A chegada de dias mais longos não irá obrigar, pelo quinto ano consecutivo, os brasileiros a adiantarem seus relógios. A indicação é do Ministério de Minas e Energia, que avaliou não ser necessário, até o momento, implementar o horário de verão em 2023. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os níveis de Energia Armazenada nos reservatórios só não devem se manter acima de 70%, no mês de setembro, na região Nordeste.
Os argumentos embasam a recomendação dada ao governo Lula para que não adotasse novamente a prática de adiantar os relógios durante os meses mais quentes. Criado na década de 1930 com o objetivo de reduzir o consumo de energia elétrica, aproveitando por mais tempo a luz natural do sol, o horário de verão se tornou um incentivo ao lazer nos fins de tarde ao longo dos anos. Na última vez em que esteve em vigor, entre 2018 e 2019, a medida teve início em 4 de novembro e fim em 17 de fevereiro.
Na sexta-feira (22), a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) enviou uma carta ao governo federal manifestando o apoio à retomada da medida e apresentando os benefícios que a decisão traria ao setor. No documento, a entidade afirma que o horário de verão gera impacto direto no faturamento com incremento entre 10% e 15%.
A pedido do Pioneiro, o Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria (Segh Uva e Vinho) realizou uma enquete entre os associados que acompanham a opinião da entidade nacional. Em nota, a diretoria detalha a posição dos estabelecimentos:
"A maioria dos empreendimentos do setor é favorável ao horário de verão, principalmente quem oferta happy hour. O fluxo aumenta e dá oportunidade aos negócios criarem programações para o período. Mas, para alguns, dependendo da operação, o horário não influencia, pois mantém o horário normal de atendimento e seguem o fluxo e logística já estabelecida."
Donos de bares enumeram vantagens
A projeção de faturamento calculada pela Abrasel pode ser ainda maior quando calculada por bares que atendem o público que sai direto do trabalho em busca de diversão. É o caso do La Birra, que abre às 17h e, segundo o sócio-proprietário Guilherme Cenci, pode faturar até 30% a mais quando o relógio está adiantado:
— Se o tempo está bom, a pessoa não vai pra casa, acaba indo fazer um exercício ou indo a um bar para aproveitar mais o dia. Caxias é industrial e tem esse horário padrão das pessoas saírem por volta das seis da tarde. Então, acabamos girando mais o bar, enchendo mais cedo e faturando até 30% mais. Quando escurece mais tarde as pessoas vão pra casa, se arrumam e o movimento começa depois das 20h. Perdemos até três horas de venda sem horário de verão — explica.
No entanto, para quem iniciou a operação depois que a medida foi extinta pelo governo Jair Bolsonaro, em abril de 2018, a mudança nos hábitos de consumo durante o horário de verão não foram percebidas. É o caso do Salvador Brewing, que mantém três bares em Caxias e percebe a clientela chegar no início da noite.
— No nosso negócio, no final da tarde, sempre tem alguém, mas o pico é entre oito e nove da noite. É um pouco cultural da cidade, mas pessoalmente acho o horário ótimo, o dia fica mais extenso — opina Leonardo Salvador, sócio-proprietário do bar.
Com ou sem adiantar o relógio, a logística dos empreendimentos não se altera segundo os proprietários e, por isso, uma hora a mais de luz solar só tende a beneficiar os negócios. O raciocínio é da sócia-proprietária do Restaurante Sebastiana, Manuela Zatti, que mesmo tendo jantares como carro-chefe aproveitaria a fatia de happy hour oportunizada pelo horário extinto em 2018.
— Não faz diferença, não gera hora extra. Para mim, é só benefício, e pelo tanto que tivemos de tarifa vermelha nos últimos anos na conta de energia, eu não acho que economizar seja uma coisa ruim. Acho que a vida fica mais legal, demora uma semana para se ajustar em acordar mais cedo, mas acostuma — opina Manuela.
Inaugurado em novembro do ano passado, a estrutura que avança à área de estacionamento na Avenida Júlio de Castilhos permite que os clientes do Maria da Toca fiquem na calçada. No entanto é preciso de dias ensolarados e quentes para que o deck ganhe clientela. Nesta quinta-feira (28), depois de um longo período sem dar as caras o sol se pôs perto das 18h30min dando lugar à noite e fazendo com que o consumo se concentrasse na área interna do bar.
— Horário de verão faz falta, o faturamento aumenta. O deck, por exemplo, ainda não viveu o que ele proporciona. Pessoal gosta e quer ficar na rua, para o bar seria muito bom que voltasse — afirmou Mariana Zanotto, uma das proprietárias.
Em 2022, Lula, então candidato à presidência, abriu uma enquete em sua rede social perguntando pela preferência do brasileiro quanto ao assunto. Com cerca de 2,3 milhões de votos, o resultado, à época, foi favorável ao retorno da medida: 66,2% queriam de volta, enquanto 33,8 eram contrários.
Happy hour mantido
O hábito de sair do trabalho e jogar conversa fora sentado à mesa é mantido por consumidores que procuram os estabelecimentos com ou sem horário de verão. É logo após a carga horária ser cumprida que as colegas Joslaine Scopel, 35 anos, e Joice Holzchuh, 39, relaxam no Kerwald, em uma das esquinas do bairro Exposição.
— Não faz diferença, não precisa ter o horário pra procurar o lazer. Pros bares é fato que é melhor, porque tu sai do trabalho e ainda é dia — disse Joslaine.
Para Joice, é a segurança de uma cidade mais movimentada e iluminada que se reflete com a medida sendo posta em prática:
— Em se tratando de Caxias é melhor, a gente se sente mais segura. Eu prefiro horário de verão e não me importava em me adaptar quando era preciso adiantar o relógio.
Na outra ponta da mesa, a chef de cozinha Bruna Cipolatto, 30, cita outra vantagem:
— É uma hora a mais até pra secar roupa. Fico fechada o dia inteiro no trabalho, quando saio, quero ver sol — disse