No dia 4 de novembro de 1948, as primeiras páginas do Pioneiro chegavam às mãos dos leitores de Caxias do Sul. Inicia-se ali uma história de 75 anos que acompanhou o desenvolvimento da Serra gaúcha, pautada por um jornalismo atento às causas comunitárias.
As mais de sete décadas de trajetória são marcadas por transformações, não só da região, como do próprio periódico. O primeiro nome foi "O Pioneiro", mas ele também se chamou "Pioneiro do Sul" e "Diário do Pioneiro" até 1952, quando recebeu, em definitivo, o nome que se tornou uma marca da região. As páginas ganharam cor a partir de maio de 1993, poucos meses depois de o jornal ser adquirido pelo Grupo RBS. Lançado em 2008, nas comemorações dos 60 anos do jornal, o site possibilitou que as notícias do Pioneiro não tivessem mais fronteiras, alcançando leitores em qualquer lugar do mundo.
A estrutura também evoluiu: o primeiro exemplar, de 16 páginas, desenvolvido em três saletas, na Rua Dr. Montaury, ganhou mais espaço e diferentes endereços com o passar dos anos. A mudança mais recente e significativa ocorreu há cinco anos, quando a equipe de jornalistas e as áreas administrativa e comercial deixaram o prédio na Rua Jacob Luchesi, no bairro Santa Catarina, e foram integradas à estrutura da RBS TV e da Rádio Gaúcha Serra, na área central.
A mudança de endereço também representou um novo momento para o jornalismo do Pioneiro: as redações do jornal, da rádio e da televisão começaram a atuar de forma mais colaborativa e conectada, formando a redação integrada do Grupo RBS na Serra. Um trabalho multimídia que traz mais agilidade, qualidade e pluralidade aos produtos entregues aos leitores, ouvintes e telespectadores.
Para a diretora-executiva de Jornalismo e Esporte do Grupo RBS, Marta Gleich, o Pioneiro produz jornalismo de qualidade que é vitrine para toda a Serra:
— É um orgulho para a RBS que o Pioneiro esteja fazendo 75 anos. São poucas as marcas que chegam a essa data tão importante. E o Pioneiro, para nós, é uma das marcas mais lembradas da Serra, se unindo à nossa redação integrada, com a RBS TV, a Atlântida e a Rádio Gaúcha.
AO TEU LADO
Entre tantas trajetórias publicadas em quase 15 mil edições, o Pioneiro acompanhou o drama de uma imigrante haitiana em busca dos três filhos na terra natal. Eles ficaram cinco anos separados após a mudança dela para o Brasil.
A nova vida de Monette Esperance
Estar ao lado das pessoas significa também contar a história delas. O jornalismo humanizado, solidário e que é capaz de transformar vidas é uma característica do Pioneiro. Um exemplo é o da imigrante haitiana Monette Esperance, 35 anos, moradora de Caxias do Sul. O jornal acompanhou o drama dela, entre os anos de 2016 e 2018, em busca dos três filhos que estavam no Haiti. Ela ficou cinco anos sem vê-los após a mudança para o Brasil.
O reencontro da mãe com os filhos Adjy, 15, Djodly, 16, e Betchnaille, 13, teve diversos capítulos até chegar ao “final feliz”. A primeira dificuldade foi financeira. Sem recursos, Monette teve ajuda do Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) para criar uma vaquinha online no fim de 2016. O valor em mãos, no entanto, não foi garantia de agilidade. Os transtornos nos anos seguintes envolveram outros empecilhos, como mudanças na lei de migrações e, até mesmo, a necessidade de correção da certidão de nascimento de um dos filhos, cujo nome estava com a grafia errada.
Os problemas foram superados e, na tarde de 30 de novembro de 2018, Monette finalmente desembarcou com os quatro filhos em Caxias do Sul – a caçula, Monalisa, é caxiense e tinha três anos quando conheceu os irmãos.
Quase cinco anos depois da última reportagem, o Pioneiro reencontrou Monette. As crianças se desenvolveram em Caxias, se expressam bem em português e estão com os estudos encaminhados, para alegria da mãe, que já planeja uma carreira como médica para Monalisa.
— A coisa que eu mais quero para os meus filhos é que eles estudem — ressalta Monette.
A saudade de quem ficou e o desejo para o futuro
A vida da imigrante haitiana, que veio sozinha para o Brasil em 2013 em busca de melhores condições, também se transformou. Monette saiu do aluguel e conquistou a casa própria no bairro Esplanada.
