Após a enchente que destruiu 50 casas, Santa Tereza se recolhe para o levantamento dos danos e o cadastramento dos moradores que precisarão de novos móveis e eletrodomésticos. São mais de 380 pessoas afetadas pela cheia do Rio Taquari, registrada na noite de segunda-feira (4).
Nas ruas do município de 1,7 mil habitantes o cenário é bem diferente daquele presenciado assim que as águas do rio recuaram e centenas de voluntários aproveitaram o feriadão de 7 de setembro para prestar solidariedade e trabalhar de diferentes formas.
Pela manhã, dois caminhões deixaram a cidade com as caçambas repletas de entulhos, os últimos que foram retirados da frente das residências atingidas. Auxiliados por um caminhão pipa, funcionários da prefeitura de Cotiporã faziam a limpeza das ruas e moradores buscavam o salão paroquial, que funciona como um centro de distribuição de donativos, para retirar marmitas que serviriam de almoço,e rações doadas para cães e gatos.
Na prefeitura, o trabalho era de contato com os moradores afetados e reuniões que irão determinar as próximas etapas da reconstrução do município. Com o Ginásio de Esportes lotado de doações, a administração municipal agiliza a distribuição para criar espaço e iniciar o recolhimento de eletrodomésticos e móveis.
— Somos muito gratos a todos que colaboraram, estamos bem abastecidos com os itens básicos e, inclusive, não temos mais espaço para armazenar. Estamos encaminhando esses donativos para depois arrecadar materiais de construção, por exemplo. A cidade está praticamente atendida — disse a secretária da Fazenda, Virginia Furlanetto.
A chuva constante desta quarta-feira (13) esvaziou as ruas de Santa Tereza, que dias atrás vivenciou um mutirão para a retirada de entulhos e lavagem das casas. No centro e também em estradas do interior, a lama deu lugar ao pavimento coberto pela água do Rio Taquari. Nas calçadas, o que restava de barro era retirado por um único voluntário, que retorna diariamente à cidade desde a quinta-feira passada.
— Senti no coração de vir ajudar e me envolvi para contribuir no que puder — disse George Pereira Dias, 36 anos.
O pintor interrompeu as atividades que desempenha em Bento Gonçalves, onde mora há oito anos, quando soube da enchente que afetou moradores da cidade vizinha.
— Estava na minha terra natal, lá em São Luis do Maranhão, quando soube. Assim que retornei, juntei minhas coisas e vim ajudar. Chego todos os dias às 8h e vou embora no final da tarde. Percebemos que o número de voluntários diminuiu durante a semana, mas ainda há o que fazer — contou.
Em outra esquina, vindo de Nova Roma do Sul, Adriano Cansan oferecia o conhecimento em elétrica para restabelecer a energia da Cooperativa Santa Tereza. O prejuízo, só em mercadoria, foi calculado pelo presidente Valtemor Gentelini, em R$ 400 mil.
— Perdemos todo o equipamento, uma câmara fria foi levada pelo rio. Tivemos que desmanchar a casa centenária que fazia parte do patrimônio histórico e pertencia à cooperativa. Além de um pavilhão e todos os freezers — lamentou.
A luz voltaria a ser ligada mais de uma semana depois e, com a ajuda de um voluntário, que nesta quarta-feira já tinha trabalhado em outras quatro residências.
— Tava meio parado de serviço em Nova Roma e sabia que tinha gente que precisava de gente para ligar a luz aos postes. Então vim para cá — contou Cansan.
Em decorrência do Decreto de Estado de Calamidade Pública, a prefeitura de Santa Tereza isentou os moradores das tarifas de água nos meses de outubro e novembro.