A vacinação contra o coronavírus para as crianças ainda está engatinhando em Caxias do Sul. Ainda que os sinais indiquem que a procura tenha começado a se intensificar nesta semana, até os últimos dados fechados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) apenas 5,58% da meta foi atingida. Com a procura baixa, a prefeitura ampliou as idades aptas para receberem a primeira dose e a, partir desta quinta-feira (27), crianças de 6 a 11 anos poderão ser vacinadas, além da faixa etária de cinco aos 11 com alguma comorbidade. Em seis dias de campanha, foram 2.793 crianças imunizadas contra a covid-19, o que representa uma média geral de 51 doses por dia. No entanto, existe capacidade para ir além.
Ainda é preciso compreender que a vacinação está aumentando aos poucos. No último sábado (22), o clima foi de total frustração porque algumas unidades básicas de saúde (UBSs) foram abertas justamente para este fim e somente 295 crianças receberam as doses. Na segunda-feira (24) já foram 443, passando para 544 na terça (25). Nesta quarta (26), o Pioneiro compareceu à UBS São Caetano e o movimento no início da tarde era bom, exigindo que duas salas fossem disponibilizadas para a vacinação. Ainda assim, a procura ainda é considerada abaixo do esperado.
— Dado a ser uma região tão grande (Zona Sul), acho que o movimento é baixo. Teve apenas um dia em que foram 83 doses aplicadas e, nos demais, a média é de 60. Até no sábado a gente abriu e fez 63 doses contra a covid — relata Josiane da Rocha Oscar, técnica de enfermagem da UBS.
A imunização infantil também tem suas peculiaridades, que vão além da dose pediátrica da Pfizer. Por se tratar de crianças, a aplicação pode demorar mais do que em um adulto e varia de acordo com cada um. Desde o medo de agulha, questionamentos ou até aquelas que só os pais podem segurar, são muitas nuances que diferem a imunização infantil da de adultos.
— Há uns que chegam preparados, porque os pais conversam em casa e, nesse caso, é bem tranquilo. Só que tem outras crianças que podem ter algum trauma ou medo, aí é preciso o convencimento. Em outros casos, o pai ou a mãe segura para que que possamos aplicar — relata Josiane.
Esse caso é bem comum. Na presença da reportagem, algumas crianças sequer esboçaram medo. Por outro lado, algumas acabaram se alterando quando entraram na sala de vacinação. Aí, só resta o responsável para conseguir convencer ou segurar a criança. Os profissionais da UBS São Caetano também relatam casos de crianças mais participativas, que questionam desde a dor até a rotina de trabalho.
Pontos que ressaltam a preparação dos profissionais antes de começar a campanha da faixa etária, justamente por ser necessário tratar com maior leveza o público-alvo. Em média, o tempo de espera ontem estava entre 30 a 40 minutos, mas esse período também variava conforme a procura, além da existência de casos onde os menores receberam imunizantes do calendário normal, o que afetava o atendimento.
Atingir a meta levará tempo
A baixa procura pelos imunizantes fez Caxias do Sul ampliar a vacinação para seis anos antes de encerar o mês de janeiro. Estima-se que 50 mil crianças estejam aptas a receber doses contra o coronavírus na cidade, de acordo com dados e projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, como o Censo não é realizado desde 2010, o número pode não representar a realidade e a resposta final virá com a conclusão da campanha. Ainda assim, existem desafios enormes para atingir essa meta, como superar a desinformação.
Em entrevista ao Pioneiro, nesta semana, o diretor-executivo da Secretaria da Saúde, Dino Lorenzi, ressaltou que os pais precisam vacinar os filhos e não acreditarem que a variante Ômicron seja apenas uma gripe leve, porque ela pode trazer sérios riscos. Por enquanto, a SMS ainda estuda se irá realizar um novo mutirão no próximo final de semana – o martelo deve ser batido na quinta.
A campanha para esse público também possui algumas regras, o que dificulta a ampliação em mais locais do município. Por determinação do Ministério da Saúde e do governo do Estado, as salas devem ser específicas para esse fim e as UBSs não podem ter testagem de suspeitos no mesmo local, justamente para não expor o público ao vírus. Em Caxias, são nove locais específicos: Unidade Básica Vacinadora (UBV) Alvorada e as UBSs Bela Vista, Belo Horizonte, Mariani, Pioneiro, Planalto Rio Branco, São Leopoldo e Século XX. Esses locais poderão ser alternados, conforme avance a campanha ou a procura por testes reduzam.
Como a campanha é determinada pelo Estado a ficar concentrada nesses locais, ainda não é possível expandir às escolas. Isso também limita as campanhas municipais de tentarem se aproximar dessas comunidades. Em suma, somente quando a nova explosão de casos for controlada, a SMS poderá levar as vacinas para mais postos de saúde.
A UBS São Caetano não vacinará crianças a partir de quinta e voltará a atender suspeitos da infecção, após a reabertura da UBV Alvorada, fechada por uma semana em razão de funcionários afastados por coronavírus. O município também aguarda a Nota Técnica sobre a aplicação da CoronaVac em crianças de seis a 11 anos sem comorbidades. Até por isso, as doses desse imunizante ainda não estão disponíveis para essa faixa da população.