Para amantes de vinhos, espumantes ou não alcoólicos, como suco de uva, janeiro é o mês em que abre uma fase muito importante do processo de fabricação: a chegada da principal matéria-prima, a uva, aos fabricantes. Em vinícolas da Serra, já se percebe a movimentação de caminhões carregados de caixas e bins, contentores de plástico rotomoldado. Nesta terça-feira (10), ocorreu o primeiro grande recebimento de carga, com variedades precoces, como Niágara e Bordô, na Vinícola Garibaldi. Especialistas apontam que, para a safra 2023, a qualidade da fruta deve ser excelente e com boa maturação.
Mesmo com a geada que se formou no início de novembro em alguns pontos da região, o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE) e enólogo da Garibaldi, Ricardo Morari, comenta que as perdas ocorridas são muito localizadas e que não deve impactar no volume da vindima deste ano.
— A qualidade inicialmente está muito boa, a gente teve uma condição climática com poucas chuvas, porém um pouco mais que o ano passado, não chegou a ter problemas de estresse hídrico nos vinhedos, então a maturação andou muito bem, nós temos uvas com boa maturação — analisa Morari.
Morari destaca que a amplitude térmica que vem ocorrendo – dias quentes e noites frias – favorece a preservação dos componentes de aroma e também de acidez. O resultado é bons vinhos brancos e espumantes.
O grande recebimento teve a presença de associados da cooperativa, que já estavam com cargas para entregar. É o caso do produtor Cleimar Rasador, de Santa Tereza, que descarregou 200 mil quilos da fruta, com variedades como Chardonnay, Riesling e Pinot Noir. Esta já é a quarta geração a cuidar dos parreirais, que se iniciou com seu avô, teve sequência com o sogro e agora conta com a ajuda das filhas.
— Acho que vai ser uma safra boa, que nem ano passado, pela expectativa que nós estamos. Não tem aquela safra cheia, é uma safra boa, normal, de qualidade excelente. Nosso problema é o clima, mas temos a tecnologia hoje nos tratamentos, na poda, na colheita, facilitou um monte. A cooperativa também estimula — diz Rasador, que comenta que hoje, para lucrar, é necessário produzir mais, em função do aumento dos custos.
Associado desde 1992, o produtor Daniel Balbinot deu continuidade ao cultivo do pai. E certamente terá sucessão com o filho, Miguel Antônio, cinco anos, que se divertia enquanto aguardava o descarregamento das uvas. Balbinot estima um rendimento de 220 mil quilos para esta safra.
— O tempo está nos ajudando, não está chovendo muito agora para amadurecer bem a uva. Acho que vai dar uma qualidade boa, muito boa — opina o produtor de Monte Belo do Sul.
Já na Associação Gaúcha de Vitinivicultores (Agavi), em Flores da Cunha, o diretor executivo, Darci Dani, vê com preocupação a falta de chuva. Isso porque grande parte da produção dos associados é de vinhos de mesa, com maturação um pouco mais tardia.
— Não temos uva madura ainda para colher, o tempo não está muito promissor, tem pouca chuva, as noites estão frias e não adianta muito a maturação. Por enquanto, não temos nenhuma informação de qualidade, estamos preocupados com a estiagem. Este tempo está atrasando a safra — pontua Dani.