Caxias do Sul é uma cidade 100% atendida pela coleta seletiva, mas ao chegar ao Aterro Rincão das Flores, no limite entre o município e São Francisco de Paula, não é o que parece.
Com o descarte incorreto, o lixo que poderia ser reaproveitado lota o aterro sanitário comprometendo o meio ambiente e também a renda de parte dos recicladores da cidade e, ainda, provoca prejuízos ao cofres públicos. Isso porque quando se fala em descarte incorreto não é apenas a separação do lixo que não tem sido feita de forma eficiente pela população caxiense. Também há lixões à céu aberto em diversos pontos da cidade.
Tu olha essa massa de lixo e é um mar branco de plástico.
JOÃO OSÓRIO MARTINS
Secretário do Meio Ambiente
Além disso, móveis, eletrodomésticos, madeira, galhos de árvores e resíduos da construção civil são colocados dentro dos contêineres, ao lado, ou jogados em áreas isoladas, em meio a mata. Há ainda um problema social, já que aumentou o número de catadores, que ao procurar por material reciclado acabam deixando o lixo no entorno das lixeiras.
Na Semana do Lixo Zero, uma série de reportagens mostrará o atual cenário do lixo em Caxias do Sul. Nesta primeira, explicamos que a população regrediu na separação do lixo, o que tem comprometido também a vida útil do aterro.
"Toda a cidade está separando mal o lixo", afirma secretário do Meio Ambiente
Hoje, a Codeca recolhe em média 70 toneladas de lixo seletivo por dia na cidade. São vinte toneladas a menos do que antes da pandemia. Esse material é encaminhado às associações de recicladores. De resíduos orgânicos são cerca de 360 toneladas recolhidas diariamente e encaminhadas ao aterro. O problema, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) começa nas moradias e demais estabelecimentos da cidade na hora de separar o lixo seletivo do orgânico.
— Nessa área de separação do lixo Caxias do Sul tem regredido. Nós não temos nenhuma dúvida. Toda a cidade está separando mal o lixo e misturando o seletivo com o orgânico. Acaba estragando o seletivo — argumenta o secretário da Semma, João Osório Martins.
Em visita ao aterro, Martins fez questão de retirar uma sacola do meio da montanha de lixo para mostrar o que vem acontecendo na cidade:
— Tu olha essa massa de lixo e é um mar branco de plástico. Tem muitas sacolinhas, garrafas de refrigerante e pacote de salgadinho. Os mais variados materiais recicláveis estão vindo parar aqui no Rincão das Flores. Nesta sacola tem mais lixo seletivo do que orgânico — mostra ele.
Não há um levantamento oficial, mas de acordo com o secretário, quem tem mais poder aquisitivo também é quem mais consome produtos que estão em embalagens descartáveis:
— A comida, por exemplo, com a pandemia se compra muito comida embalada, que vem do restaurante pronta e essa embalagem gera muito lixo seletivo. Oficialmente não podemos afirmar qual é a área que mais comete equívocos na hora de separar o lixo, mas a área central é uma das que mais produz esse material seletivo.
Conscientizar para mudar a realidade
No Fórum de Boas Práticas Luz, Cor e Flor promovido no último sábado (23), teve troca de ideias e experiências sobre assuntos como separação e reciclagem de lixo e compostagem doméstica. O evento integra a Semana Lixo Zero de Caxias, que conta com mais de 140 ações e segue até o dia 30.
— Precisamos dessa ajuda para mudar essa dura realidade. Quem sabe a população ao ver essa quantidade de lixo que poderia ser reutilizado jogada fora no aterro volte a nos ajudar a separar melhor esse material e tirar algum proveito do que ainda tem valor, do que pode ser reciclado —avalia o secretário do Meio Ambiente.
Ele finaliza:
— O ato de não separar o lixo é onde começa todo o problema ambiental e social. Tem aquele que produz muito lixo, em demasia, e quem separa errado. O aterro sanitário começa a ter uma vida útil menor porque ele é feito para processar lixo orgânico e não seletivo. Atrapalha a compactação porque o seletivo não apodrece. Esse comportamento também compromete a renda de parte da população, que durante a pandemia já sofreu grandes perdas financeiras, e depende desse material para ter seu sustento.
Para que seja reaproveitado, o lixo seco precisar estar limpo, na medida do possível, e não pode estar misturado a resíduos orgânicos. Depois que o lixo é colocado nos contêineres amarelos ou nas lixeiras onde não há coleta mecanizada os materiais passam por uma nova trajetória para que sejam, efetivamente, reaproveitados.