Ela e o marido administram uma pequena loja na área central do município e, agora, voltam as expectativas para a chegada do quinto filho.
Eu estou muito, muito feliz, porque meus filhos estão comigo, eu estou bem. Sinto muita alegria pelo tanto que a minha vida mudou
A alegria evidenciada por Monette também se mistura com um sentimento de gratidão a todos que contribuíram para reunir a família no Brasil:
— Se meus filhos estão comigo hoje, foi graças à ajuda do jornal e ao pessoal do CAM (Centro de Atendimento ao Migrante) — enfatiza Monette.
Para o futuro, o desejo é de trazer os pais e os irmãos que ainda moram no país caribenho, que ela não vê pessoalmente desde 2018, quando embarcou para o Haiti para buscar os três filhos.
— A saudade aperta — finaliza ela, emocionada.
COMUNIDADE
As demandas da região ganharam voz e visibilidade nas páginas do Pioneiro. A reportagem relembra algumas realizações importantes que tiveram acompanhamento ao longo de anos e o que seguirá sendo prioridade para a redação.
Da Rota do Sol ao Aeroporto da Serra Gaúcha
Abraçar as causas da comunidade, como defende o Pioneiro desde a sua fundação, permitiu que os projetos importantes para o desenvolvimento da Serra fossem noticiados desde as primeiras discussões até a sua conclusão, gerando visibilidade e debates.
Ainda na década de 1950, o Pioneiro ressaltava a importância da construção de uma estrada que ligasse a região com o litoral gaúcho — a chamada Rota do Sol, como batizou o ex-governador Euclides Triches. Repórteres e fotógrafos acompanharam o passo a passo da construção da rodovia, um desafio para a época, principalmente a partir da década de 1970, quando a obra iniciou. Uma demanda atendida em 2007, ano em que a obra foi concluída após mais de quatro décadas, em e que os moradores puderam, enfim, ir para a praia em um caminho totalmente asfaltado.
Mas o ganho obviamente seria muito maior. Em fevereiro de 1972, a manchete do Pioneiro destacava a real importância da estrada: escoar a produção da região da Serra ao longo de 170 quilômetros entre Caxias do Sul e Terra de Areia. Na época, conforme noticiado pelo jornal, a promessa era a construção de um porto em Torres, o que não se concretizou, mas que hoje ganha ainda mais sentido quando as lideranças da Serra se mobilizam para viabilizar um terminal marítimo em Arroio do Sal.
Sem as rodovias, não teríamos progresso. A Rota do Sol foi uma luta histórica de toda a Serra gaúcha e impactou fortemente, não só nos municípios da região, mas em toda aquela população no entorno
— Sem as rodovias, não teríamos progresso. A Rota do Sol foi uma luta histórica de toda a Serra gaúcha e impactou fortemente, não só nos municípios da região, mas em toda aquela população no entorno da Rota do Sol. Se formos analisar, os municípios limítrofes à rodovia apresentam crescimento extraordinário, tanto do ponto de vista econômico como social. Na Serra, encurtamos a nossa distância ao litoral e também à BR-101, que é a grande rodovia do escoamento de cargas, de pessoas e que fomenta o turismo — observa o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, Celestino Loro.
Pelo ar e pelo mar: o futuro da infraestrutura da região
Além da Rota do Sol, o Pioneiro também acompanhou o passo a passo de importantes obras, como o início das obras para a implantação do Aeroporto Hugo Cantergiani, em 1953; a construção da Rua Sinimbu, em maio de 1963; e a inauguração da Estação Rodoviária, em 1975, chamada na capa do Pioneiro na época como “a mais moderna do interior”.
Ao mesmo tempo que olha para o passado, o Pioneiro também acompanha as iniciativas que preparam a região para o futuro. Desde a década passada, lideranças da Serra se dedicam na construção de um aeroporto em Vila Oliva, ferramenta para escoamento da produção e ponto de entrada de turistas para a região. A previsão é de que a licitação seja lançada ainda neste ano, com obras previstas para começarem em 2024 e que os primeiros voos possam ser autorizados em até cinco anos.
Se o futuro é pelo ar, o desenvolvimento também passa pelo mar.
— A movimentação de cargas que vai ocorrer no porto tem origem e destino na Serra. É a nossa região que exporta e que consome produtos importados. Vamos ter uma conexão com todo o Brasil e todo o mundo, barateando o nosso custo logístico. Temos um ônus nisso e o porto representa oportunidades de negócios. Nem cogitamos, mas ali poderá atracar navios de passageiros, movimentando o turismo na região Uva e Vinho, Campos de Cima da Serra e Gramado, Canela — afirma Loro.
