O governo do prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico, chega à sua primeira metade, seus dois primeiros anos, neste domingo. A gestão começou em plena pandemia, tendo de concentrar atenção na gestão da crise sanitária no município. De lá para cá, uma série de assuntos passaram pela mesa do prefeito. Ele considera o momento mais difícil e desafiador obter uma solução para o Caso Magnabosco (dívida milionária para o município que tramita nas cortes em Brasília), especialmente a decisão do Tribunal de Justiça do RS de suspender a contratação de um escritório de advocacia para fazer o acompanhamento dos recursos.
– Continuamos com esse fantasma que, há mais de quatro décadas, paira sobre a cabeça dos prefeitos e dos caxienses – disse Adiló.
Nesta sexta-feira, o prefeito Adiló Didomenico fez um balanço dos dois primeiros anos de governo em entrevista para o Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra. Falou sobre transporte coletivo, saúde, vagas para educação infantil, atração de investimentos e aquilo que considera a maior realização de seu governo: a instituição de um programa de regularização fundiária, denominado Esse Terreno é Meu. Ele projetou que as primeiras de 35 escolas infantis a serem construídas como resultado de uma parceria público-privada possam começar a ser erguidas em 2024. Confira os principais trechos da entrevista:
Em dois anos de mandato, qual foi o momento mais desafiador para o senhor?
Olha, eu acredito que o momento mais difícil do município foi a ação do Caso Magnabosco. Fizemos uma contratação de escritório em Brasília que, infelizmente, por uma ação equivocada, acabou derrubando a contratação daquele escritório (ação movida pelo ex-vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu, acolhida pelo Tribunal de Justiça do RS em 2021 para suspender contratação pela prefeitura do escritório de advocacia José Delgado & Ângelo Delgado Advocacia e Consultoria para acompanhar o caso em Brasília). Já poderíamos ter avançado na solução desse problema e continuamos com esse fantasma que, há mais de quatro décadas, paira sobre a cabeça dos prefeitos e dos caxienses. Ela é uma dívida praticamente impagável. Continuamos com esse pesadelo somado à questão da Reforma da Previdência, o déficit orçamentário e o momento muito tenso da campanha política deste ano. Talvez esse último tenha sido um dos piores momentos de todo tempo que eu acompanho a política.
Qual a segurança que a administração tem de que não haverá outra paralisação do transporte coletivo?
A gente não tem segurança, porque aquela foi uma greve muito estranha. Nós havíamos conversado à tarde buscando uma solução jurídica para o repasse desse recurso do governo federal (R$ 6 milhões por meio da Emenda Constitucional 123/2022, destinados ao subsídio para a gratuidade de pessoas acima dos 65 anos no transporte coletivo), que, inclusive, o efeito desse recurso está na redução da passagem. A gente continua mantendo ela a R$ 4,90, em vez de R$ 6,30 (tarifa técnica), que era a passagem técnica apontada. Foi uma greve muito estranha, onde a gente teve que notificar e multar a empresa para exigir o imediato retorno na prestação de serviços. Talvez foi o pior momento que aconteceu em relação à concessionária. Esperamos que esse episódio esteja superado, porque não foi um problema causado só para a administração, mas para a comunidade de Caxias do Sul.
Durante a campanha, o senhor havia prometido a passagem de ônibus a R$ 3,50. Como o senhor se sente não conseguindo cumprir essa promessa?
Quando nós assumimos o compromisso dos R$ 3,50 na campanha, o diesel estava em um patamar de R$ 3,90. Hoje ele está R$ 6,40. A carroceria de ônibus aumentou mais de 50%. Teve dois aumentos de folha de pagamento. E com muito esforço nós conseguimos implantar os R$ 3,50, que é a tarifa verde, que vigora até hoje. A partir de segunda ela, passa a ser R$ 3,90. E é importante que se diga: nesses horários (entre 9h e 11h e 14h e 16h), o número histórico de passageiros que utilizavam o ônibus era de 5 mil por dia. E hoje já está em praticamente 30 mil. Nós fizemos um esforço muito grande, em que pese fatores que fogem do nosso controle.
Não estaria na hora de abrir licitação para que houvesse mais de uma empresa de ônibus em Caxias do Sul?
Nós fizemos a licitação, divulgamos em todos os canais, revistas especializadas, inclusive com ajuda das empresas locais de Caxias, especialmente a Marcopolo. Divulgamos para todo país para atrair mais empresas. Permitimos o consórcio de empresas e, infelizmente, apareceu só a Visate, que disputou a licitação, ganhou e assinou o contrato. O que nós podemos garantir é que vamos exigir a partir de março, que é quando retorna o movimento na cidade, com muito rigor, os horários de ônibus. A gente tem reclamações de falhas e espaçamento de horários. Vamos exigir que a empresa cumpra aquilo que está no contrato.
O que podemos projetar de novos investimentos para impulsionar o município em 2023 e como se tem incentivado isso?
