A viagem de um morador da Serra para atuar no conflito entre Rússia e Ucrânia chamou a atenção sobre como o gaúcho Douglas Búrigo, 40 anos, chegou ao Leste Europeu.
O comandante Sandro Silva, do pelotão onde o morador de São José dos Ausentes atuava depois de se unir às tropas ucranianas e onde morreu vítima de um bombardeiro, explica que há organizações oficiais e outras que atuam no país, mas não são vinculadas ao governo. Como há diversas unidades que recebem estrangeiros, e algumas não têm coordenação militar, muitos voluntários têm chegado até ele, já no país, depois que postou vídeos nas redes sociais.
Ele está na Ucrânia desde fevereiro, e disse que mais de 500 pessoas já entraram em contato. Entre elas, Douglas e a paulista Thalita do Valle, 39 anos, outra vítima do mesmo bombardeio que tirou a vida de Búrigo. Silva conta que os dois chegaram até o batalhão depois de contatar o gaúcho André Luís Hack Bahi, 44 anos, primeiro brasileiro a morrer na Guerra.
— Muitos vêm por conta para cá. Outros contatam unidades que não são oficiais ou ainda que não têm coordenação militar e atuam na proteção territorial, sem coordenação militar, sem armamento especializado. Tem unidades vinculadas ao governo ucraniano e outras não. O Douglas e Thalita contataram o André, e eles estavam com outras unidades.
Ele ressalta que eles perguntaram como poderiam integrar o batalhão:
— Como sou comandante e tenho acesso na Legião Internacional para Defesa da Ucrânia, conversei com eles e eles pediram ajuda. Levou cerca de 10 dias para que eles conseguissem vir se unir ao batalhão. Aqui eles tinham orientações, equipamento adequado, alimentação, alojamento e ajuda.
Relembre o caso
Douglas Búrigo foi o segundo voluntário gaúcho morto na Guerra da Ucrânia. Ele viajou em 22 de maio com o objetivo de prestar ajuda humanitária nos conflitos com a Rússia, mas acabou no front na região de Kharkiv, onde foi vítima de um bombardeio entre a noite de sexta-feira (1º) e a manhã de sábado (2).
Na quarta (6), o Ministério das Relações Exteriores afirmou ter recebido, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, na Ucrânia, a confirmação da morte do morador de São José dos Ausentes e também de Thalita do Valle, natural de São Paulo.
A família de Douglas decidiu que irá autorizar a cremação do gaúcho para que as cinzas sejam trasladadas para o Brasil. Para que o procedimento seja realizado, a família precisa assinar um documento, mas não há definição de quando eles vão receber essa documentação.
A família e amigos de Douglas organizaram uma missa de sétimo dia. A celebração ocorre nesta sexta-feira (8), às 19h, com transmissão pelo Facebook do padre André Varisa, da paróquia de São José dos Ausentes.
Filho de veterinário e de professora, Douglas serviu no Exército em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, de 2000 a 2005, no 22º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado. Trabalhou como caminhoneiro e atualmente tinha uma borracharia com loja de pneus às margens da BR-285.
A morte ocorreu na segunda tentativa dele de ir ao país europeu e ajudar voluntariamente as forças ucranianas. No dia 6 de abril, chegou a São Paulo para embarcar. Segundo a família, Douglas havia recebido a informação de que poderia pegar um voo internacional sem passaporte.
Como não conseguiu, retornou a cidade, mas isso não fez com que desistisse. Aos amigos, ele dizia que tinha um sonho e uma missão e que iria ajudar as crianças que estavam machucadas e sofrendo na guerra.