Alegria e fim dos momentos de tensão. Foi assim que alguns dos 207 homens resgatados em situação análoga à escravidão em uma operação que se iniciou na quarta-feira (22) em Bento Gonçalves resumiram a noite de sexta-feira (25), dia que começaram a viagem de volta para casa.
Quem acompanhou o embarque dos 194 trabalhadores que tinham como destino final a Bahia também viveu momentos emocionantes. Apertos de mão e abraços nos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) — que receberam a denúncia —, convites para que os presentes fossem para Salvador eram algumas das diversas formas de demonstração da alegria sentida naquele momento. Descendo a rampa do Ginásio Municipal Darcy Pozza, um homem gritou:
— Salvador que me espere porque eu estou chegando.
— A gente estava vivendo uma escravidão aqui. E todos nós estamos alegres para voltar para a família. Estávamos num lugar que era praticamente uma prisão. Estamos bem animados para voltar para a nossa terra — contou, aliviado, já com um pé no ônibus que o levaria de volta para casa, um dos trabalhadores.
Também teve choro, mas de alívio, de felicidade. Um dos mais emocionados era o homem que publicou o vídeo da situação em que viviam, em uma rede social, e que conseguiu fugir e chegou até a PRF de Caxias do Sul. Quem o esperava na porta do ônibus era o agente Leandro Portes, quem o acolheu e o ouviu no primeiro momento.
— Na quarta eu disse que o maior desfecho era ir na pousada acabar com isso. Não era. É hoje. É aqui, eu ver todo mundo pronto para ir para casa. Eu fiz meu vídeo esperando que a situação acabasse, mas eu não imaginei que ia adiantar. Adiantou! — vibrou o homem, de Salvador.
Foi quando um homem, alto, com moletom azul marinho, blusa cinza e semblante cansado subiu no quarto ônibus que o auditor fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Gerson Soares Pinto, avisou:
— Este é o último da lista.
Após a realização de testes de bafômetros nos quatro motoristas dos ônibus e o posicionamento das viaturas para a realização do comboio, à 0h54min, os veículos saíram de Bento.
Nove gaúchos que estavam entre os resgatados devem percorrer o Estado, nas próximas horas, de volta para seus municípios de origem: Rio Grande, Montenegro, Portão e Carazinho. Outros quatro trabalhadores optaram por ficar em Bento. Eles atuavam na colheita e carga e descarga da uva, segundo o MTE.
Apesar da partida dos resgatados, a investigação do caso segue com o MTE, Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal (PF). O próximo dever da empresa prestadora de serviço, alvo da operação, é de quitar as verbas rescisórias na segunda-feira (28). A participação de 23 produtores rurais e de três vinícolas, que tinham a contratação do serviço terceirizado, também segue sendo investigada.
Outro reflexo desencadeado por essa operação é a intensificação na fiscalização do trabalho durante a safra da uva. Conforme o auditor fiscal do MTE, Rafael Zan, principalmente a estrutura fornecida nas propriedades, como alojamentos, refeitório e banheiros, será analisada.