Em entrevista ao Gaúcha Hoje na Rádio Gaúcha Serra na manhã deste sábado (20), a presidente da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), Maria de Lourdes Fagherazzi, admitiu que existem falhas na coleta de lixo em Caxias do Sul. De acordo com Maria de Lourdes, as lacunas no atendimento são causadas principalmente por problemas na frota de caminhões. Veículos antigos ou danificados por materiais indevidamente descartados nas lixeiras seletivas, além do alto volume de resíduos após as festas de final de ano, ocasionaram o acúmulo de lixo observado entre o fim de 2023 e o início deste ano, segundo a presidente da Codeca.
Maria de Lourdes afirma que as equipes da Codeca atuam, diariamente, com uma média de 20 caminhões nos bairros de Caxias, sendo que a estrutura ideal seria de 25 veículos. A solução que está sendo buscada desde o ano passado pela empresa é a aquisição de cinco novos caminhões. Um será destinado à coleta de lixo orgânico e quatro serão usados para os resíduos seletivos dos contêineres amarelos.
Emergencialmente, a Codeca faz a locação de um caminhão para auxiliar na frota, além de disponibilizar equipes aos domingos. A ação, que não está prevista no contrato de prestação de serviço com a prefeitura (ou seja, a empresa faz por conta própria, de acordo com Maria de Lourdes), começou no último domingo (14) e será feita mais uma vez neste final de semana.
Na entrevista, a presidente da Codeca também falou sobre os serviços de capina que estão sendo feitos pela cidade, e abordou as contas da empresa, que teve prejuízo em 2021 e 2022, mas há a expectativa de bons resultados para 2024.
Confira a entrevista
Alessandro Valim: A Codeca tem tido mais dificuldade na coleta de lixo nas últimas semanas?
Maria de Lourdes: Essa percepção é verídica. Claro, existem regiões da cidade que estão com a coleta em dia. Estamos com alguns problemas pontuais em alguns bairros, em algumas rotas. Começou um pouco antes do Natal a quantidade absurda de lixo, de resíduo que foi colocada nas ruas, foi algo que surpreendeu a todos. Inclusive, eu falava com funcionários que tem mais de 20 anos da Codeca que reportaram nunca ter visto uma situação assim. É natural, é normal que ao se aproximar as festas de fim de ano, o volume aumente. Mas, como foi esse ano, foi uma coisa muito atípica. Nos chamou muita atenção a quantidade de móveis, de colchões, de mudanças inteiras nas calçadas. Isso é um fato novo no histórico da coleta em Caxias.
Alessandro: Nessas últimas semanas, são muitas reclamações da coleta seletiva na área dos bairros. O que houve nesse setor? Houve déficit da Codeca neste atendimento?
Nosso problema principal reside nos caminhões, na frota. Não é novidade para ninguém que a nossa frota é muito antiga e vai se desgastando. Com o alto volume, por exemplo do final do ano, também o caminhão que rodou mais, que teve a prensa mais prejudicada pelos móveis, pelo tipo de material que a gente recolheu, acaba tendo desgaste do próprio caminhão. E por que é o seletivo que dá mais problema? Se eu tenho falta de caminhão, a prioridade sempre vai ser o orgânico, porque o orgânico por si só é um material que não pode ficar na rua. Então se temos, vamos supor, cinco rotas para cumprir, e estamos com quatro caminhões, a rota que vai ficar de fora é a do seletivo. Então, obviamente, o problema fica mais concentrado nas rotas onde tem o seletivo. Nós precisamos fazer renovação da frota, e para isso nós precisamos de investimentos. É uma série de fatores, né? Final de ano, teve um desgaste maior dos caminhões por conta do tipo de material seletivo que a gente coletou, tem um desgaste normal dos caminhões, é um somatório de fatores que infelizmente culminam com isso. Outro fator que também prejudica. No período de final de ano, início de ano, existe uma dificuldade às vezes de conseguir peças. Muitas vezes o fornecedor ou está de férias ou está com o seu quadro diminuído, e uma peça que ele entregaria em dois dias ele demora 10 para entregar. A tendência, daqui pra frente, é que a gente vá equalizando e melhorando.
Nosso problema principal reside nos caminhões, na frota. Não é novidade para ninguém que a nossa frota é muito antiga.
MARIA DE LOURDES
Presidente da Codeca
É possível fazer a renovação da frota?
Estávamos negociando um financiamento junto ao Badesul para fazer a renovação da frota. Infelizmente, este trâmite burocrático demorou um pouco mais do que a gente previa, porque nós precisávamos do aval da prefeitura, e por si só a prefeitura também tem as suas dificuldades. Mas em novembro foi encaminhado pela prefeitura esse pedido para a Câmara, que de pronto nos atendeu e aprovou a lei autorizando que a prefeitura seja avalista desse financiamento. Desde novembro, nós iniciamos todos os trâmites para fazer a aquisição de um rol enorme de equipamentos. Antes disso, já no ano passado nós autorizamos a aquisição de um novo caminhão de coleta orgânica automatizada, aquela dos contêineres, e outros quatro caminhões que fazem a coleta do seletivo. Quinta-feira (18) foi aberto o pregão, e recebemos quatro propostas, e estamos no processo de finalização da aquisição desses quatro caminhões. O caminhão para o lixo orgânico tem data prevista de entrega para 20 de março, e as equipes estão negociando com o fornecedor para antecipar a entrega. Paralelo a isso, nós temos uma parte da frota que está locada desde 2022, e entramos em contato com o fornecedor para ver a possibilidade de locarmos mais um caminhão. Eles aventaram positivamente com isso, e na próxima semana estaremos fazendo as negociações para que venha mais um.
