A presença de chuva no final do dia tem sido comum nas últimas semanas de calor intenso na Serra. Essas chuvas costumam ser rápidas e de baixo volume, ou a famosa "chuva de verão", comuns neste período. Contudo, o que tem chamado a atenção são as fortes tempestades que têm atingido a região. Desde o dia 17 de janeiro, já foram emitidos cinco alertas pela Defesa Civil a respeito de chuva intensas, ventos de até 80 km/h e a possibilidade de granizo.
Nesta semana, as tempestades causaram estragos em diversas cidades como Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Cotiporã, Campestre da Serra, Fagundes Varela, Farroupilha e Serafina Corrêa. Na terça-feira (25), as rajadas de vento chegaram a atingir 84km/h em Bento Gonçalves, por exemplo. A tempestade deixou oito árvores caídas, três casas destelhadas, além de uma fábrica com telhado e muro parcialmente destelhado e derrubado.
Segundo Carine Gama, meteorologista da Climatempo, estas chuvas de verão intensas são mais comuns nos estados acima do Trópico de Capricórnio. A faixa do Brasil que pertence ao trópico é marcada por essas características de sol intenso durante o dia, calor e pancadas de chuva a tarde. Conforme ela, a maioria dos alagamentos em São Paulo são causados por estas pancadas de chuva intensa, mas esses acontecimentos não são típicos do Rio Grande do Sul, pois o Estado está localizado abaixo desse trópico.
Conforme Carine, a chuva rápida é normal durante o verão, mas foi potencializada pela onda de intenso calor que predomina sobre todo o Estado. A metereologista ressalta ainda que a temperatura muito alta somada à umidade são fatores que explicam a formação dessas pancadas isoladas, com curta duração e forte intensidade.
— Além destes dois fatores, outro agravante é a topografia da Serra, o relevo acidentado tem uma circulação chamada brisa vale-montanha, que gera chances de chuvas mais fortes — detalha Carine.
As maiores preocupações associadas à brisa vale-montanha são as rajadas de vento e leve turbulência. A formação e intensidade da brisa vale-montanha depende da diferença de temperatura na superfície criada pelo aquecimento durante o dia e, resfriamento, durante a noite, que são amplificados em dias de céu claro e em solos secos, características presentes na Serra que passa por um período de estiagem.
Chegada de uma frente fria
Nas próximas semanas, diz Carine, esse padrão deve se alterar por conta da chegada de uma frente fria. Além da diminuição da temperatura, também vai ocorrer o aumento do volume de chuvas. O fenômeno deverá ser provocado pela frente fria e não mais pela combinação entre o calor e a umidade. Ao contrário das chuvas de final de tarde, nos próximos dias, a pluviosidade pode ocorrer a qualquer momento. Ainda há chance de tempestades e trovoadas.
Nesta quarta (26) e quinta (27), o índice de tempestade segue alto, de acordo com a meteorologista. A frente fria chega trazendo chuva com intensidade forte e previsão de granizo ainda na quarta, e chuva com grande volume, na quinta.
Carine alerta para o risco de temporal, com condições para raios e intensas rajadas de vento. Além disso, a temperatura deverá diminuir. Mesmo sem expectativa de frio, a diferença será bastante expressiva em relação aos últimos dias.
— Na quinta, a frente fria avança pelo estado e a chuva pode começar pela manhã com acumulados de 20 a 30mm e com previsão de queda de até 10°C na temperatura — detalha a meteorologista.
A partir da sexta, as máximas ficam em torno de 24°C durante os próximos dias. Além disso, conforme Carine, o cenário é de céu encoberto e previsão de pancadas de chuvas esparsas. A estimativa do acumulado de chuva em janeiro, em Caxias do Sul, chegou a 80mm, sendo que a média mensal costuma ser de 160mm. Já os dados da estação de Bento Gonçalves apontam um acumulado de apenas 50mm de chuva, quando a média é de 170mm mensais.
E a previsão de fevereiro?
A estimativa é de temperaturas amenas, céu nublado e chuvas mais frequentes na primeira quinzena de fevereiro. Apesar da trégua, o calor deverá reaparecer nas últimas duas semanas. Carine aponta ainda que as temperaturas não serão as mesmas da onda de calor que assolou a Serra nas duas primeiras semanas de janeiro.
A meteorologista avalia que nos últimos dias de janeiro, a temperatura esteve cerca de 10°C acima da média, já em fevereiro as ondas de calor não devem ser de longa duração e as temperaturas devem ficar entre 4° e 5°C acima da média. Até agora, em Caxias do Sul, a média de temperatura máxima é de 27 °C.