segurança, lamentam que até tentaram deixar as próprias casas para livrar-se da situação. Porém, não conseguem vendê-las e nem imaginam quem aceitaria viver sob as mesmas condições. Eles se enxergam em um beco sem saída.
— Eu não sei mais como continuar a luta. Continua aquela mesma situação de perturbação e insegurança. E piorou. Agora, os vizinhos estão indo embora, porque eles não aguentam mais lutar. Eu já estou no meu limite. Faz 1.825 dias que eu não durmo direito — conta um morador.
A situação segue a mesma relatada em outras reportagens do Pioneiro. Não há registros de crimes, como assaltos, mas são tumultos, especialmente na madrugada, e o acúmulo de sujeira, que leva até a infestação de ratos. Além do medo, os moradores são incomodados com gritos e pedras ou objetos que são arremessados contra as casas.
— Se tu vai ali (na rua) olhar, os vidros estão todos quebrados. Até os vidros da caixa de luz quebraram. Eles jogam pedras entre eles, e a pedra se vai. E vem também garrafa de vidro — diz o morador.
Durante a noite, os moradores chegam a contar cerca de 20 pessoas na rua, inclusive com menores de idade que estariam consumindo drogas.
— Eles têm menos de 14 anos, com certeza. Fumando e no meio das coisas. Esses dias tinha uma grávida — descreve outra moradora.
O que dizem as autoridades
A reportagem procurou as autoridades para questionar quais medidas podem ser tomadas no ponto. O secretário de Segurança Pública e Proteção Social, Paulo Roberta Rosa da Silva, afirma que a Guarda Municipal segue com abordagens, especialmente em momentos de maior aglomeração.
— É bastante complexa a situação. Mas abordagens são feitas, diversas pessoas já foram presas ali, seja até em decorrência de ter mandado de prisões em aberto — afirma o secretário.
A secretaria percebe que a maior parte dos frequentadores deste ponto são usuários de drogas. Ao mesmo tempo, é notada a queima de fios, decorrente do furto do material, e até tráfico de drogas, mesmo que em menor quantidade. Silva chama a atenção ainda para o trabalho social realizado com ações como o Consultório de Rua, que além do atendimento à saúde, também pode funcionar como ponte para as pessoas que querem deixar essa situação. Porém, como nota Silva, a pessoa precisa querer aceitar a ajuda.
— Nós vamos continuar focando. Só que virou um ponto complexo. Porque tem toda essa situação da vulnerabilidade social. Mas, são pessoas que estão furtando e praticando. O planejamento é esse, vamos continuar fazendo operações ali — afirma o secretário.
Uma dificuldade é que não há como retirar as pessoas do ponto caso um crime não seja verificado.
Já a assessoria da Fundação de Assistência Social (FAS) afirma que realiza atendimentos no local, mas é identificado que o público encontrado é especialmente de usuários de drogas. Por isso, conforme a nota, a situação deve ser alvo de intervenção das políticas de saúde e segurança pública.
"Quanto ao referido, embora a FAS realize abordagens no local, considerando ser um público basicamente composto de usuários de substâncias psicoativas, trata-se de situação a ser alvo de intervenção das Políticas de Saúde e Segurança Pública", diz a nota.
O Ministério Público (MP) afirma que um inquérito civil sobre o tema ainda está em andamento. De acordo com a assessoria, o órgão se manifestará apenas ao fim dele. Enquanto isso, a assessoria de imprensa do 12º Batalhão da Polícia Militar (12º BPM) afirma que o comando não comentaria o tema por não ter agenda disponível.