Para o empresário, a comunicação é fundamental para a transparência das iniciativas.
— A boa comunicação decide qualquer coisa. Se tivermos um bom projeto, bem comunicado, ele vai ter sucesso. Um bom projeto mal comunicado não vai prosperar. Até os projetos ruins bem comunicados conseguem êxito. E o jornal Pioneiro, me parece, faz um trabalho extraordinário da boa imprensa. Ela tem esse papel fundamental de gerar convencimento daquelas pautas que são necessárias, sem tendenciar para lado A ou B, mas mostrando o que precisa ser feito — ressalta.
Monumento para resgatar o espírito da imigração
Na coluna publicada em comemoração aos 70 anos do jornal, em novembro de 2018, o jornalista Rodrigo Lopes lembra que o Monumento Nacional ao Imigrante não representou somente um marco para a cidade, mas também para a primeira década de existência do Pioneiro. A ideia de uma obra que comemorasse os 75 anos da colonização italiana, aliás, teve a participação fundamental do jornal.
A coluna recorda que em 30 de dezembro de 1948, Luiz Compagnoni, deputado e proprietário do Pioneiro, lançou a ideia em editorial. Ele tratava a obra como “símbolo de veneração àqueles que, em lutas ingentes e sacrifícios constantes, nos legaram um patrimônio moral e material invejável para qualquer outra cidade e outro povo”.
A pesquisa do jornalista relembra que entre muitas possibilidades sobre como seria o monumento (arco, bloco monolítico, estátua), parecia consenso a ideia de um casal de pioneiros: jovens, corajosos, representando um “sinal de união dos que habitam Caxias, de qualquer origem”. Para que se concretizasse, falava-se da necessidade da união de forças “produtoras”: governo, intelectuais e imprensa, o que acabou mobilizando toda a sociedade.
Os trabalhos para execução do monumento iniciaram em fevereiro de 1951 e a inauguração ocorreu três anos depois, em 28 de fevereiro de 1954, com a presença do presidente Getúlio Vargas. A estátua de bronze tem cinco metros de altura e pesa cerca de três toneladas. O casal está vestindo trajes da época da imigração (entre 1875 e 1885). Eles representam o espírito e os ideais dos imigrantes que superaram as dificuldades e construíram uma nova pátria.
Construção e ampliação do Hospital Geral
Planejada desde o fim da década de 1980, a abertura do Hospital Geral (HG), em 1998, representou um marco para a saúde pública da Serra gaúcha. A capa do Pioneiro de 19 de março daquele ano lembrava que a construção da estrutura era uma demanda de mais de 30 anos e a inauguração, adiada por três vezes, agora era “para valer”. Os serviços foram implantados por etapas, com atendimento inicial às gestantes e aos recém-nascidos do Sistema Único de Saúde (SUS).
– O hospital cresce e atinge a sua maturidade de 25 anos agora, em 2023, como uma referência regional e até estadual em alguns em alguns serviços. Mostra uma bela história de uma união da comunidade que transforma o hospital nessa potência que é hoje – ressalto o diretor do HG, Sandro Junqueira.
O cenário da saúde pública da Serra gaúcha mudou desde a instalação do hospital. A ampliação dos leitos tornou-se uma necessidade e um projeto começou a ser discutido nas esferas municipal, estadual e federal por volta de 2011. Uma obra, contudo, que se arrastou por anos. A construção teve início apenas em 2014, sofreu com pausas e falta de recursos até chegar à esperada entrega iniciada em 2023 – até o momento, foram entregues 55 leitos na ala nova e reativados 15 na estrutura original. O restante (63) depende da garantia de mais recursos financeiros para entrar em funcionamento.
Uma demanda da saúde com impacto regional, acompanhada pela imprensa desde o começo e que ocupou inúmeras edições do Pioneiro ao longo dos anos.
A minha relação com os jornais, especificamente com Pioneiro, é muito boa. Acho que é uma relação de confiança
— Estou aqui há 15 anos e a minha relação com os jornais, especificamente com Pioneiro, é muito boa. Acho que é uma relação de confiança, na qual jornal tem o seu objetivo, que é mostrar as informações, que é cobrar as informações, mas de uma maneira muito responsável — reconhece Junqueira.
