Na culinária, para construir sabores com temperos frescos é preciso tempo, paciência e experimentações. Situações difíceis de colocar em prática no dia a dia atual, onde a praticidade muitas vezes faz o natural dar lugar a receitas industrializadas, que fogem do que é recomendado para manter a boa saúde.
Atualmente a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera saudável o uso de cinco gramas de sal por dia, mas de acordo com a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), a população consome quase o dobro disso, em uma média diária de 9,25 gramas do tempero.
Para alertar sobre a presença do sódio em temperos prontos, o Sesc de Caxias do Sul realizou na tarde deste sábado (1) a Experiência Gastronômica às Cegas. Quem passou pelo Parque dos Macaquinhos foi convidado a experimentar dois caldos de uma forma inusitada: sem enxergá-los.
Vendados, os participantes degustavam uma receita de cenoura, couve e moranga temperada com com caldo industrializado e outra elaborada com temperos frescos como alho poró, alecrim e manjerona. O paladar aguçado pela ausência da visão entregava o quanto cada um deles era familiar para quem se arriscou a participar.
— Com os olhos fechados o paladar é colocado em jogo para sentir todos os sabores que as ervas frescas trazem. Nascemos com o paladar sem vícios, ele é viciado ao longo dos anos com uso de realçadores de sabor como sal e açúcar, que, em excesso, são muito prejudiciais à saúde — explicou a nutricionista do Sesc Vatusa de Matos.
Mudanças de hábitos
A cuidadora de idosos, Maria Antonietto Machado, 60 anos, acertou fácil o desafio e muito porque tem presente em sua alimentação os temperos expostos pelo Sesc durante a ação. Soube dizer com total certeza qual era a opção feita com caldo industrializado por já há algum tempo ter retirado o artifício de suas receitas.
— Usava há alguns anos e depois de começar a me exercitar mudei toda minha alimentação, uso muito cúrcuma e alecrim seco. A gente sente um gosto diferente, se a pessoa não utiliza do industrializado não tem como não identificar quando experimenta — contou.
A missão no entanto não foi tão simples para Tanara Castilhos, 37. Com o filho de dois anos no colo, a funcionária de uma escola de Educação Infantil não acertou a procedência dos sabores que experimentou vendada. Julgou o mais temperado como se tivesse sido ele feito com realçadores de sabores, o que justamente a iniciativa queria provar não ser a regra.
— Acho que errei porque pensei que o mais temperado tinha o caldo pronto, porque para mim era mais salgado. No meu trabalho se preza muito pela comida natural e em casa também cozinho para o meu filho dessa forma, agora, para nós adultos, acabamos indo muitas vezes pelo mais prático — explicou.
Ao final de cada experiência, a venda se tornava um mero artifício. Os participantes confessavam que, para conseguir identificar os sabores, o instinto era justamente fechar os olhos e resgatar memórias que pudessem ajudar a reconhecer o que comiam.
Após saber o resultado da brincadeira, restava a reflexão sobre estar mais atento ao que se ingere. Todos os participantes foram presenteados com um pequeno recipiente que continha sal temperado com ervas, mais indicado por nutricionistas para realçar os sabores.