Para manter as portas abertas, a Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (Patna) de Caxias do Sul precisa da ajuda da comunidade. A entidade, que atua na recuperação de dependentes químicos, lança a campanha Abra os Olhos - A dependência química é um problema real. Com o lema Toda vez que você fecha os olhos para uma situação, ela não deixa de existir, a campanha terá o QR Code, que é uma espécie de código de barras, para que as pessoas façam doações usando o aplicativo do banco instalado no celular.
O tema quer chamar a atenção, já que o orçamento necessário para manter a entidade é de cerca de R$ 45 mil a R$ 50 mil por mês. Além da sede na Rua Pinheiro Machado, a Patna mantém uma comunidade terapêutica no interior de Caxias. Chamada de Fazenda, a estrutura conta com casa de acolhimento, cozinha, casa administrativa, CT de adolescentes, CT de adultos, piscina, capela e um sacrário. Cinquenta pessoas estão envolvidas no trabalho de recuperação, sendo 15 remuneradas e as demais voluntárias.
— As pessoas não se dão conta que é um serviço que funciona 24 horas por dia, de domingo a domingo, não para nunca. A gente precisa de funcionários, não podemos trabalhar só com voluntários. Temos psicólogos, assistentes sociais e os monitores, que trabalham diretamente na comunidade — ressalta uma das fundadoras e voluntária da Patna, Maria de Lurdes Fontana Grison, a Lurdinha.
Na comunidade há uma média de 35 acolhidos e na sede é feito o atendimento aos familiares:
— Só com alimentação na fazenda temos um gasto de R$ 12 mil por mês. A nossa folha de pagamento é de cerca de R$ 30 mil. Temos o Estado e a União que compram vagas na comunidade, mas esses pagamentos são feitos com atrasos e isso nos deixa apreensivos. Se esse valor fixo mensal fosse pago sem atraso não resolveria o problema, mas nos deixaria mais seguros — diz Maria de Lurdes.
A cada mês, é necessário realizar ações para arrecadar cerca de R$ 15 mil.
— Nós gostaríamos de ter doações fixas todos os meses, de empresas e da comunidade, como se fossem boletos mesmo. Todos os meses fazemos eventos, rifas, almoços e jantares e tem o bazar também. Mas, para abrir, precisamos de voluntários. É uma luta todos os meses — desabafa Lurdinha.
O presidente da Patna Darci Júnior Nunes reforça o pedido de ajuda para que a entidade siga com o trabalho, que é essencial à sociedade.
— A Patna acolhe as pessoas para que elas encontrem um novo norte e trazemos essa esperança e esse retomar da vida. Nosso lema é acolher vidas, reinventar histórias para que eles possam voltar ao convívio em sociedade de forma harmoniosa.
Ele conta que o amor ao próximo o levou ao voluntariado.
— Há preconceito e julgamento com a dependência química. Ela é uma doença e precisa ser tratada. Para isso, o familiar também precisa de apoio. A Patna tem a capacidade de prestar esse atendimento. Peço que as pessoas acolham nosso pedido de doações com amor no coração.
Despertar para a vida
Sentados na capela da fazenda, os acolhidos rezavam juntos na manhã chuvosa e nublada de quarta-feira (30). O monitor e músico Roberto Faleiro Martins, 51 anos, que venceu a dependência química e trabalha na Patna desde 1996, tocava violão. De olhos fechados, com as mãos no peito, o grupo sentia com o coração cada palavra do louvor:
— Para mim é o momento que eles têm o despertar de que há uma nova chance de viver, viver sem o uso de uma substância. As letras têm uma mensagem de quem passou por alguma coisa e conseguiu superar e que leva a um despertar espiritual. A gente trabalha esse contato com algo sagrado. A música é uma arte e preenche um grande espaço na minha vida. A usamos na comunidade porque motiva os internos a continuar.
Cleiton Roos, 29, também é monitor na fazenda. Ele fez o tratamento na comunidade em 2011. Foi naquela época que pensou em trabalhar para ajudar na recuperação de dependentes químicos.
— Meu pai sempre foi um homem muito sério e trabalhador, e dificilmente eu vi ele chorar. Lembro que um dia eu cheguei em casa depois de virar duas ou três noites e ele estava chorando no sofá porque tinha descoberto que eu estava no crack. Ali eu decidi me tratar e procurar ajuda.
