Um cenário de destruição e de reconstrução é encontrado por quem chega nesta terça-feira (5) a Nova Bassano, um dos municípios da Serra mais atingidos pela forte chuva dos últimos dias. Após a água entrar nas casas, levar lama e destruir móveis e objetos, os moradores se reúnem agora para limpar os espaços para poder voltar a conviver após o susto. A estimativa mais recente é que 350 pessoas tenham sido afetadas pelas fortes chuvas.
Uma das regiões que mais sofreu é a Vila Bassanense, atingida pela cheia do Rio Carreiro na madrugada de segunda-feira (5). O carro da família da cozinheira Silvana Maria Defendi, 49 anos, foi parar dentro da piscina. A água do rio invadiu o porão da residência e deixou ela, o esposo e os três filhos, de 11, 15 e 26 anos, ilhados.
Com uma das filhas com crise de ansiedade, eles precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros com a ajuda de um bote. Passaram a noite na casa de familiares em Nova Bassano e retomaram para a residência nesta manhã.
— Os bens materiais a gente conquista de novo, agrademos por estarmos vivos, não ter acontecido nada com os vizinhos. Estava chovendo, mas o rio estava tranquilo. Eu não sei o que aconteceu, foi muito de repente, abri a janela de madrugada e a água tinha tomado conta de tudo e entrou no porão. O que deu pra erguer a gente ergueu — relata.
O rio começou a baixar ainda na noite de segunda-feira e voltou a subir minutos depois, o que levou mais preocupação entre os moradores. Nesta terça-feira, o rio estava volumoso, com forte correnteza, mas dentro do leito, sem invadir os espaços.
Além da água e da sujeira, que chegaram na altura de sofás e armários, portões das casas também foram arrancados, postes caíram e até o paralelepípedo das ruas saltaram.
A aposentada Lizete Reginato, 65, que viu a casa ser invadida pela água na segunda, ainda se recupera do susto. O local no início desta manhã estava tomado pela lama e vizinhos auxiliavam na limpeza com rodos.
A localidade está sem o abastecimento de água potável e sem energia elétrica, o que torna o trabalho ainda mais difícil. Além de lamentar a perda dos móveis, Lizete não conseguiu salvar a cachorrinha da família, uma yorkshire:
— Foi muito rápido. Choveu e subiu. Eu via isso na televisão e nunca imaginei que podia acontecer comigo, com a minha família. É muito difícil ver tudo sujo, tomado pelo barro, pela lama. É doído.
Um decreto de situação de emergência foi assinado na segunda-feira (4) pelo prefeito Ivaldo Dalla Coste (PP). Apesar do número de afetados, nenhuma família precisou de abrigo da prefeitura e todos se organizaram em casas de amigos e familiares. Um caminhão com doações de colchões, cobertores, produtos de limpeza e alimentos chegou ao município vindo de Porto Alegre.
A ponte que liga Nova Bassano a Serafina Corrêa está interditada e o município tenta reunir esforços para desobstruir a ponte.
— Estivemos nas casas na beira do Rio Carreiro e o cenário é muito triste. Estamos tentando mobilizar o que temos para ajudar as pessoas — conta.
As aulas da rede municipal e estadual foram suspensas nesta segunda e seguem canceladas na terça (5). Com isso, de acordo com a prefeitura, mais de mil alunos, estudantes de seis escolas, estão sem aula.
“Uma história que se foi com a água”, diz morador afetado pela chuva
Quem mora em Nova Bassano conta que nunca tinha visto a água do rio subir tanto como agora. No máximo, a água chegou na borda do leito, como conta o aposentado Raul de Conto, 78 anos. O porão da casa dele ficou totalmente alagado e a água chegou até o teto do local. Ele também precisou se abrigar no segundo andar da residência, onde mora com a filha.
Além disso, o portão de ferro da casa foi arrancado com a força da correnteza.
— Mais difícil do que ver a água invadindo foi ver o que restou depois que a água desceu. Perdi todos os meus móveis, uma história que se foi com a água. Eu nunca tinha visto isso em mais de 50 anos — conta.
A tranquilidade era tanta que a Natana Zampieron, 24 anos, criava galinhas bem próximo das margens do Arroio Sabia, que é vizinho da casa dela. Quando a água baixou, após a enchente, o galinheiro foi parar cerca de 100 metros da residência. A plantação de hortaliças também foi perdida.
Apesar do susto, ela auxiliava os vizinhos, muitos deles circulando com rodos, baldes e produtos de limpeza para retirar a lama das casas.
— Perto dos vizinhos, o meu estrago foi pouco. Por isso tenho tentado ajudar — conta.
Segundo a Defesa Civil, a Vila Bassanense foi a mais afetada, com 80 casas atingidas pela água. Outro ponto atingido foram moradias que ficam às margens do Rio Carreiro, no bairro Navegantes. Por lá, foram 70 registros de danos provocados pela enchente.
Morador do local, o aposentado Avelino Felipe Chiela, 74 anos, também foi socorrido durante a madrugada de segunda-feira (4) pelo Corpo de Bombeiros após ficar ilhado.
— Sensação ruim, de depender da ajuda para sair de casa. Hoje, eu consigo pensar um pouco, mas foi bem complicado — afirma.
É ali que fica a ponte que liga Nova Bassano a Serafina Corrêa, que está interditada. A proteção lateral foi danificada e galhos e árvores foram parar no meio da ponte. Com isso, não há como acessar o município vizinho.
O município também busca donativos para auxiliar as famílias. Cestas básicas foram doadas, além de cobertores e colchões. Doações são bem-vindas e podem ser entregues na prefeitura de Nova Bassano.
Ainda não há estimativa dos prejuízos causados pela chuva. A prefeitura disse que está em contato com a Rio Grande Energia (RGE) para reestabelecer a energia elétrica nas comunidades. Além disso, caminhões e patrolas trabalham auxiliando na limpeza das ruas e manutenção das estradas.
— É um trabalho que aos poucos vamos fazendo para que todos possam retornar para suas casas — afirma o prefeito Ivaldo Dalla Coste (PP).