Paula Brunetto: Qual é a frota atual de caminhões da Codeca?
Nós precisamos de 25 caminhões para fazer os turnos. Manhã e tarde precisa de mais, à noite e madrugada menos. Mas no pico da necessidade seriam 25 caminhões, e tem dias que eu tenho 20 para rodar, 21, até 19 dependendo do dia. Não quer dizer que sempre a gente não vai fazer um roteiro, à medida que eles voltam, a gente manda a equipe. Muitas vezes, a equipe vai até o bairro que ficou de fora e faz uma parte, e não dá tempo de terminar. E não ficam até terminar porque justamente tem o outro turno que precisa começar. Então existe essa programação que precisa ser cumprida. Estamos com um déficit de quatro caminhões, cinco dependendo do dia.
Alessandro Valim: Quais ações de emergência estão feitas para solucionar estes problemas?
Vem esse caminhão locado. Desde a outra semana, autorizamos as equipes a fazerem o trabalho aos domingos. No domingo passado teve coleta o dia inteiro, então a gente zerou a deficiência em alguns bairros que tinham ficado para trás, e já está autorizado que amanhã (21) também seja feito isso. A ideia é que o bairro que ficou para trás durante essa semana, vai ser feito (a coleta) amanhã. É uma situação emergencial, até porque hoje o nosso contrato junto à prefeitura não prevê a coleta aos domingos, e nós estamos fazendo justamente para poder dar conta dessas questões. Tivemos reuniões com as lideranças especificamente do grupo da coleta para ver outras alternativas de remanejo de equipes, ou de como fazer para amenizar essa questão de quando um bairro fica para trás. Estamos agora redefinindo a organização do departamento de limpeza urbana, que é o responsável pela coleta dentro da Codeca. A gente entende que esse somatório de fatores tendem a melhorar significativamente a prestação de serviço.
Paula Brunetto: Quais os problemas que vocês estão enfrentando em relação à capina no município?
Eu gostaria muitíssimo de dizer que eu tenho a solução, mas não. A capina não consegue ser efetivada em dias de chuva, e como todos nós sabemos choveu mais do que fez sol nesse último semestre. O problema da capina em relação à chuva não é só o dia que ela não é feita, mas o fato de chover tanto faz com que o mato cresça muito rapidamente. Quem tem um pátio, um gramado, percebe isso. É como se a chuva nos prejudicasse em dobro. Em relação à nossa produtividade, em termos de pessoas, daquilo que a gente sai para fazer, a gente nunca roçou tanto. Nós estamos já desde 2023 fazendo uma análise técnica e de viabilidade, inclusive financeira, sobre a capina elétrica, que vem se apresentando como uma possível solução. Vamos ver nos próximos dias se a gente consegue organizar pelo menos um teste, para ver se efetivamente é uma solução. Vai ser uma solução a médio, longo prazo, mas a tendência é que o mato demore muito mais para crescer, se é que ele vai crescer, porque a capina elétrica dá um choque na raiz do mato.
Alessandro Valim: A equipe da Codeca não está subdimensionada?
Sim e não. De fato, há uns dois anos, estávamos com déficit grande na quantidade de pessoas. Eu não tenho o número exato, mas nós já chamamos mais de 30 capinadores. Então a gente foi redimensionando a equipe, porém a dimensão da equipe também passa pelo contrato que a prefeitura tem conosco. A prefeitura tem enfrentado seríssimos problemas orçamentários, então mesmo que a prefeitura quisesse colocar mais 200 capinadores na rua, hoje ela não teria condições orçamentárias para bancar esse contrato. Final de março devemos estar concluindo o concurso para essas atividades, aí em condições de chamar mais capinadores. A gente trouxe mais pessoas, temos feito esse movimento, mas com as nossas limitações.
Paula Brunetto: Como está a situação financeira da Codeca hoje? Como ela está preparada para 2024?
Eu assumi a gestão em março de 2022, e em dezembro de 2021 a Codeca fechou com R$ 6,5 milhões de prejuízo. Com algumas alterações contratuais que fizemos ao longo de 2022, conseguimos fechar com R$ 2,5 milhões de prejuízo. Ainda prejuízo, mas não existe milagre. E o balanço de 2023 não está fechado ainda, mas nós já estamos bastante adiantados neste processo de fechamento. A tendência é que o resultado seja muito melhor do que foi em 2022, porque esse é o fruto do trabalho de dois anos de reequilíbrios de contratos. A Codeca é uma empresa e o município contrata esta empresa para prestação de serviço. Estes contratos estavam congelados nos seus preços há cinco, seis anos. Então nesse período o custo operacional da empresa aumentou e o contrato ficou congelado, não tinha como dar outro resultado que não fosse prejuízo. Mas com todos esses reajustes, a previsão de financeira para 2024 é muito melhor.