Ao ouvir a palestra de um monitor, ele percebeu que podia seguir um caminho profissional e ajudar outras pessoas:
— Comecei como voluntário e fui para outras comunidades e voltei como profissional. A sociedade tem que reconhecer o trabalho feito na Patna. Fico até sem palavras quando lembro quantas vidas foram resgatadas. A Patna recupera famílias. Hoje sei que posso ser um pai para o meu filho e ver o sorriso do meu pai e da minha mãe, que eles podem dormir tranquilos. Eu sou muito grato.
Se reinventar
Na fazenda, os internos são divididos por setores e cumprem tarefas diárias. Entre elas, cuidar dos animais que foram abandonados e acolhidos na comunidade. Na capela é onde ocorrem os momentos de união. É lá que durante o louvor eles se entregam às músicas. Nos olhos, gestos e no semblante de cada um, em especial, com o louvor Despertar pra Vida, que conta a história de um dependente químico, a emoção era visível. A composição é de Marcus Picada.
" ....Estava tão desesperado. Será que alguém pode me ajudar? Mas como alguém pode me ajudar? Se nem amigos mais tenho para me acompanhar. E minha família em mim não acredita mais. Já estão cansados das minhas mentiras. Então pela primeira vez eu chorei. Pedi para Deus me ajudar. Me tira dessa que eu não aguento. Essa dor me dói demais. Quero uma chance para mudar de vida. E foi assim meu despertar pra vida"
— Esse lugar é meu novo lar. Me sinto renovado. Aqui eu descobri a vontade de viver novamente. Estou fortalecido — conta um jovem que está internado há oito meses e três semanas.
Essa é segunda internação dele, que começou a usar drogas aos 22, mas teve contato com o álcool aos sete.
— Fiquei 19 dias em casa e recaí. Estou aqui porque Deus quer. É um chamado. A fazenda nos devolve a vida. Temos a chance de nos reinventar.
Dependente químico desde os 11, outro abrigado ficou cinco anos sem usar drogas. Até descer novamente ao inferno:
— Trabalhei para o tráfico. Eu vendia cocaína para comprar crack. Não tinha mais controle. Aqui tu recupera a autoestima, a vontade de viver. É o recomeço, a retomada da tua vida.
Para ele, o louvor é o termômetro da fazenda:
— É o momento de união. Deus faz tudo, mas eu tenho que caminhar.
Há seis meses e duas semanas na comunidade, outro rapaz conta que começou a usar maconha aos 20 anos e cocaína aos 22. Ele lembra que a dependência não tem cura, mas tem tratamento. Por isso, destaca a importância do atendimento prestado na fazenda e o suporte que a equipe presta a quem quer recomeçar:
— O programa é para quem quer mudar, para descobrir o que te levou à dependência e a entender a nossa doença e saber lidar com ela lá fora. Estou na fase da reinserção. Fui para casa. Lá me senti tão bem, acolhido. Como se eu tivesse ganhado uma nova chance de dar orgulho para a minha família. A espiritualidade e a fé nos mantêm em pé.
Quatro dias antes de completar 12 anos, outro acolhido teve contato com drogas pela primeira vez. Ele estava com adolescentes e usou drogas injetáveis.
— Em busca de aprovação me injetei. Eu tinha uma boa estrutura familiar e fui criado em uma cidade do interior, mas tive contato com drogas muito novo.
Ele passou três etapas da vida sem usar álcool e drogas.
— Nesse tempo eu consegui evoluir. Me reaproximei da minha família, de Deus e me recuperei no lado financeiro. Só que tem que ter disciplina. E quando deixei de praticar a fé, a espiritualidade, eu recai.
Para tentar se manter firme na retomada de própria vida, ele anota tudo o que é falado nas reuniões:
— Preciso aprender a criar raízes com a recuperação. Me manter limpo e ter uma vida de respeito e digna. Minha vida aqui é assim: acordar e fazer o bem para mim e para os outros. A Patna nos ajuda a ser melhores e é a esperança de um dia novo.
Ajude
:: Você pode ser um voluntário ou doar dinheiro.
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