Uma moradora de 47 anos flagrou um homem empurrando um contêiner de lixo na Rua Feijó Júnior, no bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul, por volta das 6h do último sábado (30). Ele caminha lentamente pelo meio da rua, com o recipiente amarelo, onde são descartados os resíduos seletivos, e é acompanhado por outro homem, que segue na calçada. A mulher, que prefere não se identificar, conta que o marido saia para trabalhar quando ouviram buzinas na rua e flagraram a cena ao olhar pela janela do prédio onde vivem.
— Eles estavam simplesmente andando no meio da rua empurrando o cesto do lixo e nem bola para as pessoas que estavam chamando a atenção deles. Os carros passavam, buzinavam, faziam sinal e eles tranquilos, como se a rua fosse deles. Essas coisas que quem mora aqui em São Pelegrino conhece bem. Das 3h às 6h eles fazem horrores. Levam as tampas das calçadas, letreiros dos prédios, quebram vidraças e levam tudo o que acham que podem vender — conta ela.
A moradora ressalta que decidiu gravar o vídeo porque já percebeu que outros recipientes amarelos sumiram, especialmente na Rua Feijó Júnior, nas proximidades da Sinimbu.
— Quando eu vi aquela cena eu disse para o meu marido: "eu vou gravar, agora eu sei o que aconteceu com os lixos". Na Feijó Júnior, Os Dezoito do Forte, na Júlio até a La Salle, faltam muitos desses contêineres. Ou seja, eles estão levando, largando em algum lugar, e nem sempre tem sido colocados de volta no ponto de onde foram levados — afirma.
Ela conta ainda que na sexta-feira (29) usou uma lixeira na esquina da Os Dezoito do Forte com a Coronel Flores, e na última segunda (1º), quando passou por ali, o recipiente também havia sumido. A retirada dos contêineres de lixo provoca indignação:
— É um transtorno para a comunidade e têm pessoas que não se tocam e largam o lixo no chão. A cidade já está um nojo porque os catadores reviram o lixo à noite e de manhã tem lixo espalhado por tudo. A gente fica indignado porque também é um prejuízo para a Codeca e, consequentemente, para nós, contribuintes. Ficamos chateados de não conseguir conter essas depredações.
O marido dela contatou a Brigada Militar, que orientou a acionar a Guarda Municipal.
— Liguei para a Guarda Municipal para ver se encontravam eles no caminho e que fizessem eles trazer de volta porque imaginamos que eles levem os contêineres para a Rua Cristóforo Randon, que é onde tem aquele acúmulo de lixo. Eles nos passaram que iam verificar a situação.
O que diz a Codeca
A presidente da Codeca, Helen Machado, explica que há situações pontuais, em que os catadores de lixo movimentam os recipientes de um ponto a outro.
— A equipe acaba localizando o contêiner, que é o caso deste que foi informado. Ele foi encontrado na Rua Cristóforo Randon. A gente recorrentemente precisa fazer a identificação de onde estão os contêineres. Antigamente, a Codeca teve um contrato de GPS que facilitaria muito o rastreio, mas que infelizmente não teve continuidade e acabamos ficando sem. Mas é um projeto que queremos implantar assim que estivermos numa melhor situação financeira. O que vem acontecendo até hoje é isso. Eles movem os recipientes, até porque é um contêiner que não é fácil de esconder — afirma ela.
Até o momento, 97 contêineres foram incendiados desde o começo do ano, sendo que são 30 a menos que em 2020. Contudo, a presidente afirma que há danos que são irreversíveis e nem sempre há como repor os recipientes. Também há materiais pichados e outros sem as peças de metal, como as rodas. Para se ter uma ideia, em média 470 precisam de manutenção por mês. Isso equivale a um gasto de cerca de R$ 120 mil por mês para o Codeca.
— Não temos fôlego nem financeiro, nem operacional para poder dar vazão. Temos problemas que já foram relatados de vandalismo e de uso inadequado. Se a comunidade coloca um resíduo que o caminhão não consegue levantar, porque ele foi feito para erguer determinado peso, nós temos que ir com um caminhão específico. Então vai ficar sem o contêiner no local até que a gente consiga fazer a manutenção porque não temos sobra para a substituição. Fica parecendo que estão sumindo contêineres — explica.
A presidente relata ainda que no último final de semana, os dois contêineres na Rua Vinte de Setembro, no bairro de Lourdes, foram atingidos por um carro, e acabaram danificados.
— Teve um mês que tivemos mais de 500 danificados. Claro, é importante que se diga também, que parte desse problema é causado pela nossa operação. A gente precisa mudar e estamos fazendo um processo de capacitação interna. Mas o maior problema é externo.
Ainda segundo Helen os maiores problemas são os que têm sido relatados, inclusive, em uma série de reportagens recente sobre a gestão do lixo na cidade. São eles: incêndios, danos provocados por catadores, que colocam galhos de árvores ou madeiras para deixar a tampa aberta, e o descarte incorreto, principalmente de materiais de construção civil, sofás, camas e madeiras, que são pesados e estragam o recipiente. Um exemplo foi constatado na semana passada, quando um morador relatou que os contêineres de lixo estavam cheios e havia lixo no chão na Rua Guilherme Adamati, no bairro Pio X. O contêiner amarelo estava sem as rodas. De acordo com a Codeca, dentro dele havia sido descartado material pesado, de construção civil, que não cabe à companhia coletar. Naquele caso, o estragado foi recolhido e outro foi reposto no lugar.
Problema social
Não há um levantamento do número de catadores no município, mas a presidente da Fundação de Assistência Social (FAS), Katiane Bosquetti da Silveira, aponta que há hoje 28.057 famílias inscritas no Cadastro Único e, entre elas, pessoas que trabalham com reciclagem. Também está em andamento uma proposta para construir um pavilhão para abrigar os catadores que hoje ficam na Rua Cristóforo Randon, no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz.
Guarda Municipal deve aumentar fiscalizações na região
O gerente operacional da Guarda Municipal, Alexandre Silveira, afirma que houve um chamado sobre a situação, mas os guardas não localizaram a pessoa que retirou o contêiner do local.
— Temos a dificuldade de saber a que local pertence um contêiner, porque como eles são todos amarelos e não são numerados. Então, se a pessoa tirar ele do lugar e colocar em outro, a gente passa a entender que ele pertence àquele ponto.
Ele afirma que solicitará um mapa para a Codeca para verificar onde ficam os recipientes.
— Vamos ver se fazemos rondas naquela região.