Rua Júlio Calegari, bairro Esplanada, 13h05min desta sexta-feira. Poucos caxienses assistiram à cena, mas os que passavam apressados para o trabalho, por exemplo, observavam com curiosidade o que acontecia ali. Naquele momento, a haitiana Monette Esperance, 30 anos, desembarcou em Caxias do Sul com os quatro filhos.
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Foram cinco anos de espera para que a mãe pudesse apresentar o novo lar — modesto e simpático — aos três filhos que viviam no Haiti. Monette chegou nesta sexta após uma maratona de viagens para buscar no país caribenho os filhos Djodly, 12 anos, Adjy, nove, e Betchnaille, oito, que não via há cinco anos, desde que veio morar em Caxias. Monalise, de três anos e nascida em Caxias, também viajou para conhecer os irmãos e o restante da família que vive naquele país.
— Minha família não sabia que eu estava indo lá. Quando desci do carro, todo mundo levou um susto. Ninguém acreditava, foi muito emocionante — detalha Monette.
A viagem de volta iniciou no fim da manhã da quinta-feira, por volta de 12h no Haiti, cerca de 15h daqui. O voo partiu de Porto Príncipe, capital e maior cidade do Haiti, e teve escalas no Panamá e no Rio de Janeiro. A família, enfim, desembarcou às 10h30min desta sexta, no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
— Foi difícil porque trouxemos bastante bagagem. E com crianças, sempre é mais complicado — resumiu Monette.
Vizinhos do bairro Esplanada se organizaram para buscar a família na Capital. Na chegada em Caxias, as crianças demonstravam certa inquietação e estranhamento com o novo lar. Monette conta que, apesar dos esforços da mãe dela, Djodly, Adjy e Betchnaille viviam em condições bastante precárias. A fome, que deve ficar para trás neste novo capítulo que a família irá construir, segue assolando a vida dos parentes que restaram no Haiti. E é por isso que a sensação de alívio ao ver os filhos descobrindo os cantinhos da nova casa em Caxias não era completa.
— Minha mãe ficou muito triste quando viemos embora. Não é uma situação boa lá. Meus filhos não estavam bem vivendo lá também — afirmou.
Além de simbolizar a peregrinação de muitos imigrantes para rever familiares após tentarem vida nova no Brasil, Monette é exemplo da solidariedade dos caxienses. Foi por meio de contribuições de toda a comunidade que ela arrecadou o dinheiro para custear as passagens e os documentos necessários para a permanência dos filhos no Brasil. A vaquinha conseguiu arrecadar cerca de R$ 24 mil.
— Agradeço a todo mundo que ajudou e apoiou nessa campanha. Um beijo a todo mundo, vou convidar todo pessoal para uma festa que quero fazer — diz, adiantando o desejo de celebrar os 13 anos de Djodly com uma grande comemoração em janeiro.
— Esta é uma conquista de muitos — resume irmã Maria do Carmo dos Santos Gonçalves, responsável pelo Centro de Atendimento ao Migrante (CAM), entidade que auxiliou Monette na vaquinha virtual e ofereceu suporte jurídico para a viagens das crianças.