O início de ano é o período em que produtores de uva colhem a recompensa de um ano inteiro de trabalho. Mas, em 2023, essa não será a realidade de famílias que vivem em quatro comunidades do interior de Nova Pádua, na Serra. O temporal que atingiu a região no fim da tarde de quinta-feira (2) destruiu parreirais inteiros a dias da colheita da uva e pegou desprevenidos agricultores que trabalhavam nas plantações no momento do temporal.
A chuva começou por volta das 17h, após nuvens escuras se aproximarem das localidades de Travessão Mutzel, Travessão Leonel, Travessão Barra e Bonito. Produtores ouvidos pela reportagem disseram que a chuva começou fraca, mas minutos depois começou o vento e o granizo de forma repentina.
— Meu marido e eu estávamos colhendo uva num parreiral mais para cima. Eu sabia que ia chover, então vim para casa recolher roupa. Quando voltei, começou a chover mais forte. No parreiral tem uma casinha simples de madeira que serve apenas para se abrigar da chuva e precisamos ir pra lá. Aí começou o granizo cada vez maior e vento, que levou uma folha do telhado da casinha. Eu via as árvores girando. Só virei a cabeça e baixei o boné porque eu não conseguia mais olhar para fora. Eu nasci de novo — relata a agricultora Juliana Menegat Vazzata, 29 anos.
Na propriedade de Juliana, um parreiral inteiro de um hectare foi ao chão. A variedade é vendida para a produção de suco e esse era o ano em que se esperava a melhor safra das parreiras, que foram plantadas há dois anos. Recentemente, Juliana e o marido haviam implantado sistema de irrigação por gotejamento e cuidavam de cada detalhe da plantação.
— Plantamos todas as parreiras na mesma direção e amarrávamos com vime pra não ficar balançando, tínhamos muito capricho. Quando olhei para o parreiral, sentei e chorei. Não é só uma safra. Isso é prejuízo de dois anos de trabalho. A gente vai erguer, mas não vai ficar a mesma coisa. Ninguém tem ideia do que a gente sente colhendo uma safra e ver tudo indo embora, é difícil — fala a agricultora, que se diz traumatizada com temporais desde 2018, quando o granizo também causou perdas.
Na propriedade também houve destelhamento parcial de um aviário e de galpões de alho e cebola. Nestes locais, contudo, o prejuízo foi menor.
Também em Travessão Mützel, os agricultores Giseli Boldrin Rossi, 40, e o marido, Vanderlei Rossi, 48, resolveram entrar em casa quando a chuva começou.
— Não deu tempo de baixar a porta do pavilhão e começou um vento muito forte, de retorcer árvore. O granizo era do tamanho de bolas de pingue-pongue e num formato muito irregular. Nunca tinha visto antes. Onde pegou a perda foi de 90%. A uva está madura, todo mundo ia começar a colher. Não sabemos se vamos poder colher agora — relata Giseli, que também é presidente da Câmara de Vereadores de Nova Pádua.
As famílias já vinham sofrendo com a estiagem no fim do ano, mas a chuva que veio em boa quantidade nesta quinta trouxe junto a destruição.
— Quando a gente vai embaixo da parreira e pisa no cacho que cuidou o ano todo, é complicado. Preferia ter ficado com a estiagem — afirma Giseli.
A energia elétrica em muitas propriedades voltou somente durante a madrugada. Na manhã desta sexta, a Emater, a prefeitura e a Defesa Civil contabilizam as produções atingidas. Até o fim da manhã, contudo, ainda não havia balanço parcial.
Perdas de móveis e eletrodomésticos
Na propriedade de Lourenço Tonet, 60, e Nelita Cansan Tonet, 51, o prejuízo não foi apenas na produção rural. Além dos quatro hectares destruídos pelo vento e pelo granizo, parte deles agora no chão, a residência do casal também foi destelhada. Na hora da tempestade, eles não estavam em casa e foram surpreendidos pelos estragos ao retornar. Conforme Nelita, televisor, microondas, forno elétrico e ventilador foram danificados pela água, além de prejuízo em móveis e colchões. O casal precisou dormir na casa de vizinhos.
— Se tivesse dado só granizo já seria prejuízo, mas não tanto — afirma Luiz Tonet, primo de Lourenço que ajudava a família a contabilizar os estragos no início desta sexta.
Luiz mantém plantações de frutas e também registrou prejuízos, mas em menor escala que nas propriedades próximas.
Já na propriedade onde mora Alexandre Luis Kran, 28, os estragos também foram grandes. No momento da tempestade, a família não estava em casa e foi surpreendida pelos estragos ao chegar. O aviário, que estava vazio, e parte da casa foram destelhados e eram consertados na manhã desta sexta. Já os parreirais tiveram prejuízo maior:
— As uvas Isabel e Bordô não estavam prontas ainda, acho que se perdeu tudo. A Niagara vai dar para salvar algo.