Amigos e familiares estão pensando em homenagens na despedida de Douglas Búrigo, 40 anos, morador de São José dos Ausentes que morreu na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Ele perdeu a vida em combate na região de Kharkiv, onde foi vítima de um bombardeio entre a noite de sexta-feira (1º) e a manhã de sábado (2). O traslado do corpo ainda está sendo providenciado e não tem data confirmada.
Entre os mais próximos e conhecidos, surgem muitos questionamentos e o sentimento de que a morte do amigo não é verdade. Gabriel Macedo da Rosa, 18, trabalhava na borracharia da família de Douglas:
— Ele tinha aquele jeitão sabe? Não tinha dia ruim e estava sempre faceiro. Todo mundo pergunta se é verdade e fica esse sentimento de que não é real. A cidade está perplexa com a partida dele. Vai fazer falta em tudo. Foi ele que me incentivou a começar a laçar e me levava.
Um dos melhores amigos de Douglas, Patrick Samuel Pinto, 32 anos, conta que ele deixa histórias e um legado de carinho e cuidado com o próximo:
— De um ano pra cá tínhamos uma amizade única. Eu ganhei um irmão. Ele era uma pessoa incrível. Foi uma partida que ninguém queria. Ele tinha muito a viver. Quem teve contato com ele, aprendeu muito e ele podia ter ficado mais com a gente.
A esposa de Patrick, Rafaela, 32, lembra do amigo como corajoso e aventureiro.
— Ele dizia que era a missão dele (ir à guerra). Ele vivia cada dia intensamente. Não pensava no amanhã. Todos nós devíamos ser um pouco Douglas às vezes. Intensidade descreve ele tão bem. Era muito intenso — lembra Rafaela, que ainda tem os últimos áudios enviados pelo amigo lá da Ucrânia.
As filhas do casal, as gêmeas Ana Julia e Ana Luiza, 11, e a caçula Anita, oito, também eram apaixonadas pela amigo dos pais.
— Ele nos tirava da zona de conforto. Eu dizia: a guerra que tu quer vencer tá aqui dentro de ti, não lá. Mas ele dizia que precisava ir. Ele só nos ligou quando já estava lá. De alguma forma, por mais doloroso que seja a morte dele, o Douglas merecia ser reconhecido mundialmente pela pessoa que ele foi.
Patrick completa:
— Ele contagiava as pessoas e fazia naturalmente. Saiu daqui pra ajudar. Ele era todo sentimento.
Bíblia em uma das últimas fotos
A amiga Mariane Pruch, 26, conta que presenteou Douglas com uma rede de camuflagem. Na despedida, um abraço apertado que ela não sabia que seria o último, mas foi bem marcante:
— Eu falei pra ele se cuidar, que não ficasse desatento. Ele riu e disse que ia voltar. De lá, mandou mensagens e fotos. Em uma das últimas fotografias enviadas da Ucrânia, Dougas estava com a Bíblia. Ele merece ser reconhecido pela coragem e bravura.
Olair Velho, 54, e o filho, Juninho, 22, não conseguem esconder as lágrimas ao lembrarem do amigo:
— Conheço ele desde pequeno e depois que ele voltou nos reaproximamos. Ele era fora de série. Tirava a camisa para ajudar os outros. Ele disse que tinha que ir e que não conseguia ver o sofrimento das pessoas sem fazer nada.
Juninho recorda do alto astral de Douglas.
— Ele morreu como um herói tentando salvar a vida de uma companheira de tropa e isso reflete quem ele foi. O Douglas era uma pessoa boa e que se preocupava com o próximo — ressalta o jovem, ao se referir a Thalita do Valle, 39, modelo e atiradora de elite que também morreu na última sexta em combate na Guerra da Ucrânia.