Férias e feriadões prolongados são períodos em que, habitualmente, muitas famílias aproveitam para viajar. Algumas, além de organizar a saída, precisam pensar na estadia de familiares idosos que não podem acompanhar o passeio, mas que têm que ficar em algum lugar com assistência e segurança. É nesta hora que entram os profissionais que trabalham como cuidadores e as casas de repouso que oferecem hospedagem temporária. Empresas que atuam com os serviços confirmam que a demanda nestas datas, como é o caso do Carnaval, que começa nesta sexta (10) e vai até terça (13), aumenta consideravelmente na região da Serra.
Em duas empresas de atendimento domiciliar (home care) que atuam na região, por exemplo, a Anjos da Guarda e a Acuidar, de Caxias do Sul, o aumento nos feriadões é de cerca de 50%, podendo chegar a 100%, para contratação de cuidadores. Já o Hubb Residencial Sênior, que disponibiliza um serviço no bairro Petrópolis com infraestrutura de hotel para receber pessoas idosas, costuma registrar um aumento de até 10% na busca por estadia temporária em época de férias, feriadões e festas de final de ano (leia mais abaixo).
De acordo com o sócio proprietário da Anjos da Guarda Cuidadores de Idosos e Enfermagem Home Care, Ediney Jeferson Ferreira dos Santos, a empresa tem 150 funcionários na região que trabalham para atender a uma demanda que cresce entre 50% e 100% nos períodos de férias e folgas, com relação aos dias normais.
— A gente atende todos os públicos, de crianças a idosos, mas neste período de férias é mais comum o atendimento da pessoa idosa, que já não tem mais condições de viajar junto com a família. Nós trabalhamos de forma flexível. Quem determina a quantidade de dias e carga horária é o contratante — explica Santos.
Devido a essa flexibilidade, os valores também variam. Segundo Ediney dos Santos, o principal benefício para a família é que o profissional vai até a casa, não há necessidade de o idoso sair do conforto do lar. Para trabalhar na Anjos da Guarda, Santos explica que o interessado tem que possuir um curso profissionalizante e passar por uma seleção. A família contratante receberá a visita da direção da empresa e poderá selecionar o profissional que quiser para os cuidados.
Outra empresa que atua com serviço semelhante é a Acuidar Caxias, que também presta o serviço na casa da família. De acordo com o proprietário da franquia no município, Dilon Borges de Oliveira Neto, nos períodos de férias e feriados a procura por um cuidador cresce 40%. Além do atendimento em casa, a Acuidar tem profissionais que podem viajar com a família, caso seja necessário, ou ainda ficarem à disposição para o cuidado hospitalar.
A motivação para a busca também é diversificada. Há clientes que estão acamados, idosos com problemas psicológicos e também pessoas que são independentes, mas desejam um acompanhante para as atividades diárias.
— A gente visita a família e faz um contrato conforme a demanda. Nosso cuidador pode ficar oito horas (por dia) durante a semana, 12 à noite e também há a possibilidade de 24 horas por um período mensal. Há casos em que atendemos para um período curto de viagem de trabalho (dos familiares) e até clientes que precisam ir para o Exterior e ficar alguns meses — exemplifica Oliveira Neto.
O empresário comenta que a família, quando decide contratar um cuidador particular, precisa negociar as questões trabalhistas. Já quando adquire um serviço de uma empresa como a Acuidar, a própria companhia faz o pagamento e a contratação do profissional como microempreendedor individual e com todas as normas dentro das exigências legais. Na opinião de Oliveira Neto, essa modalidade de serviço também garante segurança jurídica ao familiar da pessoa idosa.
Alta de 10% em estadia temporária
Outra modalidade de serviço de cuidados para idosos que também está disponível ao público e costuma crescer a demanda em feriados é a estadia temporária. Segundo a gerente comercial da Hubb Residencial, Bruna Silva Santos, o aumento na busca é de até 10%. No local, o hóspede com mais de 60 anos tem a disponibilidade de receber visitas diárias, montar o quarto com os pertences pessoais e participar de atividades de lazer durante a permanência:
— Aqui ele é um hóspede, é como se estivesse em um hotel, com o diferencial de um atendimento especializado na saúde. A pessoa pode organizar o quarto como quiser, pode trazer pertences pessoais que as deixem mais cômodas. A intenção é passar confiança — diz a gerente Bruna Silva Santos.
