A concessão das rodovias estaduais da Serra gaúcha e do Vale do Caí completou um ano na última quinta-feira (1), marcando uma mudança de fase na execução do contrato. Desde fevereiro do ano passado, a concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) deveria cumprir com os chamados trabalhos iniciais. Eram basicamente correções de problemas emergenciais, como eliminação de buracos, reforço de sinalização e limpeza de sistemas de drenagem. Outro compromisso era iniciar a prestação de serviços, como socorro médico e mecânico.
O fim do prazo de trabalhos iniciais dá início à fase de recuperação e investimentos nas rodovias, em que estão previstas as duplicações de diversos trechos da malha concedida. É também agora que terá início a cobrança integral de pedágio, com a ativação dos novos pórticos de free flow. Para que a CSG possa ativar os novos pontos de tarifação, porém, o Estado precisa aprovar o trabalho realizado até agora. Essa análise já está em andamento.
Para o Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra), que coordenou as discussões públicas para implantação da concessão, o trabalho desenvolvido no primeiro ano atendeu às expectativas. A presidente da entidade, Mônica Mattia, avalia que houve melhoria significativa nas rodovias incluídas no contrato. Além disso, ela lembra que a concessionária precisou lidar com os eventos climáticos extremos, que causaram bloqueios.
— Hoje percebemos que a rodovia tem dono e que este dono da rodovia, que também são os próprios usuários que pagam pelos serviços que são prestados, está cumprido cumprindo com aquilo que foi contratualizado e, portanto, há sim um grau de satisfação importante, uma vez que hoje é possível trafegar com muito mais segurança, obviamente pagando por uma tarifa de pedágio. É importante destacar que nós gostaríamos de ter as estradas no padrão que estão e ainda, obviamente, muito melhores, sem pagar pedágio, mas nós já podemos fazer uma comparação entre as estradas concedidas e as não concedidas em nossa região e verificamos que de fato o governo do Estado não tem tido capacidade para manter o mesmo padrão — avalia.
O prefeito de Nova Roma do Sul e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), Douglas Pasuch, também avalia positivamente a situação das estradas após um ano.
— Pelo que a gente tem andado nas rodovias e tem conversado com os prefeitos, as estradas estão em condições, teve esses investimentos que são iniciais, não teve nada de duplicação, nada de investimento mais sério. Acho que o modelo que se buscou, está sendo realizado. Nós vamos chegar agora naquele momento dos investimentos de maior valor, então nós, como Amesne, como prefeitos, temos que ficar em cima para que esses investimentos aconteçam — observa.
Reajustes e novos pontos de cobrança
Apesar das melhorias, o anúncio do reajuste das tarifas atuais e definição dos valores no novos pontos de cobrança gerou reclamações de quem utiliza as rodovias. O reajuste pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é previsto em contrato para ocorrer anualmente no aniversário da concessão. Além disso, fatores como o cumprimento das exigências do período também pesam na definição. Caso algum investimento deixe de ser executado, por exemplo, o reajuste será menor do que o previsto. Já a conclusão de uma duplicação acarretará em incremento no valor da tarifa, uma vez que a quantidade de faixas a serem mantidas será ampliada.
— Entendemos que essa contrariedade dos usuários seja do cidadãos, seja dos profissionais que trabalham nas mais variadas modalidades, é algo muito natural tendo em vista um histórico da concessão dos anos 1990 que foi muito negativa em nossa região. Eu acredito que a partir do momento em que todos os usuários que mais utilizam a rodovia perceberem as melhorias, perceberem a segurança da iluminação da sinalização, da ausência de buracos e, especialmente, quando iniciarem as obras de duplicação, acho que isso vai acabar se diluindo. Mas é muito natural que ocorra essa contrariedade da sociedade, porque os usuários estão cansados de pagar tributos e de não terem serviços compatíveis — observa Mônica Mattia, que acredita que no médio prazo a diminuição de custo com o free flow pode resultar em redução tarifária.
