A série de reportagens sobre a limpeza urbana em Caxias do Sul chega ao fim. Ao longo da semana, foi mostrado que há defasagem do sistema, falta de investimentos e problemas na gestão do lixo. São situações que impactam o dia a dia da população, que cobra resolução do poder público, mas também reconhece que é necessário conscientização e cuidados por parte dos moradores.
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Uma das apostas para amenizar, por exemplo, o descarte irregular de lixo, o uso indevido de contêineres e o vandalismo é o projeto de cercamento eletrônico, que terá dezenas de câmeras espalhadas pela cidade. O município acredita que o monitoramento por meio de vídeo, que será implantado na vias urbanas e também nos acessos a Caxias do Sul, será um aliado. O contrato com a empresa Vigillare Sistemas de Monitoramento Ltda, vencedora da licitação, foi assinado em maio. Ao todo, serão 275 câmeras de segurança.
Ao mesmo tempo, está em andamento a obra de instalação do Centro Integrado de Segurança Pública de Caxias do Sul. O espaço de 1,2 mil metros quadrados fica a cerca de um quilômetro da Praça Dante Alighieri. É lá que serão instalados os monitores do cercamento eletrônico.
Ainda segundo o município, o Centro vai contar com 15 estações de trabalho e com 10 painéis de vídeos com monitores de 55 polegadas. As imagens das 275 câmeras de vídeo vão ser exibidas nesses painéis 24 horas por dia, sob olhares de cerca de 30 pessoas, entre policiais militares, guardas municipais e fiscais de trânsito.
Até a conclusão das obras do prédio, o município não irá falar sobre a estratégia de inteligência do serviço. No entanto, tanto o prefeito de Caxias, Adiló Didomenico, quanto a diretora-presidente da Codeca, Maria de Lourdes Fagherazzi e o secretário de Segurança Pública de Caxias, Paulo Roberto Rosa da Silva, apontam o monitoramento como ferramenta de gestão. Segundo o poder público, as câmeras vão ser usadas para fazer um diagnóstico, e assim gerenciar também os problemas da limpeza urbana como lixos clandestinos, descarte irregular em contêineres, a ação de catadores que retiram o lixo ou misturam os resíduos e os atos de vandalismo.
— Hoje, são verificadas as câmeras do entorno, quando ocorre (o problema) e identificamos logo após o acontecido essa situação de vandalismo. Com o cercamento, teremos aperfeiçoado esse processo com o objetivo de identificarmos sempre quem são os autores, essas pessoas a serem punidas. Esse trabalho vai continuar sendo feito cada vez mais e vamos intensificar as ações para que tenhamos uma redução ainda mais ideal, para chegar a zero. Com o monitoramento, a tendência é nós termos uma melhora muito grande — cita o secretário Paulo.
Investigações
Com a atuação da força-tarefa da Polícia Civil, Brigada Militar e Guarda Municipal, os casos de contêineres incendiados caíram. Em janeiro, foram danificados ou destruídos 36 recipientes. Esse número caiu para 17 em fevereiro, e seguiu em queda ao longo das semanas seguintes: foram cinco em março, quatro em abril e três casos em maio.
A Polícia Civil instruiu dois procedimentos referentes aos incêndios de contêineres ocorridos neste ano. Um deles resultou na prisão preventiva de um jovem de 28 anos, em fevereiro. De acordo com o titular da 1ª Delegacia de Polícia Civil, Rodrigo Kegler Duarte, ele foi indiciado pela prática de dois incêndios no mês de janeiro. Por outro lado, em um segundo procedimento foram indiciados um homem e uma mulher, respectivamente de 44 anos e de 36 anos, pela prática de três delitos de dano ao patrimônio público cometidos em sequência no mês de janeiro.
Nesse caso, a prisão preventiva foi indeferida pelo Poder Judiciário, que acompanhou um parecer negativo do Ministério Público.
Educação Ambiental também é ferramenta de gestão
Além dos atos de vandalismo, Caxias também perde espaço em relação à reciclagem. A retomada e fortalecimento das atividades de educação ambiental em escolas e empresas é uma das ferramentas usadas para mudar essa realidade. Em 2022, a Codeca alcançou 1.710 pessoas com ações, e em 2023 de janeiro até 30 de maio, 1.027 pessoas participaram de palestras e atividades na cidade.