Professor, técnico em contabilidade e ex-vereador de Caxias do Sul (1973 a 1976), Walter Bridi é um dos hóspedes da Hubb Residencial. Aos 85 anos, ele mescla períodos temporários com fixos na casa de repouso, saindo e voltando sempre que desejar.
Os filhos Adriana Carla Bridi, enfermeira, e Marco Valério Bridi, economista, costumam viajar e também ocupam-se diariamente com trabalho. O pai decidiu que não os acompanharia sempre nas viagens e procurou um local reservado para permanecer na cidade quando fosse necessário. A perda da companheira também foi importante para a decisão.
— A minha companheira com quem tive um relacionamento por 16 anos morreu há quatro anos, parei de dirigir e caí numa rotina. Durante uma viagem, ano passado, ao Rio de Janeiro, conversei com minha filha e decidi que queria morar em uma casa de repouso, me sentir mais cômodo, então, faz nove meses que estou aqui — conta o morador.
Na Hubb, Bridi já montou o próprio quarto, no terceiro andar, com pertences pessoais. Nas paredes, há títulos que recebeu ao longo da carreira na área da agricultura e como vereador em Caxias do Sul. Além de quadrinhos com as fotos da mãe, dos filhos e netos. O hóspede, que já teve programas de rádio e na televisão do município, também carrega consigo a máquina de escrever que foi instrumento de trabalho por muitos anos.
Nascido em Galópolis, Bridi criou-se em Caxias do Sul, estudou no Murialdo, em Ana Rech. Ao longo dos anos formou-se técnico em contabilidade e foi professor na área da agricultura. Participou e ajudou a fundar movimentos sindicais na região, como a Frente Agrária Gaúcha. Atualmente, com uma rotina mais tranquila, levanta cedo, por volta de 5h30min, toma banho e lê o Pioneiro na hospedagem. Três vezes na semana, às 8h, toma o café da manhã e aguarda sentado na sala de estar ou na sacada de seu quarto para, às 10h, fazer a fisioterapia.
— Eu sou independente, faço tudo sozinho, uso a bengala só por uma questão de segurança. Quando cheguei aqui, não conseguia me servir. Agora já me viro sozinho. O que seria de nós sem estes funcionários — afirma Bridi.
Fisioterapeuta da casa de repouso, Andressa Rodrigues de Oliveira explica que moradores como Walter fazem fisioterapia em grupo e, em alguns casos, de forma individual. No caso dele, foi recomendado fazer atividades para a parte motora. Já outros hóspedes, principalmente os acamados, têm fisioterapias relacionadas a força, equilíbrio e na questão respiratória. A profissional faz uma avaliação em cada caso.
A gerente Bruna Santos explica ainda que a Hubb recebe pessoas temporárias ou residentes divididas em graus de dificuldades: grau 1 (independente), grau 2 (com níveis de confusão mental) e grau 3 (acamados e dependentes). A casa disponibiliza acompanhamento com médico de diversas especialidades e nutricionista para uma dieta diferenciada a cada hóspede. Há passeios e atividades de lazer. Bruna salienta que é grande o percentual de hóspedes temporários que com o tempo optam por morar no local de forma fixa.
— Devido ao contato com as demais pessoas, com atividades e por causa dos cuidados que a gente oferece, o hóspede (temporário) se sente mais confortável e fica animado para vir a morar aqui. Melhora a saúde psicológica do idoso — garante Bruna.
A casa hoje passa por reformas de ampliação. O prédio, localizado no bairro Petrópolis, tem quatro andares, sendo que três já estão ocupados com área de jardim, salas, espaços de convivência, refeitório e dois andares com quartos. No segundo andar ficam pessoas acamadas. No terceiro, pessoas como Bridi, que tem mais independência. O quarto andar está sendo preparado para receber mais hóspedes e ter uma sala específica para fisioterapia. Atualmente, 65 idosos estão na Hubb. Após a reforma, a capacidade passará para cem hóspedes mensal.