Técnicos e auxiliares de enfermagem estão mobilizados em frente ao acesso dos funcionários no hospital Pompéia e na Unidade de Pronto Atendimento Central (UPA Central), em Caxias do Sul, na manhã desta sexta-feira (7). A categoria está em greve desde as 19h desta quinta-feira (6). Eles reivindicam o pagamento do piso nacional da categoria. A decisão pelo movimento levou em conta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que definiu que o pagamento do piso salarial deve ser feito aos trabalhadores do setor público e que o setor privado deve ser negociado. O novo piso para técnicos de enfermagem contratados pela CLT é de R$ 3.325,00; R$ 2.375,00 para auxiliares de enfermagem e parteiras.
Ainda na quinta, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou que 70% da categoria mantenha as atividades, sendo 100% na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Durante a noite e a madrugada, tanto no Pompéia quanto na UPA, os técnicos e auxiliares permaneceram na frente das instituições de saúde. A mobilização seguia no final da manhã dessa sexta.
Na manifestação, as técnicas e auxiliares de enfermagem pediam valorização e também a compreensão e apoio da comunidade.
— Todas as categorias se mobilizam por salário e por melhores condições de trabalho. A gente não quer prejudicar ninguém, muito menos os pacientes que cuidamos, só que quem cuida da gente? — questiona a técnica de enfermagem Brenda Moreira, 23 anos.
Enquanto a superintendência do Hospital Pompéia aponta que em setores de internação, por exemplo, a categoria não mantém o efetivo determinado pelo TRT, o Sindisaude garante que o acordo está sendo mantido. A presidente do sindicato que representa a categoria, Bernadete Giacomini, afirma que 30% da categoria está mobilizada e, como parte dos profissionais atua no bloco cirúrgico, as cirurgias vão ser impactadas.
À espera da negociação
Em entrevista ao Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, a presidente do Sindisaude ressaltou que os funcionários do Hospital Geral (HG) também gostariam de aderir à paralisação, mas, para manter o atendimento à população, decidiram, em assembleia, paralisar o atendimento apenas em um dos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o Pompéia:
— Paralisamos na Upa Central e no Pompéia porque são filantrópicos e porque têm um fundo no Ministério da Saúde para ser liberado para o pagamento do piso. Os trabalhadores do HG queriam aderir, mas temos responsabilidade em prestar o serviço.
No Pompéia, segundo Bernadete, há 574 técnicos e auxiliares de enfermagem; 30% estão paralisados nesta sexta. O mesmo percentual está parado na Upa Central, mas a presidente do Sindisaude não diz quantos profissionais trabalham no local. Ela garante que, enquanto não tiver negociação sobre o assunto, a categoria seguirá em greve por tempo indeterminado:
— Estamos aguardando ser chamados para negociar pelo InSaúde (Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão em Saúde), que faz a gestão da UPA Central, e pela direção do Pompéia. Enquanto não recebermos o piso, não voltaremos ao trabalho. Estamos abertos para sentar e conversar.
A superintendente do Hospital Pompéia, Lara Vieira, ressalta que a instituição criou um plano de contingência, ainda na quinta, para que os atendimentos não fossem afetados pela greve. Mas, segundo ela, até o momento, 15 procedimentos foram cancelados e 22 exames, como tomografia, ressonância e ecografia, deixaram de ser realizados até esta manhã. O número, segundo ela, pode aumentar ao longo do dia.
— Fomos surpreendidos já no início da greve. Em setores que tinham técnicos de enfermagem escalados, nenhum compareceu. Por exemplo, pouco antes das 19h de quinta, seis técnicos estavam escalados para quatro cirurgias, mas nenhum compareceu no hospital. Os procedimentos foram feitos com enfermeiros — diz Lara.
No fim da noite de quinta, o hospital conseguiu uma liminar no TRT que determinou que fosse mantido 100% do atendimento nas áreas críticas. Com isso, dois profissionais foram para sala de cirurgia e depois voltaram a aderir à greve.
Atendimentos lentos na UPA Central
Por nota, a secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Caxias afirma que respeita a categoria da enfermagem, mas manifesta preocupação com a greve devido a atual situação enfrentada pela saúde, com emergências superlotadas e recente período de suspensão de procedimentos eletivos. No final da manhã, a prefeitura informou que, em função da greve, o atendimento na UPA Central está mais lento. O impacto é maior, segundo o poder público, nas rotinas internas, na assistência a pacientes em observação e na sala de aplicação de medicação.
Ainda na quinta-feira, a SMS, para amenizar os impactos, realizou a transferência de pacientes para internação hospitalar no Virvi Ramos fora do horário habitual. Além disso houve articulação junto à UPA Zona Norte, ao Samu e ao Hospital Geral para retaguarda aos casos que não puderem ser absorvidos pela UPA Central ou pelo Pompéia, bem como junto a secretários de saúde da região, em caso de necessidade de direcionamento de pacientes de outros municípios.
No início da tarde, por meio de nota, o Instituto Nacional de Pesquisa e Gestão em Saúde (InSaúde), que gerencia a UPA Central, informou que "(...) vai cumprir a determinação judicial e que outras medidas estão sendo tomadas".