Aporte de cerca de R$ 1 milhão por quilômetro
Ao longo do primeiro ano, a CSG aportou R$ 220 milhões em melhorias e R$ 50 milhões na operação das rodovias. Considerando o valor total, foram cerca de R$ 1 milhão para cada um dos 271,5 quilômetros administrados pela concessionária. O investimento incluiu a aplicação de 105 mil toneladas de asfalto-borracha e modificado com polímero, que são considerados os de maior resistência e durabilidade. Atualmente, as equipes finalizam o recapeamento e implantam a nova sinalização, com pintura e material refletivo. Além disso, foram realizados:
- Roçada, limpeza, capina, poda baixa em 26.067.840 metros quadrados
- Limpeza, nivelamento e instalação de quase 10 mil placas de sinalização
- Recolhimento de 140 toneladas de resíduos ao longo malha rodoviária
- Poda alta em 543 mil metros
- Limpeza, pintura e desobstrução de drenagem em 70 obras de artes especiais (pontes e viadutos)
- Instalação de mais de 150 guarda-corpos em pontes, passarelas e viadutos
- Instalação de mais de 18 mil metros de barreiras de proteção
- Desobstrução e recuperação de drenagens de 4,8 mil vias
- 5.787 atendimentos mecânicos, como pane elétrica, troca de pneu e guincho
- 1.308 emergências médicas com ambulância
- Construção de cinco bases de atendimento para descanso e apoio aos clientes (Ipê, Flores da Cunha, Farroupilha, Bom Princípio e Capela de Santana)
- Construção do Centro de Controle Operacional para monitoramento dos 271,5 quilômetros de concessão
Na quinta-feira, dia 1º de fevereiro, o diretor-presidente da CSG, Ricardo Peres, avaliou a atuação da empresa em entrevista ao programa Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra. Confira abaixo os principais pontos:
Primeiro ano de concessão
— A gente fez um trabalho de drenagem e de sinalização, tanto horizontal quanto vertical, com placas e pinturas no chão. Resolvemos também a questão da drenagem da rua, tanto a superficial quanto a profunda. Também fizemos a construção de cinco bases operacionais. A avaliação é boa, cumprimos com o que estava no contrato.
Situação das rodovias
— A situação era bem complicada na RS-287, no Vale, na região de Montenegro, na RS-122, em Antônio Prado, na RS-446, entre Carlos Barbosa e São Vendelino. Essas eram as piores rodovias, tanto que a gente priorizou a atuação nelas assim que assumimos.
Melhorias na sinalização
— A sinalização horizontal é a última fase. Enquanto você não recuperou o pavimento, não tem como fazer a sinalização. Mas ela está sendo feita nesse momento, estamos passando pelas últimas fases da pavimentação e a sinalização vai ser concluída em breve. Na RS-122, por exemplo, entre Caxias do Sul e Farroupilha, vai ser colocada aquela taxa que fica acesa durante a noite. Na RS-453, entre Farroupilha e Bento, já está colocada. O que era obrigatório nesse primeiro ano já foi concluído. Até o final de fevereiro, 100% da nossa concessão vai estar com essas tachinhas autorrefletivas.
Prospecção para o segundo ano de concessão
— Nesse segundo ano, começamos a trabalhar com a implantação de acostamentos, possivelmente na RS-122, em Antônio Prado, onde estão as situações piores. O local exato ainda tem que ser estudado. Também vamos começar a atuar nas obras de pontes e viadutos. Teremos que fazer a implantação da parada de caminhoneiros, o local ainda está sendo estudado, mas tem que ser construído nesse ano. No fim do último trimestre é quando devem começar as obras de grande porte. Teremos de entregar a duplicação do contorno de Caxias do Sul e a duplicação da RS-453, entre Farroupilha e Bento Gonçalves.
Novo traçado para a curva da morte na RS-122
— O trecho da Curva da Morte está programado para ser entregue no quarto ano da concessão. Até lá, vamos fazer um trabalho paliativo porque não tem sentido você fazer um investimento que daqui a pouco vai ser perdido. A solução que vai ser adotada ali ainda não está definida. É uma pista nova que tem que ser construída para corrigir essa curva.
Avaliação do primeiro mês de free flow
— O primeiro pórtico de Antônio Prado completou um mês e meio de operação e percebemos que, a cada dia que passa, diminui a inadimplência dos motoristas que passam ali. A expectativa agora, quando os outros cinco entrarem em operação, é que se mantenha esse cenário.
Novos pórticos
— Isso está com o poder concedente (governo do Estado). Imaginamos que vai ser no mês de fevereiro porque é o mês limite que nós temos para colocar em operação esses outros cinco pórticos. Imagino que nos próximos dias deve ter alguma definição.
Contenção em encostas
— As principais encostas que dão problema ficam na RS-122, entre Farroupilha e São Vendelino, ou na RS-470. Nesse momento não serão feitas intervenções, ao menos que seja identificado algum problema e, por meio de estudo que a gente faça antecipadamente, uma contenção paliativa. Mas a correção definitiva só vem com a duplicação.
Encostas da RS-122, em Antônio Prado
— Naquela região, vamos ter que mexer com o acostamento, mas isso só no segundo ano. Acredito que nesses projetos que vão ser feitos ali, pode ser feito o acompanhamento um pouco mais aprofundado dos taludes, que estão ao lado do acostamento que vai ser implantado.