Compartilhar conhecimento para auxiliar os pais, profissionais da educação e autoridades sobre segurança nas redes sociais é considerada uma ferramenta essencial para prevenir casos de bullying, ciberbullying e atentados em escolas. Para abordar o assunto, o Fórum de Caxias do Sul promove a palestra "Prevenção a Atentados em Redes de Ensino e Cibersegurança". A conversa será ministrada pelo chefe de Operações de Inteligência no Núcleo de Inteligência (NIJ) do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), o tenente da Brigada Militar Rodrigo Neto. O evento está marcado para 19h desta quinta-feira (22), no Salão do Júri. Os interessados em participar devem inscrever-se por um formulário online (acesse aqui). O valor é a doação de um quilo de alimento não-perecível.
Atualmente, navegar na internet, acessar as redes sociais, jogar online e conversar em aplicativos integra a rotina de nove a cada 10 crianças, segundo dados de uma pesquisa da TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O estudo divulgado em 2022 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), apontou que 93% das crianças e adolescentes do país entre nove e 17 anos são usuárias de internet, o que corresponde a cerca de 22,3 milhões de pessoas dessa faixa etária conectadas.
Ao mesmo tempo em que os dados são positivos, uma vez que apontam que o grupo tem acesso a essas tecnologias, também acendem um alerta sobre a importância de se discutir segurança no ambiente online. A situação fica ainda mais evidente diante do aumento dos casos de bullying, ciberbullying, suicídios e ataques de adolescentes ou jovens a instituições de ensino que, muitas vezes, começam a ser pensados com o uso de conteúdos encontrados nas redes sociais.
No caso mais recente, registrado na última segunda-feira (19), dois adolescentes foram assassinados em uma escola de Cambé, no interior do Paraná. Já em abril, quatro crianças foram mortas em um ataque a uma creche de Blumenau, em Santa Catarina. O crime desencadeou nas redes sociais uma série de ameaças de massacres e, em Caxias do Sul, levou ao monitoramento das forças de segurança da cidade para identificar os autores de postagens que criaram pânico entre os pais e a comunidade escolar.
Envolvimento da sociedade
Em entrevista ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra, na manhã desta quinta-feira, o tenente Rodrigo Neto ressaltou que essa questão não diz respeito apenas à segurança pública, mas a toda a sociedade.
— É um problema de segurança pública, mas é um problema muito maior de sociedade, porque na parte de segurança pública podem ser tomadas algumas medidas, mas a questão da imprevisibilidade desse tipo de ação é que torna difícil ter um uma ação que impeça isso de maneira rápida e necessária nesses casos pela parte de segurança pública. É um problema que começa muito dentro de casa. Começa pela concessão desmedida de tempo ao celular, a rede sociais, acesso a Dark Web, Deep Web, coisas desse tipo, que não é fiscalizado na sua maioria pelos pelos pais e pelos responsáveis — ressalta.
Neto disse ainda que as escolas também tomam algumas atitudes no sentido de prevenir ataques, mas como há essa dificuldade de prevenção, é preciso pensar em outras estratégias para manter a segurança no ambiente escolar. Ele cita a metodologia usada nos Estados Unidos e que tem mostrado eficácia na prevenção:
— A gente sempre usa os americanos como referência nisso porque são referência nesse tipo de coisa, até porque os primeiros atentados foram lá. Acredito que todo mundo lembra de Columbine (escola em Denver), que é um marco nessa questão dos atentados em escolas. Eles criaram um tipo de doutrina, de prevenção a esse tipo de atentados, e eles evitam muitos atentados, anualmente. Isso não vem a público, mas acontece, porque eles incluíram a sociedade de um modo geral. Então, eles colocam os pais, os educadores, eles colocam os próprios alunos como "agentes de inteligência" desse tipo de ação.
Ouça a entrevista:
Como monitorar?
Para o chefe de segurança do TJ, é necessário que os pais estejam atentos aos conteúdos que os filhos acessam na internet e, por isso, é preciso monitorar:
— A questão começa dentro de casa. Eles têm esse acesso desmedido a redes sociais e a smartphones. Nós temos uma situação que deve envolver a todos, mas ela deve começar, principalmente, dentro de casa, com os pais tomando pé do que seus filhos fazem na internet, do que eles levam para a escola, com quem eles se relacionam. Eu sei que hoje em dia as coisas estão complicadas, as pessoas têm pouco tempo, todo mundo tem que trabalhar, o pai trabalha, a mãe trabalha, o pessoal chega cansado em casa, mas é necessário tirar cinco, dez minutos diários para ver o que eles estão fazendo e falando, porque a questão preventiva é como a gente costuma dizer em segurança pública: eduque a criança para que a gente não tenha que punir o adulto. É necessário monitorar o que os filhos fazem na internet.
O especialista destaca ainda que muitos pais questionam como procurar e o que procurar para proteger as crianças e os adolescentes.
— Tem que acessar os históricos de navegação, isso é muito importante na questão preventiva. É preciso haver uma fiscalização dos pais sobre aquilo que se faz. Eu ouvi já de muitos pais: "mas o que eu devo procurar?" São coisas simples. E por mais que o filho queira esconder o que está fazendo na internet ou na rede social, os rastros sempre ficam. Tem que olhar o histórico de navegação, as lixeiras e as redes sociais propriamente. Por exemplo, se ele fez uma série de imagens e apagou, a gente ensina que o pai deve, a mãe deve entrar no Google Fotos para acessar os prints. O que você recebe no WhatsApp que a pessoa pode ter deletado fica no Google Fotos.
Sobre a Dark Web (sites ocultos na internet que só podem ser acessados por determinado navegador), o tenente alerta que pais e responsáveis devem ficar atentos a um aplicativo representado pela imagem de uma pequena cebola, porque isso significa que as crianças e adolescentes têm acesso a esses conteúdos.
— Só se acessa essas redes com um navegador específico, e o símbolo dele é uma pequena cebola. Se o seu filho tem esse navegador instalado no computador, isso é um sinal que deve chamar muita atenção. Por que uma criança de 12, um adolescente de 15, 16 anos, tem um navegador de Dark e Deep Web no seu computador? Esse tipo de situação sempre deve chamar a atenção dos pais e se os pais, em algum momento, detectarem esse tipo de coisa e precisarem de ajuda especializada, devem procurar as autoridades.
Ao suspeitar que uma criança ou adolescente está sendo vítima de violência, é possível denunciar pelo Disque 100, 180 ou no aplicativo Direitos Humanos BR/Delegacia On-Line.
Dicas
- Olhar o histórico de navegação.
- Acessar as lixeiras do celular, tablets e computadores.
- Acessar o Google Fotos.
- Monitorar as redes sociais.
- Acompanhar as experiências de crianças e adolescentes na internet.
- Definir condições para o uso da internet, como limite e tempo.
- Orientar a não falar com estranhos e a tratar as pessoas com educação e respeito.