Clenio Ederson Lima Lopes, 38 anos, diz que sua vida mudou nessa semana. O psicólogo é o homem que aparece em um vídeo que viralizou nas redes sociais, que o mostra quebrando vasos na fachada de uma joalheria na Rua Marquês do Herval, no centro de Caxias do Sul, na madrugada de segunda-feira (3). Ele foi detido pela Guarda Municipal logo após o ato. O caso é investigado pela Polícia Civil como dano ao patrimônio público, já que Lopes também danificou uma lixeira da Codeca.
Atuando há 12 anos na área da assistência social na cidade, ele relata que, naquela madrugada, passou por um "lapso", possivelmente causado pela bebida alcoólica e pela ansiedade que sentia naquela noite. Lopes tinha saído para comemorar uma conquista pessoal quando tudo aconteceu. No dia seguinte, ele iria para Porto Alegre. Ao Pioneiro, o psicólogo relata que não lembra do ato com nitidez. Quando acordou na manhã de segunda, Lopes não sabia distinguir se o que tinha acontecido era um sonho ou realidade.
— Foi como um episódio de um lapso, de um surto. Esse comportamento não me define — desabafa Lopes.
Ao saber do que realmente aconteceu na segunda de tarde, com o vídeo que foi divulgado, o psicólogo procurou a joalheria para corrigir o ato. Lopes declara que não nega o que aconteceu, assume a responsabilidade e vai responder a tudo judicialmente.
O psicólogo pede apenas que a comunidade reflita sobre a exposição que o caso ganhou e que parem com os ataques e com as ameaças, muitas recebidas via redes sociais. Após o episódio, Lopes foi demitido da instituição de acolhimento em que trabalhava, viu pacientes desmarcarem com ele e perdeu uma palestra que faria nesta semana.
Confira trechos da entrevista:
Pioneiro/Gaúcha Serra: o que aconteceu na noite de domingo?
Clenio Ederson Lima Lopes: domingo à noite, saí e acabei me excedendo um pouco (na bebida). Não tenho nitidez do que aconteceu, foi como se fosse um lapso. Por volta de meia-noite, fui a uma lancheria na Júlio de Castilhos e, depois que minha amiga foi embora, passei em outra. Saí de lá e acho que nesse momento entrei (em lapso). Acho que não era nem a questão da bebida, estava ansioso, estava comemorando que ia para Porto Alegre na segunda. Quando acordei no outro dia, lembrei que caí na entrada de um prédio e bati em uma porta com força. Lembro que bati e quebrou o vidro, isso me assustou. Aí eu levantei e fui em uma barraca de cachorro-quente que tem ali no Centro, e foi ali que fui abordado. Eu pedi um cachorro-quente sem salsicha, algo assim, porque eu não como carne. Foi como um episódio de um lapso, de um surto. Esse comportamento não me define. Eu trabalho há 12 anos na área social, desenvolvi várias ações, participei de campanhas de doação de sangue, de valorização da vida e doação de órgãos. Fui até a Câmara dos Vereadores falar desse cuidado com os outros. Mas eu, como ser humano, me descuidei um pouco. Isso que quero que as pessoas entendam, que foi um episódio isolado, que poderia ter acontecido com qualquer pessoa. Perante à lei, vou responder por tudo. Eu entrei em contato com a joalheria (loja dona dos vasos derrubados e quebrados) para agir da melhor forma possível.
Depois que foi detido, o que aconteceu?
Quando eu fui pego na barraquinha, me algemaram, não apresentei resistência, nem nada. E aí me levaram pra delegacia. Lá dentro fiquei numa sala, por um período, algemado em uma barra de ferro. Aí pediram para eu esperar, depois me levaram para outra sala e tiraram foto de mim. Eu estava dentro de uma delegacia, vi que circularam por aí as fotos de mim lá dentro. Tenho que responder por algo que fiz publicamente, mas essas fotos na delegacia, o boletim de ocorrência deveriam ficar no sigilo.
Quando descobriu o que tinha acontecido?
Quando eu estava indo para Porto Alegre, na segunda-feira, por umas 15h, uma amiga começou a mandar mensagem pedindo onde eu estava no domingo à noite. Aí comecei a olhar na internet e fiquei apavorado. Eu não lembrava daquilo. Em nenhum momento eu pensei que estava quebrando vasos. Na internet pareceu que eu faço o tempo todo. Eu tenho uma trajetória. Pode olhar o quanto eu tenho de trabalho social, de autocuidado e de palestras. Mas, infelizmente, enquanto ser humano, eu também cometi meu deslize. O caso repercutiu com as pessoas expondo meus dados, minhas fotos na delegacia. As pessoas começaram a me julgar, me colocaram em uma fogueira em praça pública, só que antigamente as pessoas morriam. Eu continuo vivo e sentindo as chamas, isso está me machucando. Eu fui demitido do meu trabalho por isso. Eu sempre trabalhei na área social. Eu sou voluntário em grupo de apoio a dependentes químicos em recuperação. Então, sempre busquei trabalhar a questão de autocuidado, de prevenção. Eu tive um adoecimento psicológico no antigo trabalho, por outras questões, e comecei um tratamento medicamentoso. Tive um episódio isolado e isso podia acontecer com qualquer pessoa.
Você procurou ajuda depois do que aconteceu?
Eu tenho acompanhamento psicológico desde que comecei a psicologia, que é uma orientação. A todas as pessoas afetadas, eu lamento muito, quero pedir desculpas. Eu entrei em contato com a joalheria por telefone. Estou fazendo acompanhamento domiciliar porque fiquei com medo de sair. Eu sei que pode não acontecer nada, mas, ao mesmo tempo, as pessoas comentam, apontam. Eu tento seguir meu ritmo o mais natural possível, mas hoje (quarta-feira) não trabalhei, por exemplo. Além de estar triste, me sinto devastado. Eu não merecia e acho que ninguém merece. Não é uma questão de caráter, da minha índole. Eu não saio por aí quebrando coisas por prazer. Foi um lapso.
Pretende tomar alguma ação por conta das imagens que se espalharam?
Eu quero fazer tudo de forma mais conciliadora possível. Claro, não vou ficar feliz com essas imagens rodando, se espalhando, gostaria que as pessoas evitassem fazer isso. Vou agir da forma mais saudável possível, dentro do que me orientam judicialmente.