As férias finalmente chegaram para uma boa parcela da população, mas para que o descanso de uns esteja garantido sempre há o trabalho de outros. Pessoas que têm no verão e no movimento gerado por ele a oportunidade de encher o bolso. E para faturar com quem descansa não é necessariamente preciso estar no destino final. É ainda no caminho que leva as pessoas ao lazer que a economia começa a girar.
Na Rota do Sol, principal via utilizada por moradores da Serra para se deslocar ao Litoral Norte, o comércio começa logo na saída de Caxias do Sul. A viagem nem bem começou e ainda pode ser cedo para a parada para o lanche. Mas já é possível garantir a melancia que refresca os dias de verão.
Simara Tomaloq, 30 anos, viu o movimento se intensificar na tarde da última sexta-feira (23). Ela e o marido contam com as necessidades que surgem a cada estação para vender produtos diferentes. No inverno, vendem lenha e, no verão, com o caminhão estacionado no trevo de Fazenda Souza, apostam no comércio de melancias.
— É um bom ponto, logo na saída, e é uma fruta que muita gente gosta de ter em casa. Então, já garantem aqui — disse.
Se a procura tinha sido discreta no início do mês, o fluxo de veículos em direção ao Litoral Norte rapidamente se reverteu em vendas. Sem que os clientes sequer saíssem dos carros, Simara vendeu, em cerca de 10 minutos, mais de oito melancias. Entre os clientes, Patrick Gambit, 31, e Joel Almeida, 36. A dupla de amigos estacionou um carro abarrotado de bagagens e ainda fez caber duas frutas para o final de semana, que foi de acampamento.
— Praia é muito cheia e o gasto é maior, dá para se refrescar ali também — disse Almeida.
Para o acampamento, que seguiria até este domingo (25) em um camping nas proximidades da Rota do Sol, os amigos e suas famílias foram com dois carros cheios. Ao se instalarem, voltaram para garantir a melancia, que ganhou destino e método conhecidos de refrigeração.
— Chega lá e joga dentro da água. Fica gelada bem rápido — brincou Gambit.
A viagem segue e, cerca de 60 quilômetros após deixar Caxias, em Lajeado Grande, no município de São Francisco de Paula, os carros estacionados no Café Paradouro do Campo já convidam à uma parada e dão o sinal de que a hora do cafezinho está chegando. Para a alegria da proprietária, Cintia Perazzolo Fonseca, que tem na semana do Natal e do Ano-Novo seu maior faturamento.
— Nosso público é mais de Bento Gonçalves. Quem vêm de Caxias para um pouco mais para a frente. Então, quem vem de Bento já está viajando mais tempo e para aqui. Seguimos direto porque essa é a nossa semana mais importante. Depois do Reveillón, o movimento diminui e se concentra aos finais de semana — contou.
A passagem de milhares de famílias pela Rota do Sol não passa despercebida pelo comércio, que não tira folga nessa época do ano. E, além de curtir a companhia do viajante, fatura com sua presença e necessidades. A meio-caminho de chegar à primeira praia, um comércio singelo na margem da rodovia é a escolha de quem precisa ir ao banheiro ou matar a sede. Atrás do balcão, que oferece rapaduras, chocolates, queijos e salames, está Cléria Dahn, 68, instalada há 30 anos na Várzea do Cedro.
A passagem constante de famílias a partir da proximidade das férias aumenta o faturamento do minimercado em 50%. Estar na metade do caminho do Litoral é, segundo ela, ponto estratégico para uma breve parada ao banheiro, por exemplo.
— Muita gente para para ir ao banheiro e acaba levando um doce ou uma água. Aproveitamos como o pessoal das praias. Aqui na Serra também ganhamos com o movimento — contou.
Sem férias, Cléria abre o pequeno comércio de produtos coloniais às 7h, quando acorda, e fecha ao anoitecer. Aproveita o período para ganhar um dinheiro já previsto no orçamento anual.
— Vamos de domingo a domingo, já vendi até gasolina para quem ficou sem combustível. Tem que aproveitar, passamos o inverno todo sem ninguém e então, de repente, começa o movimento. Nos preparamos e contamos com isso — disse.