A exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes, que tem combate acentuado em ações realizadas durante o chamado Maio Laranja, é motivo de preocupação redobrada para pais de crianças pequenas que, muitas vezes, não compreendem ameaças e tampouco sabem como pedir ajuda. No intuito de conscientizar este público e contribuir para a prevenção de casos, a escola Caminho do Saber, de Caxias do Sul, encontrou, por meio do chamado "Semáforo do Toque", uma forma lúdica de abordar o assunto com os estudantes da Educação Infantil até o 4º ano do Ensino Fundamental, com idades entre quatro e 10 anos.
A atividade realizada na escola foi com o uso de bonecos, mas pode ser replicada pelos pais em casa, indicando no corpo da própria criança as partes classificadas com sinal verde, amarelo e vermelho, destacando, ainda, os toques "bons" e "ruins" e de que forma as crianças podem solicitar ajuda em caso de necessidade.
— O indicado é que já na hora do banho, desde a primeira infância, os pais falem sobre as partes do corpo e que indiquem as que são muito especiais (as partes íntimas) e que, a partir disso, orientem que é preciso ter todo um cuidado com elas e que nem todos podem tocar ali. Além disso, é preciso criar um ambiente acolhedor em casa para que se sintam seguros para falar o que estiverem sentindo e sobre alguma coisa que não esteja bem — destaca a psicóloga Fernanda Henz, que coordena o pilar socioemocional da Rede Caminho do Saber.
Esta não é a primeira vez que o educandário adota atividades específicas de combate à exploração e abuso sexual durante o Maio Laranja, com todas as turmas matriculadas. Além do trabalho do Semáforo do Toque, trabalhado com as séries iniciais, os estudantes do 5º ao 9º anos estão criando informativos na disciplina de Artes, voltados à conscientização, e que serão distribuídos para a comunidade. Já os alunos do Ensino Médio contarão com palestra ministrada pelo Conselho Tutelar sobre o tema.
O Semáforo do Toque
A atividade promovida com os pequenos é ministrada pelas psicólogas da escola, Fernanda e Gabriela Nunes. A reportagem acompanhou os primeiros encontros, realizados na manhã desta quinta-feira (25) com estudantes do 2º, 3º e 4º anos do Ensino Fundamental e uma turma do Pré II.
Em um primeiro momento, Fernanda destacou os tipos de toque, sendo classificados como "toque bom" aquele que é acolhedor; que faz bem, que não é forçado, que não dói; que todo mundo pode saber; que pode ser feito na frente de todo mundo; e que não deixa com vergonha. O "toque ruim" é explicado para as crianças como sendo aquele que alguém pede para não falar para ninguém; que é feito em lugar escondido; que deixa triste e pode causar dor; que faz sentir vergonha; e que pode deixar agoniado e com raiva ou com vontade de chorar.
Em um dos slides, a orientadora reforçava com os alunos: "Se o carinho me deixa com raiva, não é carinho. Eu grito socorro!" e, em outro, também ensinou que, para quem tem acesso ao telefone, uma alternativa também era o número destinado a este tipo de atendimento: "Não se cale - Disque 100".
Feita a introdução, a parte da interação, com participação ativa dos estudantes, foi a dos sinais do semáforo. Com etiquetas verdes, amarelas e vermelhas, eles eram convidados a indicar, no corpo de bonecos, o quanto o toque é adequado para cada parte.
:: VERDE = Pode tocar (pé, mão, testa)
:: AMARELO = Atenção, tome cuidado (barriga abaixo do umbigo, virilha)
:: VERMELHO = Não pode tocar (nádegas, genital, boca)
Por fim, a atividade contou ainda com uma música adaptada para o projeto, apresentada ao vivo pela professora Gabriela Gregoletto:
Várias partes o meu corpo tem
Cabeça, boca, pé e pernas também
Algumas partes ficam bem escondidinhas
Uma delas fica embaixo da minha barriguinha
Nelas ninguém pode tocar, não
Se não tiver a minha permissão
Se desobedecer e nelas tocar
Eu vou correndo pra profe contar
Sinais devem ser observados
Para além das dicas de prevenção, em entrevista ao Pioneiro a psicóloga Fernanda também destacou a importância do encaminhamento correto no caso de situações de abuso contra crianças e elencou alguns sinais que podem levar à identificação do fato.
— A gente sempre aconselha terapia, porque são danos irreversíveis na vida de uma pessoa. A gente sabe que tem como passar por isso, mas que ficam marcas — destacou, comentando alguns sinais que devem ser levados em consideração:
:: Mudança brusca de comportamento: criança comunicativa que começa a ficar introspectiva, com muita raiva, chorando.
:: Brusca baixa no rendimento escolar.
:: Erotização infantil: começam a prestar muita atenção nos órgãos genitais.
:: Reversão a alguma pessoa próxima ou a algum gênero específico.
:: Alterações do sono: pesadelos ou enurese noturna (escape de xixi).