A bióloga, consultora na Casulo Sustentável e embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, Victoria Mello, destaca que com separação equivocada do lixo, o município enterra matéria-prima diariamente, pois todo o material que não é reciclado vai para o aterro sanitário. Ela orienta os moradores a realizar a separação tripla em casa, que é dividir o seletivo, que é reciclável, os resíduos compostáveis e os rejeitos, que é basicamente o lixo do banheiro.
— Tem dúvida se é reciclado ou não? Envia para serem triados na reciclagem. Alguém vai mexer naquele lixo, então temos que enviar esses resíduos minimamente limpos. Não precisa lavar e deixar brilhoso, mas usa o guardanapo usado para limpar as caixinhas de creme de leite, por exemplo, e encaminha para reciclagem ou deixa no fundo da pia enquanto lava a louça e deixa ele limpo o suficiente para não contaminar os demais resíduos — ensina a especialista.
Sobre os compostáveis, que são os restos de comida, ela ressalta que podem ser aproveitados em casa para serem usados como adubo:
— Só sobra os rejeitos, e somente eles deviam ir para o aterro sanitário. Aqui em Caxias tudo o que colocamos no contêiner verde vai para o aterro sanitário. Então, quanto menos resíduos a gente enviar para lá, melhor, porque o aterro é sim um destino ambientalmente correto, mas a gente enterra esses resíduos e eles geram poluentes tanto para o solo quanto atmosféricos, sendo que eles podiam ser reciclados e virar adubo ou novos produtos.
Opinião da população:
"Eu acho que o contêiner é o melhor, mas a população tem que separar o lixo também. Depende de cada um fazer a sua parte. Moro na Rua Conselheiro Dantas e ficamos um bom tempo sem o contêiner do seletivo, aí misturam o lixo. Acredito que a limpeza depende de todos." - Denise Moreira dos Santos, 36 anos, motorista do transporte coletivo.
" A chave é a educação. Tem que fazer muito marketing para retomar esses cuidados e investir em educação ambiental até que a comunidade mude os hábitos. O vandalismo e a questão do catador também impactam o gerenciamento do lixo, mas o catador, esses que deixam sujeira, eles não têm consciência, muitas vezes são dependentes químicos, e esse é um problema social, que tem que ser encarado como sociedade" - Luiz Carlos de Azevedo, 58 anos, metalúrgico
"Moro no bairro Desvio Rizzo e lá a coleta é regular, então colocamos o lixo para fora no dia da coleta. Nossas lixeiras são bem organizadas. No Centro, tem muita sujeira e lixo espalhado. Acredito que é responsabilidade do município manter limpo, mas nossa também porque temos que melhorar a cidade que vivemos" - Aline de Moura Facchin, 32 anos, auxiliar de saúde bucal
"Essa parte da Júlio de Castilhos (em Lourdes) é bem suja, e por várias vezes temos que varrer a calçada e limpar até no meio da rua, entre as pedras mesmo. Percebo o fator social que é o aumento do número de pessoas que procuram no lixo o que pode servir a elas, mas tem também uma parcela da comunidade que joga lixo no chão. Se o poder público conseguir fiscalizar e multar, talvez isso mude, porque vão começar a sentir no bolso" - Marcelo da Silva Vilanova, 41 anos, gerente
"Percebo no bairro Nossa Senhora das Graças, onde moro, que colocam uma grande quantidade de entulhos e móveis ao redor dos contêineres. Eles não são destinados para esse isso, e mesmo assim os moradores deixam lá. Na área central, onde tenho um ateliê, há muita sujeira e cheiro ruim. Acredito que todos têm responsabilidade em manter a cidade limpa"- Maria Izabel Ribeiro Toledo, 55 anos, costureira
"Os lixos são bem organizados e o sistema é bom, mas percebo que o catador e a parte da população também não cuidam da limpeza. Tem as lixeiras na Júlio de Castilhos, por exemplo, e mesmo assim eles jogam o lixo no chão. A equipe da Codeca limpa, varre e lava os contêineres , mas a população tem que colaborar também" - André Cadorin Boeira, 38 anos, empresário