A Rota do Sol pode ganhar em breve um serviço de atendimento a pessoas feridas e suporte nas operações da rodovia, como remoção de barreiras. Um grupo de bombeiros voluntários desenvolveu um projeto para implantação de um quartel e três bases de apoio da instituição entre Caxias do Sul e a região de Três Forquilhas, no Litoral Norte. Chamada de Força Auxiliar — Bombeiros Voluntários da Rota do Sol, a entidade já foi formalmente criada e busca apoio de órgãos públicos e do setor privado.
As primeiras conversas tiveram início pouco antes da pandemia e envolveram vereadores de Caxias do Sul, deputados federais e estaduais, prefeituras de cidades cortadas pela Rota do Sol e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Conforme o comandante e presidente dos Bombeiros Voluntários da Rota do Sol, Joel Troni, todos os setores têm demonstrado interesse e apoio para tirar a ideia do papel.
Pelo projeto, a unidade central das equipes ficará situada no entroncamento da Rota do Sol com a RS-110 (que liga São Francisco de Paula a Bom Jesus), na localidade de Várzea do Cedro. O quartel deve contar com alojamento, vestiário, sala de rádio, sala de treinamento, estacionamento para caminhões e viaturas, além de um heliponto, situado no canteiro central da rotatória.
Já as bases móveis ficarão distribuídas ao longo da rodovia, com o objetivo de reduzir o tempo de resposta às ocorrências. Serão estruturas mais simples, com contêineres, mas capazes de abrigar as equipes e atender a população. O objetivo, inclusive, é prestar serviços como aferição de pressão. A primeira base móvel ficará no acesso à localidade de São Braz, na saída de Caxias do Sul para o Litoral. Outra base de apoio será na localidade de Décio Ramos, próximo de onde antes funcionava um posto de combustíveis e atualmente há uma borracharia. O terceiro posto avançado será na localidade de Contendas, em um terreno onde está em construção uma sede fixa — e onde já há uma base provisória — do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM).
— Os acidentes mais graves ocorrem fora da temporada. O quartel e as bases de apoio ficarão distantes 35 quilômetros um do outro. Hoje, o tempo de resposta para um acidente é de cerca de 1h40min. Com os bombeiros voluntários, o tempo cairia para 15 a 30 minutos — projeta Troni.
Entre a primeira e a última unidade prevista, serão cobertos 144 quilômetros da rodovia. Os bombeiros, contudo, poderão apoiar outras equipes, até mesmo na região de Terra de Areia e Curumim, sempre que necessário. Serão 12 bombeiros e 40 voluntários treinados (que incluem outras funções) que se revezarão para atuar 24 horas por dia e sete dias por semana, atendendo, inclusive, cidades do entorno, como Itati e Jaquirana, entre outras.
— Podemos trabalhar junto com as equipes de saúde dos municípios. Estamos conversando para criar um procedimento padrão para atendimento — explica o comandante-adjunto da entidade, Bruno Amaral.
Busca de apoio
Para viabilizar as operações conforme o planejado, o grupo precisa não apenas viabilizar as bases físicas, mas também obter equipamentos de trabalho. O projeto necessita de duas ambulâncias tipo B, utilizadas em atendimento pré-hospitalar, e pelo menos dois caminhões de combate a incêndios. Também serão necessários veículos de resgate e salvamento, capazes de enfrentar terrenos irregulares, e veículos de apoio e transporte, utilizados para o deslocamento das equipes.
Entre as possibilidades de obtenção de receita para manter as operações estão a utilização de outdoors, repasses de prefeituras, parcerias com empresas e obtenção de emendas parlamentares, além de doações da comunidade. O Daer também sinalizou que vai tentar adquirir um caminhão de bombeiros, o que permitiria um início quase imediato das atividades. Isso porque, inicialmente, os bombeiros voluntários vão dividir a base atualmente utilizada pelo CRBM, em Contendas. A parceria vai permitir, inclusive, um suporte maior ao trabalho dos próprios policiais, que atualmente atuam de forma provisória.
O projeto arquitetônico das unidades foi doado pelo arquiteto Luiz Pedro Gollo Sambaquy, enquanto o cálculo estrutural dos edifícios foi realizado gratuitamente pelo engenheiro Régis Antônio Grazziottin. Para a aquisição de outros equipamentos e construção das bases, contudo, será necessário buscar mais recursos. A entidade também já conta com estatuto formado e está em fase final do processo de obtenção do CNPJ.
Procurado pela reportagem, o Daer disse que a reunião com o grupo ocorreu há cerca de um mês e o projeto "foi muito bem recebido" pelo órgão. A nota afirma ainda que "no momento, ocorrem os trâmites necessários para a elaboração do termo de cooperação técnica necessário para implantar a ideia". O Daer também acrescenta que "as ações a serem definidas, como aquisição de equipamentos, por exemplo, poderão ser discutidas futuramente".
O que é um bombeiro voluntário?
A principal diferença entre bombeiros voluntários e bombeiros militares é a instituição a qual pertencem. O Corpo de Bombeiros Militar (CBM) é um órgão do governo do Estado e soldados e oficiais são servidores públicos, contratados por meio de concursos públicos. Já os bombeiros voluntários atuam em quartéis e instituições independentes, criados para desempenhar as mesmas funções dos bombeiros militares, mas sem ligação formal com o governo do Estado. Em muitos casos, os soldados possuem outros empregos ou fontes de renda e realizam o serviço em horários livres.
É comum que bombeiros voluntários e militares dividam quartéis e atuem de forma conjunta em ocorrências. Nesses casos, a autoridade de comandar a ocorrência cabe aos bombeiros militares.
Outra diferença entre as duas instituições é o financiamento. Enquanto o CBM conta, principalmente, com recursos públicos e fundos criados a partir de arrecadação municipal, os bombeiros voluntários dependem de doações, parcerias e fontes de renda alternativa.