Luisa Bueno Piroli tem cinco anos e sabe de cor como foi o seu nascimento. Isso porque o pai, Tiago, e a mãe, Michele, mais ou menos a cada dois meses, trocam a programação de filmes ou séries na TV por assistir juntos ao vídeo do momento mais emocionante de suas vidas. É um traço de uma infância em que a tecnologia ajuda a construir as memórias, diferente da que o próprio Tiago, que neste domingo comemora o quinto Dia dos Pais, teve três décadas atrás.
- Eu nunca imaginei ter um vídeo do meu nascimento. A Luisa adora assistir e eu e minha esposa, que é psicóloga, achamos isso muito importante para ajudá-la a construir uma identificação maior consigo mesma, como indivíduo e se pertencendo ao mundo. A gente gosta de tirar ela da rotina e fotografar tudo - comenta o gerente industrial, de 38 anos.
Tiago conta que a família coleciona tantas fotos da menina que por vezes até se pergunta se um dia ela terá tempo de olhar. Mas também é fato que os registros também são feitos para ser curtidos pelos próprios pais, nas pausas que o dia a dia corrido permite. O pai, no entanto, brinca que quando a menina era bebê os registros saiam com mais facilidade.
- Agora ela está na fase da vaidade. A gente quer tirar a foto e ela diz "pai, não sei se eu estou bonita" ou "deixa eu passar um batom primeiro" - diverte-se.
Apesar da capacidade de armazenamento de dados cada vez maior e em menos espaço físico, ou mesmo na nuvem, os pais de Luisa gostam de imprimir as fotos mais significativas. Além de fortalecer as memórias, é uma forma da menina conhecer um pouco mais de como era "antigamente". Mas não é que Tiago seja um nostálgico. Pelo contrário. Uma das coisas que o pai da Luisa mais gosta é quando a inteligência artificial compila fotos e presenteia com uma montagem ou um vídeo de um momento ou de uma lembrança específica.
- Esses recursos são impressionantes. E normalmente a gente recebe quando está distraído, e aquela recordação acaba alegrando o dia - comenta.
Em meio a centenas, ou talvez milhares de fotos acumuladas nos primeiros cinco anos de convívio com a filha, Tiago também gosta de compartilhar os registros preferidos nas suas redes sociais, principalmente no Facebook:
- Acho importante o pai mostrar que é participativo, porque talvez incentive outros pais a tentarem estar mais presentes no dia a dia dos seus filhos. Tenho orgulho de dizer que sou um pai "presentaço" em cada momento da filha da Luisa.
Memórias para "consumo interno"
- Eu queria ter tido 2% das fotos que minhas filhas têm da infância delas, se tivesse essa facilidade 40 anos atrás.
Quem diz isso é o empresário Rodrigo Ramme, pai da Laura, 13 e da Rafaela, 15, que, com a esposa, Patrícia, gosta de registrar cada momento em família, seja numa viagem, num acampamento ou mesmo em casa, brincando com o cachorro. Rodrigo, no entanto, prefere manter as fotos para 'consumo interno, como ele mesmo diz. Embora tanto ele quanto a esposa usem as redes sociais, são poucas as fotos das meninas, que ainda não têm perfis próprios no Instagram ou no Facebook.
- Nesse sentido somos um pouco conservadores. Somos muito cuidadosos com a intimidade das meninas, e sabemos como a internet pode ser perigosa. Não é deixá-las numa bolha, é apenas monitorar. Acho que existe hoje na sociedade uma pressa em fazer as crianças e adolescentes amadurecerem, e não digo que isso é errado ou certo, mas a gente prefere ter um controle um pouco maior - ressalta o pai, de 46 anos.
No cotidiano familiar, no entanto, fotos e vídeos estão sempre presentes. Rodrigo estima ter cerca de 200gb de material em um HD exclusivo, sendo que futuramente deve passar o armazenamento para a nuvem.
- Às vezes a gente até olha todas essas pastas e se pergunta se um dia vai olhar isso tudo, se não seria melhor apagar, mas não dá coragem. Porque também é algo para elas, quando quiserem, recordarem das suas infâncias, desde quando eram bebês.