O encerramento do vínculo contratual de médicos estrangeiros que atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Caxias do Sul deve alterar o cenário dos atendimentos nas próximas semanas. Dos 15 médicos contratados pelo programa federal Mais Médicos e que encerram contrato, dois já foram repostos. Falta contratar 13, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). De acordo com a prefeitura, o novo programa federal, chamado Médicos pelo Brasil, confirmou a reposição de cinco profissionais bancados pela União (seis foram destinados, mas um desistiu) e outros dois devem ser enviados, mas ainda sem prazo. Com isso, a prefeitura deve contratar oito profissionais para zerar o déficit.
A redução nos médicos, conforme a secretária de Saúde, Danielle Meneguzzi, ocorre pelo fim do ciclo de trabalho previsto no Mais Médicos, mas também após a renomeação do programa que redistribuiu profissionais e privilegiou regiões do país com maior vulnerabilidade e dificuldade na contratação de profissionais.
— Grandes centros, teoricamente, têm mais facilidade de contratação, sempre nos justificaram a necessidade em alcançar regiões mais vulneráveis, mas isso não quer dizer que não vamos continuar buscando, até porque isso é um custo que vai ser absorvido pelo município — explicou Danielle.
Atento à situação da saúde pública de Caxias, o Conselho faz coro ao Executivo e concorda que a manutenção do programa federal esbarra no entendimento do Ministério da Saúde em encaminhar novos profissionais.
— Por ser uma cidade industrial e com Pib (Produto Interno Bruto) alto, Caxias tem dificuldade de receber novos contratos, pois o Ministério da Saúde entende que é preciso focar em cidades menores — explicou.
Substituído pelo Médicos pelo Brasil, o programa que trazia estrangeiros, na maioria deles cubanos, para atuarem nas UBSs agora exige que seja realizado o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida).
Entre as unidades que serão afetadas pela saída dos médicos está a UBS Galópolis que teve o contrato com a médica residente encerrado nesta sexta-feira (26) e corre o risco de ficar desassistida até que seja feita a recontratação da profissional, já aprovada no Revalida. A burocracia, de acordo com a secretária da Saúde, pode levar até 45 dias.
— Nesse meio tempo teremos alguns remanejamentos de forma a garantir uma cobertura mínima de consultas médicas em todas as UBSs. Mas será um período de adaptação e esperamos contar com a compreensão da comunidade — explica Danielle, que diz não ter sido possível fazer a contratação antes da saída oficial dos médicos em seus cargos.
De acordo com o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Alexandre Silva, na UBS Campos da Serra, o profissional que trabalhava foi aprovado na revalidação do diploma, mas aguarda documentação vinda de Brasília. A unidade recebeu novo médico que passou em concurso, foi nomeado e designado à UBS, que, segundo a prefeitura tem quadro completo.
Segundo Silva, a UBS Santa Fé perdeu um dos dois dos profissionais que lá trabalham, mas já foi contemplada com a realocação de outro por parte da Secretaria de Saúde. O maior prejuízo é na UBS Vila Cristina que há dois meses sem médico atende apenas com serviço de enfermagem e aplicação de vacinas.
— Mas é um cobertor curto, quando você coloca um médico em outra UBS se retira de algum lugar — afirmou Silva que lista as unidades que serão afetadas pelas mudanças.
Por lá, a Secretaria da Saúde diz que o processo de contratação já foi iniciado e a expectativa é contar com o profissional em no máximo 45 dias. Por enquanto, a unidade receberá um médico remanejado de outra UBS. Sobre o interesse dos médicos pela rede municipal, Danielle comemora o número de candidatos interessados em suprir as vagas.
— Inclusive, tivemos que fazer uma seleção, justamente porque os profissionais estrangeiros fizeram o Revalida estão se recandidatando — afirmou.
Sem médico, Vila Cristina depende de Galópolis
Desde a saída da médica cubana que atuava na UBS Vila Cristina, há 45 dias, a unidade não dispõe de médico e trabalha apenas com serviços de enfermagem e aplicação de vacinas. Para suprir a demanda, duas consultas por dia são reservadas aos cerca de 2,5 mil moradores da localidade, na UBS Galópolis, distante 12 quilômetros.
Para o conselheiro municipal da Saúde, Edgar Rigon que representa as UBSs da região, o trabalho realizado pela médica cubana, que não foi aprovada no Revalida, era tão importante em Vila Cristina quanto o da profissional atuante em Galópolis.
— A comunidade me pediu encarecidamente que não deixasse a doutora Damires ir embora. Ela é muito bem quista pelos moradores e muito competente. Felizmente conseguimos — contou.
Para a usuária da UBS Vila Cristina, Greice Marchioro, 28, a ausência de profissional causa incômodo em uma unidade que já chegou a contar com dois médicos cubanos. Em seus exames de rotina, Greice pôde conferir a dedicação dos profissionais com a população. Distante do centro e sem profissional disponível, a solução até que seja destinado um médico, é buscar atendimento em outros municípios.
— Sempre foram muito atenciosos. Agora muita gente vai para os hospitais de Nova Petrópolis e Feliz, para não sobrecarregar a UPA — relatou.