Uma equipe de engenheiros e geólogos de Porto Alegre estará em Gramado nesta segunda-feira (20) para analisar a situação do município, fortemente afetado pela chuva do final de semana. Na noite de domingo (19), o bairro Três Pinheiros precisou ser evacuado após o surgimento de rachaduras no solo.
Além deste local, a comitiva deve percorrer outros locais, como o bairro Várzea Grande e o interior do município, que tem movimentação do solo e erosão. O prefeito Nestor Tissot afirma nunca ter visto situação semelhante e diz que a visita dos profissionais é uma das medidas para garantir a preservação de vidas.
— Precisamos saber qual a gravidade, se precisamos retirar mais pessoas de outros locais. Eles vão nos dizer o que deverá ou não ser interditado — comenta o prefeito.
No bairro Três Pinheiros, uma rachadura de 150 metros de largura por um metro de profundidade é a maior preocupação, na Rua Ladeira das Acácias. A terra está em movimentação e, segundo a prefeitura, há chance de desabamento. Um prédio foi diretamente atingido e também apresenta risco de queda.
As mais de 150 pessoas que moram no bairro estão sendo orientadas a irem para casa de parentes e amigos. Na manhã desta segunda, a Defesa Civil confirmou que todas já não estão mais no local. Quem não tem opção está sendo levado pela Defesa Civil para o ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Senador Salgado Filho, no bairro Piratini. Até o final da noite deste domingo, 38 pessoas foram realocadas.
— Estamos notando que, desde domingo, o solo segue cedendo. A preocupação é com a previsão de mais chuva nos próximos dias — diz o comandante da Defesa Civil do município, Cassio Júnior.
Cachorrinha alegra moradia improvisada
Quem entra no ginásio da Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Salgado Filho, em Gramado, logo é recepcionado pela elétrica e alegre cachorrinha Luse. Ela pertence à família de imigrantes venezuelanos Galea Cordero, que buscou o abrigo no final da manhã desta segunda-feira (20), após sair de casa, no bairro Piratini.
Morando na Serra há quase dois anos e trabalhando como recepcionista em uma pousada, Rina Galea, 30 anos, conta que a família saiu de casa no domingo (19), porque o local fica às margens de um barranco que corre o risco de desabar. Na primeira noite, ela, os três filhos — Christopher, 13, e as gêmeas Sofia e Nicole Flores, 11 — e o marido, Javier Cordero, 27, ficaram no local onde Rina trabalha. A pousada, entretanto, também foi interditada por estar em zona de risco.
Sem alternativa, a família se juntou às outras 38 pessoas que haviam passado a noite no ginásio.
— Eu escutei o pessoal informar que um prédio mais em cima estava caindo e que em qualquer momento iria vir tudo em cima da gente. Mas, tipo assim, fiquei mais nervosa por causa do barulho, porque era tipo uma explosão, sabe? — conta Rina.
A decisão de sair de casa foi aceita por todos. E ninguém ficou para trás. Pela manhã, enquanto Rina e Cordero arrumavam as coisas, as três crianças brincavam com Luse.
— Só Deus sabe o que vai acontecer — desabafa a recepcionista.
As mais de 150 pessoas retiradas de casa, em dois bairros de Gramado — Três Pinheiros e Piratini — não têm previsão de retornar para suas casas. Até o momento, a Defesa Civil municipal não aconselha voltar às moradias nem para retirada de pertencentes.
— Precisamos agora preservar vidas — afirma o comandante da Defesa Civil de Gramado, Cassio Júnior.