Às margens de Cotiporã, no interior da Serra, uma estrutura destaca-se no Rio das Antas. Por mirantes, bem posicionados ao lado da Estrada Morro do Céu, curiosos e turistas podem avistar a Usina Hidrelétrica 14 de Julho. Na última quarta-feira (24), imprensa e representantes da Defesa Civil de municípios da região foram convidados a conhecer internamente o funcionamento da barragem e os procedimentos de segurança, a pedido do órgão de Lajeado. Em setembro, durante as inundações que atingiram o Vale do Taquari, as três hidrelétricas administradas pela Cia Energética Rio das Antas (Ceran) foram alvo de notícias falsas de que teriam influenciado no nível do Rio das Antas.
Já na época, a reportagem ouviu a concessionária e especialistas em recursos hídricos que concluíram que as usinas não têm como alterar o fluxo do rio. Durante a visita, além de orientações repassadas a representantes da Defesa Civil, a direção da Ceran reforçou sobre como é o funcionamento da estrutura, que é do modelo fio d'água, que utiliza a força da correnteza do Rio das Antas para gerar energia. Isso significa que a usina funciona sem precisar estocar água, diferentemente das hidrelétricas tradicionais, que necessitam que grandes áreas sejam alagadas para garantir a produção energética. Também informaram sobre as diretrizes de segurança, que seguem a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), estabelecida pela Lei Federal 12.334.
— Por mais que seja nossa intenção ser colaborativo, este tipo de usina não foi feito para isso (segurar água). Nós queremos contribuir com o que está ao nosso alcance e responsabilidade para melhorar o sistema de comunicação. Mas ao mesmo tempo existem limitações técnicas que precisam ser esclarecidas — afirma o diretor-executivo da concessionária, Eric Volf.
O regramento prevê monitoramento das estruturas das usinas e planos de ação em caso da possibilidade de rompimento — o que é praticamente impossível de ocorrer, garante a direção.
O diretor-executivo declara ainda que as barragens da Serra não possuem pendências com a legislação. Além disso, a concessionária diz que segue com investimentos na casa de milhões para cumprir as medidas — os valores exatos não foram divulgados.
— Nós temos como prioridade a preservação da segurança dos nossos colaboradores e comunidade. A preservação da vida, pra nós, não tem preço — afirma Volf.
A Usina 14 de Julho
Na Serra, as três usinas hidrelétricas da Ceran estão estruturadas no Rio das Antas. Juntas, geram energia para mais de 650 mil famílias da região. Seguindo a correnteza, a Usina 14 de Julho é a última represa entre as três. Inaugurada em 2008, a barragem tem uma potência instalada de 100 MW.
Além da represa, que pode ser vista por mirantes em Cotiporã, a estrutura é formada pela casa de força, onde a energia é gerada após a queda da água. Durante a visita, a reportagem pôde subir na plataforma montada sobre o rio (veja no vídeo acima). Dali, percebe-se o funcionamento da estrutura.
Como o nível do rio estava normal durante a visitação, a água ficava parada na barragem. Pelo modelo da estrutura, o fluxo seguia com a passagem dela pelo vertedouro. Do mesmo ponto, as comportas podem ser vistas. Elas são abertas apenas em casos em que o nível do rio ultrapasse a parte superior da barragem, chamada de crista. A abertura é feita para não comprometer a estrutura da barragem — essa ação também não tem como influenciar no nível da água.
Como destacou Volf, já na plataforma, pelas características da usina também pode-se ver que a estrutura não tem condições de segurar a água:
— Nunca vamos conseguir reter a água que está chegando.
Assim como nas outras barragens da Ceran, a 14 de Julho tem uma equipe para manutenção. As três também são monitoradas por uma central de operações que fica na UHE Monte Claros. O monitoramento conta com sistemas de alertas e dados de toda a estrutura, inclusive automatizados. Além disso, inspeções semestrais são feitas, conforme a concessionária. A lei nacional exige uma revisão anual.
Plano de ação de emergência
Conforme a concessão, as responsabilidades da Ceran limitam-se à área em que estão as barragens. Dentro disso está o Plano de Ação de Emergência (PAE), que deve ser mantido sempre em atualização com os municípios da Serra. O protocolo orienta para uma evacuação em caso da possibilidade de rompimento de uma das usinas, com sistemas de alertas e sirenes. Até como prevenção são feitas simulações periódicas com as comunidades próximas às estruturas.
O diretor-executivo da concessionária reforça que estas são medidas de prevenção para uma situação que deve nunca ocorrer:
— O plano visa principalmente uma situação de um eventual risco da barragem. Ele não visa uma situação para grandes afluências. A barragem não controla a vazão do rio. É claro que temos confiança de que é uma situação (rompimento de barragem) que nunca vai acontecer. É exatamente por isso que as usinas são projetadas de forma bastante segura — garante.