Roupas, acessórios, itens de decoração e produtos artesanais estão sendo comercializados neste sábado e domingo (18 e 19) para ajudar a arrecadar recursos para a manutenção da casa de acolhimento voltada à população LGBTQIA+ em Caxias do Sul. Inaugurado em maio de 2021, o espaço é mantido pela ONG Construindo Igualdade, que organiza, neste final de semana, a primeira edição do Bazar & Brechó de Natal. O evento ocorre das 9h às 18h na sede da entidade, que fica localizada na Rua Miguel Muratore, 427, bairro Medianeira.
Os itens variam de R$ 5 a R$ 15 e há desconto para quem levar mais peças. Com exceção das roupas e dos calçados que foram doados, todos os produtos são artesanais e feitos por moradores da casa ou parceiros da ONG. Uma mesa com pães, cucas e grostolis também foi montada para venda. Essa é a segunda vez que a ONG organiza um bazar para arrecadar recursos. Na primeira oportunidade, a ação foi feita para ajudar uma moradora da casa a custear o tratamento de uma doença conhecida como síndrome de Addison.
De acordo com a diretora da ONG Construindo Igualdade, Cleonice Araújo, o movimento durante este sábado foi tranquilo. Porém, ela espera que quem procurou por informações pelo WhatsApp visite o local no domingo.
—Muitas pessoas entraram em contato para reservar peças. Usamos as redes sociais para divulgar o que estamos produzindo e oferecendo. Todas as semanas postamos fotos das meninas costurando e fazendo peças de decoração, bolsas, entre outros itens — explica.
Os recursos obtidos com o bazar, segundo Cleo, serão utilizados para a manutenção da residência, que é considerada a primeira no Rio Grande do Sul para acolhimento da população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. Mensalmente, ela precisa reunir de R$ 3,5 a R$ 4 mil para manter o espaço aberto.
Somente no aluguel, são investidos R$ 1,2 mil e a chegada do reajuste do valor e o pagamento do IPTU preocupam. Além disso, alimentação, água, luz e internet também são despesas que precisam ser quitadas todos os meses.
Sem aporte de recursos públicos, a ONG conta com doações da comunidade e trabalho de voluntários.
— Qualquer valor é bem-vindo e faz muita diferença. O aluguel eu sempre tento deixar dois ou três meses adiantados, justamente para manter esse espaço aberto. Ou seja, até fevereiro estamos aqui e, depois, precisamos correr atrás para manter os meses seguintes. Não deveria ser a gente, do movimento social, a fazer isso. Queríamos ver ações do poder público, mas infelizmente não temos — explica.
Ao todo, a casa de acolhimento atendeu 35 pessoas ao longo de 2021. A capacidade do espaço permite atender até 21 pessoas ao mesmo tempo. A permanência de cada morador acolhido deverá ser de um ano, período no qual poderá completar a escolaridade, caso ainda não tenha se formado, ou mesmo se preparar para provas como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A maioria, segundo Cleo, permanece na casa de um a dois meses, encontra uma residência fixa, mas continua atuando de forma voluntária com a ONG.
Também são disponibilizados cursos e atividades em artesanato, panificação, confeitaria, assim como capacitação em informática, em parceria com o Senac. Para o ano que vem, novas edições do bazar serão organizadas, incluindo versões temáticas, principalmente usando o potencial de aprendizado de quem está na casa.
Atualmente, a casa abriga 11 moradores. Entre eles, o auxiliar de produção Kauan Rodrigues, 20 anos. Vindo de São Luiz Gonzaga, na região das Missões do Rio Grande do Sul, ele foi o segundo a ser acolhido pela ONG.
Kauan conta que depois de uma discussão familiar devido à sua orientação sexual começou a procurar outras moradias. Nessa época, após ler uma reportagem, soube da existência de uma casa de acolhimento em Caxias do Sul. Pediu dinheiro para amigos para pagar a passagem de ônibus até a Serra gaúcha.
Por aqui, encontrou um trabalho formal em uma metalúrgica, prestou o Enem e aguarda o resultado. Quer voltar a cursar Ciências Contábeis.
—Se não fosse a ONG, talvez ainda estaria na minha cidade e sem ter conquistado o que eu consegui aqui. Devo tudo a essa casa — conta.