Um encontro planejado há quase dois anos finalmente aconteceu no último domingo, na Serra. O pequeno Théo Camargo Corrêa, de oito anos, de Gravataí e, o morador de Farroupilha, Jonathan Rosa Trevisol, 26, se encontraram no dia do aniversário do garoto. Mas o que de tão especial os une? Um ato de solidariedade capaz de salvar a vida do menino.
Em 2017, o morador da Serra fez o transplante de medula óssea para Théo, que enfrentava uma leucemia aos três anos. À época, Jonathan não podia saber nenhuma informação do paciente que seria beneficiado — o sigilo entre o doador e receptor faz parte do processo e é aceito como condição para a cirurgia por ambas as partes.
A possibilidade de revelação entre os envolvidos só é concedida mais de um ano depois do procedimento, se for desejo de ambos. Assim, vencendo as partes burocráticas e a lentidão do processo, Jonathan e Théo tiveram o primeiro contato, por chamada de vídeo, em agosto de 2020, justamente na pior fase da pandemia.
— Na época, eu só fui informado que era uma criança e o peso dela. Mas, quando deu o prazo que eu poderia demonstrar interesse em conhecer o receptor, eu mandei e-mail até me responderem, que foi em junho de 2019. Eu queria saber o que tinha acontecido — conta Jonathan.
Diante da pandemia, o encontro presencial foi sendo adiado até que finalmente os dois puderam se abraçar no último domingo, em Farroupilha. De lá para cá, contudo, não faltaram chamadas de vídeo, ligações e demonstrações de afeto entre os dois.
— Eu sinto gratidão e um sentimento de dever cumprido. É uma coisa tão simples, uma amostrinha de sangue, que demora dois minutos, pra retirar. Poderia ser uma pessoa de qualquer lugar do mundo, mas foi o Théo, aqui de pertinho — diz o morador da Serra.
— O Théo diz "mãe, o sangue do John corre dentro de mim". E eu digo: "é isso aí filho". Ele tem esse sentimento que o Jonathan salvou ele e são como irmãos. Agora, no fim de semana, eles não se desgrudaram, parecia que se conheciam de outra vida — relata a mãe do Théo, a dona de casa Vanderleia Camargo Corrêa.
"Você pode salvar alguém como o Jonathan salvou meu filho"
O transplante de medula deu certo e, hoje, Théo consegue ter uma rotina normal, com muitas brincadeiras e estudo. Mas o caminho até aqui não foi fácil, como lembra a mãe. O diagnóstico de leucemia veio quando o pequeno tinha apenas um ano e oito meses, após idas ao hospital diante de uma febre que não passava.
Foram muitos dias de internação, idas e vindas ao hospital, medicações e tratamentos até que, em 2016, a família de Gravataí foi informada que o menino precisaria passar pelo transplante de medula. Os pais, Vanderleia e Gilberto, até testaram, mas não eram 100% compatíveis com o filho.
— Quando eu soube do transplante, eu desabei, porque convivemos com as pessoas no hospital. Perdemos muitos amiguinhos que precisavam do transplante e não tinham um doador compatível. Ficamos desesperados, mas como somos muito tementes a Deus, começamos a fazer orações. A médica disse, então, que iria colocar o Théo no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea). Não deu 20 dias, me ligaram e falaram que encontraram um possível doador. Ele foi muito abençoado — recorda Vanderleia.
Os registros do Théo e do Jonathan só se cruzaram no cadastro nacional porque entre 2014 e 2015 o morador da Serra participou de uma campanha para beneficiar uma criança de Farroupilha.
— Eu e mais uns colegas fizemos o cadastro para tentar ajudar. Infelizmente, ninguém foi compatível, mas meus dados ficaram no Redome. Aí, em 2016, eu fui notificado que havia sido compatível (com o Théo) — relembra Jonathan.
A mãe da criança reforça a importância de as pessoas se cadastrarem no banco nacional e, assim, ajudarem a salvar vidas:
— Muita gente acha que vão abrir a coluna, mas é uma coisa totalmente diferente. É uma agulha que tira alguns mililitros de sangue e isso pode salvar alguém. Então eu peço que as pessoas façam o cadastro, sejam doadores de medula. Você pode salvar alguém assim como o Jonathan salvou meu filho, a minha família — pede, emocionada, a moradora de Gravataí.
COMO SE CADASTRAR PARA SER DOADOR EM CAXIAS
:: O cadastro pode ser feito junto ao Hemocentro Regional de Caxias do Sul.
:: O endereço é Rua Ernesto Alves, 2260, Centro.
:: Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (54) 3290-4536 e 3290-4543.