A gente tem visitado muitas empresas, especialmente aquelas que buscam expansão do seu parque fabril, buscando ouvi-los e ver onde a gente pode ajudar. Com isso, a gente já procedeu a desburocratização, compilação da legislação tributária para dar segurança jurídica para essas empresas e redução de impostos pela primeira vez na história de Caxias do Sul. Isso está ajudando muito, tanto que, graças a Deus, a gente não perdeu nenhuma empresa. De resto, a gente está se colocando à disposição e vamos trabalhar junto do Governo do Estado, buscando parceria e redução de alguma forma de tributo para atrair empresas para nossa região. Assinamos o Tech Road (iniciativa de cooperação mútua e inovação para atrair negócios e investimentos) junto com Florianópolis, Joinville, Curitiba e Porto Alegre na busca da atração de investimentos para este eixo. (Tivemos) Ano positivo de oferta de emprego no segmento da indústria. E este ano Caxias foi eleita a melhor cidade do Rio Grande do Sul para se viver, a 14ª do país e a primeira cidade para se fazer negócios no segmento industrial. Não é pouca coisa. E vamos continuar mantendo esse bom relacionamento com o governo do Estado e com o governo federal. Nós precisamos manter um relacionamento republicano porque Caxias precisa concretizar o Aeroporto e o porto de Arroio do Sal. Seguramente, a logística hoje é um dos maiores gafrgalos que dificulta a atração de investimentos em nossa região.
Em relação à saúde, o senhor assumiu o governo em plena pandemia. Algum momento crítico daquele período?
Na pandemia nós sofremos muito. A gente trabalhou muito naqueles meses em parceria com os sindicatos patronais para manter as empresas abertas. Esse foi um esforço muito grande. Sofremos muitas críticas por defender que as empresas permanecessem abertas para manter a economia viva, porque a saúde depende da economia. Tivemos a dedicação da nossa Secretaria da Saúde, com muita paciência e sacrifício, onde em vários momentos a gente chegou a ter o risco de ficar sem oxigênio em Caxias. Tudo isso trabalhando nos bastidores, sem criar alarde para a população, e tivemos êxito. Das cidades do mesmo porte, Caxias foi a que teve o menor índice de letalidade, e isso é muito importante.
O senhor considera um momento crítico essa situação vivida com o Hospital Pompéia (descontinuidade do atendimento materno-infantil e de outros serviços, que chegou a ser anunciada em agosto deste ano, mas que teve renovação do contrato para 2023 agora em dezembro)? Ela está superada?
O Pompéia é um problema onde nós estamos dialogando muito. Pagamos um preço político alto por silenciar. Até que chegou o momento que tivemos que endurecer e inclusive ir para as vias de fato com risco de intervenção do hospital. Felizmente, conseguimos, depois de muita negociação, renovar o contrato. E eu espero que isso continue, porque ele é um hospital referência não só para Caxias, mas para toda região. Hoje não existe estrutura que possa substituir, a curto prazo, o Hospital Pompéia. E nós não vamos permitir o sacrifício de pessoas na porta do hospital.
Um dos maiores desafios que tem se mostrado historicamente na educação é atender a demanda da educação infantil. Vocês propuseram a criação de parcerias público-privadas para construção de prédios, sendo 35 escolas na educação infantil. Quantas destas vão estar prontas até o final do seu mandato?
Isso depende muito do ritmo de estudo e da viabilidade do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas eu acredito que, já em 2024, comece a construção de algumas unidades. Esse é um projeto que nós buscamos desde o primeiro ano de mandato. Estávamos na fila para aguardar a vaga e felizmente fomos contemplados. São entre 10 e 12 mil vagas, isso dá para zerar toda a fila histórica de Caxias do Sul. A educação foi a área onde nós mais investimos: biblioteca virtual, 7 mil chromebooks, em torno de 350 mesas interativas, robótica, uniformes completos, 42 mil kits, contratação da Universidade Federal de Minas Gerais para fazer o levantamento dos alunos que tiveram prejuízos na pandemia, iniciamos imediatamente a recuperação contratando professores, liberando horas-extras para as escolas. Durante todo esse ano fizemos um trabalho muito forte na recuperação. Esse é um capital que não tem preço, para fazer a recuperação dessas crianças.
O que o senhor considera a maior realização do seu governo até o momento?
O cumprimento da nossa promessa de campanha de trabalhar na regularização fundiária (programa Esse Terreno é Meu, instituído em 2021), que há 40 anos as pessoas sonhavam com esse momento e que nós colocamos em prática. Além disso, a aquisição da área do (loteamento) Monte Carmelo, de sete hectares, onde existia o risco de mais de 400 famílias serem despejadas. A negociação com a família Ruzzarin para o (loteamento) Jardim dos Reis no bairro Cruzeiro, mas cerca de 30 famílias que esavam na iminência de serem despejadas. A gente cuidou muito desse aspecto social da população. Isso por vezes não aparece nos holofotes, mas as pessoas beneficiadas reconhecem isso, porque há anos esse tipo de assunto era postergado.