Todas às quartas e sextas-feiras, a sorte é lançada nos concursos da Mega-Sena, a loteria mais popular e que acumula os maiores prêmios em dinheiro do país. Entre jogadores assíduos e pessoas que não acreditam ter tamanha estrela para acertar os seis números, a possibilidade de se tornar um milionário da noite para o dia é terreno fértil para imaginação.
Quando os números sorteados são escolhidos por alguém da própria cidade, caso de Caxias do Sul, a fortuna a ser paga pela Caixa Econômica Federal parece ficar ainda mais próxima. Logo, os planos de o que fazer com tanto dinheiro dão lugar a muitas especulações, especialmente, pelo fato de o sortudo não ter reivindicado o prêmio.
Há 11 dias, uma aposta realizada pela internet com o cadastro do município acertou os seis números que garantirão R$ 158 milhões na conta de quem escolheu as dezenas 04, 13, 21, 26, 47, 51. O valor corresponde à metade do prêmio que ultrapassava R$317 milhões, acumulado há 14 sorteios consecutivos. A outra aposta vencedora foi de um bolão realizado no município de Fernandópolis - SP.
O que muita gente se pergunta é onde está o ganhador caxiense. Outros se colocam no lugar dessa pessoa sortuda e imaginam cenários e situações. Contar a vitória apenas aos familiares muito próximos parece ser um consenso popular que coloca a segurança como primeiro item a ser considerado pelo vencedor. Em seguida, o roteiro traçado por quem debate o assunto nas ruas tem destinos comuns. Pagar dívidas, sair do aluguel, auxiliar pessoas, viajar e, para muitos, sumir.
— Não pode sair que nem louco, tem de ter a cabeça feita, assim ninguém descobre, ele (ganhador) vai lá e faz o que quer. Senão, em pouco tempo tem gente na cola dele — recomendou Valdemar Perin, 63 anos, enquanto debatia o assunto em um mercado do bairro Santa Catarina.
Caminhoneiro e sempre de bombacha, Perin ficaria com uma pequena parte do prêmio, se fosse ele o ganhador, e o restante dividiria entre a esposa e projetos de caridade.
— Eu ficaria com R$ 10 milhões, o resto daria metade para a mulher fazer o que quisesse, e a outra metade gostaria de ajudar muita gente. Porque se eu não vivo com cinco milhões, não vivo nem com 10, nem com 150 — contou.
Em um ônibus rumo ao Centro, a auxiliar de limpeza Clenira da Rocha, 56, garante que já estaria na posse do dinheiro, ao contrário do sortudo que não foi reivindicar os R$ 158 milhões na Caixa.
— Pagaria as dívidas em primeiro lugar, depois compraria uma casa e viajaria. Ou o ganhador não sabe que ganhou, ou não quer retirar, deve dar medo — opinou.
Em uma lanchonete no bairro São Pelegrino, os proprietários confirmam que, desde que o sorteio foi divulgado, o assunto não esfriou e, quando levantado pelos clientes, sai do campo da curiosidade e causa até certa indignação.
— O pessoal quer saber por que não foi retirado ainda, pode ser qualquer um, inclusive meu funcionário aqui que me pediu um tempo pra ir manobrar o carro. Se ele não voltar para o trabalho, vou dizer que é ele — brincou o empresário que não quis se identificar, mas garante não ser o sortudo em questão.
Estabelecido pela Caixa, o prazo para retirada do prêmio é de 90 dias. A contar do sábado (1) o vencedor ainda tem pouco mais de dois meses para ter o dinheiro transferido para sua conta.
Desperdiçar um valor tão alto por distração é algo impensável para quem repete há anos os mesmos números e confere o sorteio assim que o resultado é divulgado.
— Eu acredito que esse cara é desorganizado. Se fosse eu no caso dele, estaria conferindo toda semana. Quem joga é porque tem chance de ganhar, aí o cara vai e joga o sonho fora. É complicado — criticou Elmo Pereira de Castro, 50.
Castro confidencia que, quando seus números forem sorteados, e um dia serão, segundo ele, espera realizar investimentos e aproveitar a vida.
— Porque eu não acredito que alguém que ganha tanto dinheiro, fica pobre tão rápido — divertiu-se.
Para outros, a descrença é na própria loteria. O aposentado João Sirtolli diz acompanhar o filho tentar a sorte todas as semanas e nem faz questão de saber o que ele faria com a bolada.
— Quando ganha um prêmio desses tem que desaparecer e ninguém saber, se não tem perigo de ser liquidado. Mas é muita gente jogando para apenas duas pessoas ganharem, eu desconfio — disse Sirtoli que, caso ganhasse um prêmio tão alto, contaria apenas para família e com uma ressalva.
— Família é mulher e filho, nada de cunhado — brincou.
Desde que o concurso 2525 premiou o jogo realizado em Caxias do Sul, outros dois já foram realizados pela Caixa. Ambos não tiveram acertadores nas seis dezenas. Devido ao feriado de Nossa Senhora Aparecida, o próximo concurso será realizado nesta quinta-feira (13) com valor acumulado em R$ 17 milhões.
Se um apostador não retirar o prêmio em 90 dias após a data do sorteio, os valores são repassados ao tesouro nacional para aplicação no Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES).