O paranaense Renato Aparecido Ferreira, 32 anos, decidiu seguir o coração e correr atrás de um sonho de infância: viajar o mundo. Desde pequeno, ele tem o sonho de conhecer os Estados Unidos, e desde 7 de novembro de 2022, percorre o Brasil, em uma minivan personalizada, com um bichinho que atrai a atenção por onde passa. Em Caxias do Sul, não foi diferente. O aventureiro chegou à cidade neste sábado (1º). Ele veio de Bento Gonçalves, onde passou os dois últimos meses. A minivan personalizada chamou a atenção de quem estava pelas ruas da área central de Caxias e também na BR-116, em frente o Momumento ao Imigrante, um dos pontos turísticos da cidade.
Com simpatia e alegria, o paranaense respondia aos buzinaços e abanava de volta para quem o abordava e interagia com ele. O motivo de tanta interação e curiosidade é a decoração do veículo. No alto da minivan tem uma capivara, e ela usa boné. Considerada mascote da Apucarana, no norte do Paraná, cidade natal de Renato, o bichinho também está pintado nas laterais do veículo. O boné também é uma lembrança da cidade parananse, que é chamada de capital do boné.
Há ainda imagens da Catedral Nossa Senhora de Lourdes, já que foi a fé que o levou a deixar tudo para trás e se dedicar ao sonho. Foi assim que nasceu a 'capivara da estrada'. A ideia sempre o acompanhou, mas ganhou mais força depois de um acidente com motocicleta em 2015. Ele conta que ficou quatro dias em coma e 14 dias na UTI. Na época, tinha três empregos e guardava dinheiro para poder viajar.
— Eu sofri duas paradas cardíacas, uma delas por cinco minutos e a outra por 20. Eu morri praticamente e Deus me deu chance de voltar. E se voltei tinha que dar um significado a minha vida: e viver.
Ele conta que já trabalhou em diversas áreas, mas foi o trabalho em uma funerária, que mais uma vez mostrou a ele a fragilidade da vida:
— A vida é tão breve. Hoje eu não guardo mais dinheiro, não vivo pelo dinheiro. Me tornei uma pessoa diferente, que ama viver.
Renato também afirma que se inspirou na história do influenciador catarinense Jesse Koz, que viaja o mundo com o golden retriever Shurastey (em alusão a música Should I Stay or Should I Go, do The Clash). Os dois morreram em 23 de maio de 2022.
— Mesmo que ele tenha morrido jovem, ele viveu com mais intensidade que muita pessoas, que só sobrevivem ou apenas ficam vendo a vida passar.
O viajante conta a rotina e mostra as aventuras dele e da capivara nas redes sociais. Ele quer inspirar outras pessoas a correr atrás dos sonhos.
— Independente da situação e da grana ou falta de grana guardada no banco, a gente tem que aproveitar a vida. Eu trabalhei na roça até os 18 anos. Depois, servi ao Exército e sempre batalhei muito. Mas me perguntava e se eu morreu hoje o que fica? O que eu fiz de bom? Vivi com intensidade.
Em cada cidade, ele se sente acolhido, e acredita que essa é uma reposta de Deus.
— Eu duvidava que alguém ia me estender a mão, mas sempre estendem, e eu estendo aos outros porque estamos aqui para compartilhar.
Capivara na estrada
Renato chegou a pensar em viajar o mundo a pé, mas pensou que o dinheiro que iria investir para pagar pela hospedagem poderia ser usado para comprar um veículo. Investiu R$ 6.900, que tinha guardado para comprar uma Towner ano 1995.
— Eu cheguei para comprar em Curitiba, que fica a mais de 370 quilômetros para comprar a van. Quando cheguei lá olhei e pensei: que feia, é muito feia. E pensei volto para casa ou sigo em frente? É feia, mas comprei.
De volta à cidade, em uma conversa com amigos, olharam o veículo, e perceberam que o formato lembrava o bichinho, que faz a alegria do município: a capivara.
— Fiz alterações, revisões, e peguei a estrada. Levo comigo a cada cidade o nome de Apucarana. Lá tem capivaras nos parques, goste você ou não dos bichinhos, em Apucarana você vai ver elas passeando. Eu adoro as capiravas — sorri ele que estava, inclusive, com um pijama de capivara para enfrentar o frio da manhã de outono em Caxias.
E não tem como não ver a "capivara da estrada pelo mundo". Para se manter, Renato vende canecos personalizados e capivaras de pelúcia, e também faz parcerias com estabelecimentos comerciais. Em algumas cidades, conta com ajuda e fica estacionado dentro do pátio. Para dormir tirou os bancos da minivan. Além disso, recentemente instalou uma "capcaixa" onde armazena água para tomar banho. Ele chegou a fazer um projeto sobre a viagem e registrou a marca Capivara da Estrada.
Lugares por onde passou
Desde novembro ele conheceu o Litoral do Paraná e o Litoral de Santa Catarina, de São Francisco até Laguna. Depois, passou pela Serra do Rio do Rastro, chegou a Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, e foi até Passo Fundo. De lá, foi até Bento Gonçalves, onde passou dois meses trabalhando e agora ficará um tempo em Caxias.
— Ainda não sei por quanto tempo, mas depois vou até Gramado. Vou seguindo até chegar ao México, Colômbia e ir até os Estados Unidos, que é o maior sonho.
Para acompanhar a aventura bastar seguir @capivaradaestradaoficial:
— Siga-me. Faça uma capivara feliz — pede ele, ao apontar o QR Code que está pintado ao lado do veículo para doações.