Para comemorar o aniversário de 75 anos, a série Gavetas da História promove o reencontro de personagens que marcaram a trajetória do Pioneiro com antigas fotografias e jornais. Confira:
Em 1991, a comunidade da pequena localidade de São Marcos da Linha Feijó, em Caxias do Sul, viveu momentos inesquecíveis junto a estrelas da televisão brasileira. Em maio daquele ano, as gravações do especial O Caso do Martelo, da Rede Globo, baseado na novela policial de José Clemente Pozenato, trouxeram à região o renomado ator Lima Duarte, que interpretou o delegado Pasúbio, e o diretor Paulo José.
A ideia da gravação do especial veio durante as preparações para a gravação do filme O Quatrilho, que mais tarde, veio a concorrer ao Oscar, maior prêmio do cinema, de Melhor Filme Estrangeiro, em 1996.
— O Antônio Calmon, que produziu o filme, veio a Caxias para conhecer o ambiente e as pessoas. Conversando com ele, dei a ele O Caso do Martelo para ler. Ele leu aqui mesmo e disse que ia fazer do livro um especial na Globo — relembra o autor José Clemente Pozenato.
Um pouco depois dessa primeira conversa, Pozenato viajou ao Rio de Janeiro para tratar do roteiro e das gravações. Nesse dia, o diretor da Globo Daniel Filho disse que os diálogos estavam prontos para serem gravados.
— Ele me disse que eu sou um bom dialoguista! Programamos a gravação do especial e quem foi escalado para dirigir foi Paulo José. Ele veio para cá e já trouxe com ele o Lima Duarte e membros da equipe. Eles quiseram percorrer os arredores de Caxias para escolher o local das gravações — conta.
As gravações duraram menos de uma semana, mas marcaram a memória de quem fez parte do momento. Além de estrelas nacionais, atores caxienses, do grupo Miseri Coloni, também participaram do especial. As gravações de O Caso do Martelo foram o impulso necessário para que, mais tarde, O Quatrilho virasse uma grande obra do cinema nacional:
— Pra mim, foi um sinal de que o que eu estava escrevendo ia ultrapassar as fronteiras da região, da imigração italiana, do Rio Grande do Sul e alcançar o país inteiro, como alcançou. Quando O Caso do Martelo foi exibido na televisão, teve cerca de 20 milhões de espectadores no Brasil. Isso acabou criando um clima favorável para a produção do filme O Quatrilho, porque já sabiam quem era o autor.
Além do trabalho, uma relação de parceria
Com o fim das gravações, a equipe celebrou o sucesso do trabalho. Para isso, se reuniram no salão de festas do prédio em que Pozenato morava e comemoraram com um bom churrasco e, claro, vinho de garrafão, clássico da Serra gaúcha. O autor relembra que, na imagem acima, Paulo José servia vinho em seu copo, demonstrando que, além de colegas de trabalho, os dois também tinham uma relação de parceria:
— Era eu quem estava recebendo ele e ele me serviu. Mas criamos essa relação fraternal. Nós trocamos também um brinde. Foi realmente uma confraternização.
Mudança de pensamento
O reconhecimento e a amizade fortaleceram também o nome de Pozenato para o Brasil. O que antes era retratado como comédia, depois da influência do autor e de Paulo José, passou a ser tratado com seriedade.
— Foi uma versão da colônia italiana muito fidedigna, porque, no Sudeste, filme com italiano tinha que ser filme cômico, com palhaçada. Mas esse aqui não. Foi um caso sério, um drama, filmado sem exageros, simplicidade e quase documental. Respeitando vestimentas e cenários que a produção observou andando pela região — comemora o autor.
O Caso do Martelo
- A obra foi lançada em 1985
- A novela policial ganhou adaptação para a TV e foi ao ar em 4 de junho de 1991, pela Rede Globo
- Na trama, o delegado Hilário Pasúbio, interpretado por Lima Duarte na TV, chega a Santa Juliana para investigar a morte do morador Mansueto Gamba, assassinado a marteladas na cabeça. Aos poucos, o investigador descobre que todos no lugarejo de origem italiana possuíam pretextos para o crime.
José Clemente Pozenato
- É escritor, tradutor e professor.
- Em suas obras, explora o cenário e as tradições da colonização italiana no Rio Grande do Sul.
- Além de "O Caso do Martelo", também escreveu "O Quatrilho", obra adaptada ao cinema, que concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1996.