Dono de uma borracharia em São José dos Ausentes, nos Campos de Cima da Serra, Douglas Búrigo, 40 anos, é o segundo voluntário gaúcho morto na Guerra da Ucrânia. Ele viajou em 22 de maio com o objetivo de prestar ajuda humanitária nos conflitos com a Rússia, mas acabou no front na região de Kharkiv, onde foi vítima de um bombardeio entre a noite de sexta-feira (1º) e a manhã de sábado (2).
Filho de veterinário e de professora, Douglas serviu no Exército em Uruguaiana, na Fronteira Oeste, de 2000 a 2005, no 22º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado. Trabalhou como caminhoneiro e atualmente tinha uma borracharia com loja de pneus às margens da BR-285.
— Ele não ficava muito tempo em um mesmo lugar, gostava de andar por aí. Ele era muito inteligente e muito intenso em tudo que fazia — conta a irmã, Denise Búrigo dos Reis
Douglas tinha uma filha de 15 anos, que mora com a mãe, em Uruguaiana. Conhecido como Dodo por pessoas próximas, é definido como um homem muito alegre e sorridente, que estava sempre rodeado por amigos.
Gostava de festas e de rodeios — seguindo os passos do pai, laçava em eventos da região. E não perdia a oportunidade de "assar uma carne".
— Ele ligava quase toda semana convidando para um churrasco. Dizia: Ju, traz os amigos — conta a amiga Juçara Maciel, 56 anos, professora.
A trilha sonora que regava esses encontros, normalmente, era composta por MPB, rock ou música nativista. A amiga se refere a ele como um homem alto astral e também muito generoso.
— Era um anjo em forma de humano. Uma pessoa que, se alguém precisasse, tirava a roupa do corpo para entregar.
Uma amiga próxima, que preferiu não ter o nome publicado, diz que o gaúcho passou por uma tragédia pessoal antes de ir para Ucrânia. No começo de 2022, o ex-militar perdeu um dos melhores amigos de infância. Arrumou um caminhão de flores para carregar o caixão, e não saiu do lado do corpo durante o velório.
— Ele sempre foi muito prestativo, a ponto de dar tudo para ajudar o próximo. Até mesmo a vida — relata. — Hoje, não podemos nem arrumar ele. Nem velar ele.
Denise conta que ele escolheu ir para a Ucrânia porque queria se sentir e ser útil e “ajudar as crianças que estavam lá sofrendo”. A família tentou dissuadi-lo da ideia, sem sucesso. Ele se comunicava quase diariamente com os pais por mensagens de texto, e o último contato foi com a mãe na terça-feira (28), por telefonema.
— Ele disse que ia para o front e lá não tinha internet, nem energia. Iria ficar uns dias incomunicável — diz Denise. — Ele foi, na verdade, para missão humanitária, não era para combate. Mas ele tinha conhecimento, por ter ficado alguns anos no Exército, e era muito inteligente. Acho que por isso que acabou na linha de frente.
A família foi comunicada da morte por outros brasileiros que estavam com ele. Ainda não há informações sobre translado do corpo ao Brasil.
*Colaborou Bruno Tomé