A ocupação da Maesa
Ajudar a preservar a história da Serra ao mesmo tempo que planeja o futuro é uma das atribuições do Pioneiro em seus 75 anos. A ocupação do complexo da Maesa, em Caxias do Sul, é um exemplo disso. A antiga Fábrica 2 da Metalúrgica Abramo Eberle, inaugurada em 1948, foi doada ao município em dezembro de 2014. A doação, entretanto, não representou a ocupação imediata dos prédios. Pelo contrário: o assunto se desenrola até hoje, quase 10 anos depois, tendo acompanhamento de perto do jornal.
Em 3 de agosto de 2019, por exemplo, a reportagem principal do Almanaque ressaltava que, cinco após a municipalização do prédio, pouco havia avançado. O conteúdo destacava que, até então, o complexo havia recebido apenas o Departamento de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural e a central de monitoramento da Guarda Municipal. As etapas mais recentes do projeto, de 2022 até o momento, envolveram diversas discussões: empresas foram contratadas para realizarem estudos sobre os modelos de ocupação do prédio e foram realizadas audiências e uma consulta pública.
Os novos capítulos sobre a ocupação do complexo, entretanto, apresentam um revés e tiveram olhar atento tanto da reportagem do Pioneiro quanto do colunista Ciro Fabres: em setembro, a prefeitura revisou o projeto original, que previa uma concessão patrocinada para todo o complexo, e apresentou uma proposta de concessão comum para o Mercado Público e espaços adjacentes, em que o parceiro investe na recuperação e remunera com um valor mensal de outorga. E, na alteração principal, o governo concordou em uma ocupação por etapas, começando pelo Mercado Público, cuja inauguração é esperada para 2025.
— Nós estamos muito entusiasmados. É uma sequência a essa série de ações que já foram feitas relacionadas à Maesa. Agora, teremos os próximos passos relacionados à concessão do mercado público nesses próximos meses e, junto a isso, avaliaremos propostas para novas ocupações para além da concessão. A ideia é que a gente consiga avançar sempre tendo como direção o plano de diretrizes e diagnósticos que demonstrou as vocações de cada espaço para que a gente possa otimizar e fazer com que isso se torne realidade — enfatiza a secretária municipal da Cultura, Cristina Nora Calcagnotto.
Dupla Ca-Ju e muito mais
O esporte caxiense e também da região, em todas as modalidades e com muitas personalidades que surgiram ao longo dos anos, sempre foi prioridade para o Pioneiro. As páginas eternizaram as conquistas e também os reveses da dupla Ca-Ju em coberturas históricas da editoria de esportes do jornal.
Os trunfos de Caxias e Juventude ganharam coberturas e capas memoráveis. Em 1998, o Alviverde foi campeão gaúcho. Em 1999, na conquista da Copa do Brasil, o Pioneiro "vestiu" o Cristo Redentor com as cores alviverde após o empate do Juventude em cima do Botafogo em pleno Maracanã lotado — resultado que garantiu a taça histórica após vitória no jogo de ida, em Caxias. Ao longo dos anos seguintes, o Pioneiro acompanhou a ascensão do time no cenário nacional, a queda para a quarta divisão e o retorno à elite do Campeonato Brasileiro no fim da década passada, entre outros.
Já o Caxias ganhou a principal página do Pioneiro na conquista do Campeonato Gaúcho em 2000, quando o time grená segurou o Grêmio em Porto Alegre e fez com que a festa dos torcedores incendiasse uma madrugada gelada na Serra ou neste ano, com o acesso do Caxias à Série C do Campeonato Brasileiro.
Mas não é apenas o futebol que recebe atenção especial do Pioneiro. Há quase 40 anos, por exemplo, Caxias começava a viver os seus "anos dourados" no futsal com a saudosa equipe da Enxuta. O mesmo vale para o vôlei caxiense, que em 2010 disputou a elite da modalidade com a Superliga Masculina de Vôlei com o time da UCS.
Em 2022, houve grande esforço para trazer aos leitores os detalhes de um evento inédito no Rio Grande do Sul. Surdoatletas de todas as partes do mundo se encontraram em Caxias para a Surdolimpíadas.
Nos últimos anos, o jornal destacou o surgimento do Caxias Basquete, que leva o nome da cidade para a elite do basquete brasileiro. E também nomes como o tenista caxiense Marcelo Demoliner, que recentemente conquistou ouro e prata nas disputas de duplas do tênis no Pan-Americanos de Santiago, no Chile.