A estimativa é que cerca de 25 toneladas sejam comercializadas na tradicional Feira do Peixe Vivo durante a Semana Santa, que antecede a Páscoa, em Caxias do Sul. Se concretizado, o volume alcançará o mesmo patamar de 2019, antes da pandemia.
No ano passado, foram vendidas 18 toneladas e, em 2020, o evento foi cancelado em função da pandemia de covid-19. O recorde de vendas foram as cerca de 50 toneladas de peixe negociadas em 2009 e em 2013.
— Nossa expectativa é vender mais, mas acreditamos que ficará entre 20 a 25 toneladas na Semana Santa. Se formos somar a produção que eles (piscicultores) comercializam nos pesque-pagues e na feira do Ponto de Safra, chega de 35 a 40 toneladas. Por isso, nossa intenção é manter esses programas, e até aumentar as iniciativas para incentivar a participação — explica o diretor técnico da Secretaria da Agricultura, Fernando Vissirini Lahm dos Reis.
Na cidade, há cerca de 20 piscicultores sendo que, destes, 10 participam de eventos para a venda de peixes com mais frequência. Alguns também vendem peixes uma vez por mês, na segunda sexta-feira, no Ponto de Safra da Praça Dante. Outros mantêm nas propriedades os pesque-pagues. Neste ano, seis produtores estarão na Praça Dante Alighieri, de 12 a 14 de abril, para vender os produtos. O diretor explica que alguns produtores tiveram perdas em razão da estiagem, mas não é o caso dos que vendem na Feira do Peixe Vivo, porque se preparam para lidar com a falta de chuva.
— Visitei algumas propriedades para verificar porque ocorria a morte de peixes. Muito disso era decorrente do aquecimento da água, da diminuição do nível da água e do aumento do crescimento de fitoplantas que competem com a oxigenação de água. Os que participam dos nossos eventos têm equipamentos como o aerador, que é como um chafariz, responsável por incorporar o oxigênio na água. É uma máquina que tem pás e faz o movimento da água, coloca oxigênio porque quebra a barreira de temperatura, entre o fundo e a superfície dos açudes. Os produtores criam essas condições para dar essa oxigenação. Por exemplo, se a lâmina da água está quente o peixe não vai em busca de alimento na superfície. Ele fica no fundo. Aí, os produtores mudam o horário de alimentação deles. Eles conseguem manter a boa qualidade dos peixes apesar do impacto da falta de chuva — detalha Fernando.
Preparo nas comunidades
A maioria dos clientes que chega na Praça Dante Alighieri em busca de peixes para consumir na Sexta-Feira Santa nem sempre se dá conta de que nas propriedades do interior o trabalho começa meses antes. Em Loreto, na Segunda Légua, os irmãos Rodrigo, 39 anos, e Fernando Zangalli, 36, criam peixes há mais de 15 anos.
— Com a nossa topografia é difícil fazer açude, mas a gente faz de teimoso. Não tem como trabalhar só com uma cultura, então, a produção de peixe é uma das nossas quatro produções. Primeiro vem a uva, depois bergamota, pêssego e, então, os peixes — explica Rodrigo.
Leva dois anos para que os peixes se desenvolvam completamente. Os irmãos têm oito açudes, três deles pequenos, onde criam os alevinos, que é a forma embrionária do peixe. Os outros cinco são para criação dos peixes, ou seja, para engordar o peixe. É onde fica o tratador, que é programado para disparar alimentos na água, e o aerador.
— A gente compra os alevinos e coloca nos açudes mais pequenos. No primeiro ano, eles vão me gerar um peixinho médio. Então, colocamos eles num açude maior, para depois de um ano tirar os peixes prontos para vender. Vendemos geralmente peixes de dois a três açudes. Nesse ano, vamos vender de dois. A produção planejada era de 10 toneladas por ano, mas hoje a expectativa é vender de sete a oito toneladas. Antes da pandemia, vendíamos mais —ressalta Rodrigo.
Perto dali, na propriedade da família Perini, a piscicultura não é a principal fonte de renda. Eles produzem laranja, bergamota e uva, mas trabalham com a produção de peixes há anos.
— Participamos da feira no Ponto de Safra, mas vende pouco, não é muito expressivo. A criação mesmo é para vender na Feira do Peixe Vivo. Ela é um complemento da nossa produção, mas não daria para viver só disso. Vende bem, mas já foi melhor — afirma Josué Perini, 26, que conta que o pai Sérgio, 58, é quem se dedica mais a criação.
A estimativa do produtor é de comercializar cerca de quatro mil quilos de peixes nesta Semana Santa.
— Baixou o nível de água do açude e não deu para tratar os peixes como devia. Todos os anos a gente calcula umas cinco toneladas, mas são três anos de seca, então acreditamos que nesse ano vamos conseguir vender cerca de três a quatro toneladas. Vamos tirar os peixes de três açudes —destaca Perini.
Os produtores ressaltam ainda que a chuva da última quarta-feira (23), ajudou a recuperar o nível dos açudes.
— A maioria deles recuperou o nível, foi muito boa a chuva — avalia Perini.
O momento da despesca
Como o objetivo é comercializar peixes vivos, eles precisam ser retirados da água poucos dias antes da feira para serem mantidos em tanques até serem transportados para a Praça Dante. Os Zangalli vão começar a retirar os peixes da água na segunda-feira (11). Esse processo é chamado de despesca.
— Nós escoamos o açude e fazemos a despesca no dia anterior. Temos que ter mais pessoas para ajudar. Tiramos eles (peixes) da água com a rede e colocamos em tanques de rede, em outro açude menor. Eles são separados por espécies. É tudo manual — ressalta Rodrigo.
Ele conta que é um momento de tensão para que não ocorram problemas:
— Vender é a última etapa. Antes temos que ter tudo programado, se chover, por exemplo, a água não baixa como deveria, e se faltar luz temos que monitorar o aerador. A despesca é trabalhosa. Tem que ter o cuidado para não não machucar os peixes e manter eles bem até chegar lá para comercializar.
Perini conta que é preciso de 15 a 20 pessoas para ajudar na tarefa:
— Passamos a rede de arrastão e colocamos eles nos tanques para ficar mais fácil para o transporte. O tanque de rede é armado dentro do outro açude. Se estiver 0 ou 25 graus tem que entrar na água para manusear as redes e os tanques.
Depois, os peixes ficam nos tanques até serem colocados nos caminhões.
— Fizemos caixas com tubulação e oxigênio e eles ficam acondicionados. Levamos para a feira e, conforme a necessidade de venda, temos que buscar mais na propriedade — complementa Rodrigo.
O produtor finaliza:
— A produção é de outubro a março. Depois da feira, a gente seca o açude, limpa, aduba, coloca a água e colocamos os alevinos para ter peixes para o ano que vem. Começa tudo outra vez.
A Feira
:: O quê: Feira do Peixe Vivo
:: Quando: de 12 a 14 de abril
:: Onde: na Praça Dante Alighieri, em Caxias
:: Horário: das 8h às 18h
Preços*
:: Carpa comum: R$ 16
:: Tilapia e carpa-capim: R$ 19
:: Bagre: R$ 22
*Os preços são estipulados e padronizados pela Secretaria de Agricultura