Apesar da tristeza e da vontade de ter o corpo para se despedir, a família de Douglas Búrigo, 40 anos, decidiu que irá autorizar a cremação do gaúcho morto na guerra entre a Rússia e a Ucrânia para que as cinzas sejam trasladadas para o Brasil. Para que o procedimento seja realizado, a família precisa assinar um documento, mas não há definição de quando eles vão receber essa documentação.
O Ministério das Relações Exteriores afirma ter recebido, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, na Ucrânia, a confirmação da morte do morador de São José dos Ausentes e de Thalita do Valle, natural de São Paulo. Os brasileiros estavam no mesmo pelotão, que foi bombardeado na região de Kharkiv, em 1º de julho.
Primo de Dodo como era chamado, Carlos Búrigo, tem mantido contato com a Embaixada Brasileira na Ucrânia para tratar do assunto. A morte foi confirmada pelas autoridades ucranianas à Embaixada Brasileira naquele país.
— As autoridades ucranianas vão mandar a documentação que confirma a morte do Douglas ao Itamaraty e, depois disso, será encaminhada à família a solicitação para autorizem o procedimento. O contato tem sido feito com a embaixada — explica Carlos Búrigo.
A professora Cleuza Marisa Búrigo, 60, mãe do gaúcho morto, aceitou a cremação, mas desejava ver algo que identifique o filho:
— Queria ver uma fotografia do corpo, algo que identificasse meu filho pelo menos, mas vou autorizar a cremação — lamenta ela.
Ela desabafa sobre sobre a perda do filho e aconselha os pais a dizerem eu te amo:
— Dói, dói demais, não existe dor maior do que está que estamos passando. Tudo perde o sentido, a razão, o significado diante da dor de perder um filho. Saber que nunca mais vou ouvir a vozinha dele, não vou ouvi-lo chegar em casa, não vou vê-lo preparando o chimarrão aqui na pia, está acabando comigo. Eu adorava esta imagem dele preparando o chimarrão. Eu quero que as pessoas percebam o quanto somos breves e que se perdoem, perdoem seus filhos, amem seus filhos, vão atrás deles e digam que os amam. Digam "eu te amo" todos os dias quando saírem de casa. Por favor façam isso, hoje eu daria tudo para ter por um minuto meu filho na minha frente para eu poder dizer tudo isso.
Douglas deixou São José dos Ausentes em 22 de maio, e morreu no front no dia 1º de julho. Essa foi a segunda tentativa dele de ir ao país europeu e ajudar voluntariamente as forças ucranianas. No dia 6 de abril, chegou a São Paulo para embarcar. Segundo a família, Douglas havia recebido a informação de que poderia pegar um voo internacional sem passaporte.
Como não conseguiu, retornou a cidade, mas isso não fez com que desistisse. Aos amigos, ele dizia que tinha um sonho e uma missão e que iria ajudar as crianças que estavam machucadas e sofrendo na guerra.