Em entrevista ao Gaúcha Hoje nesta terça-feira (23), o secretário de Trânsito de Caxias do Sul, Alfonso Willembring, comentou a situação do transporte coletivo. Na manhã de sexta-feira (19), a Visate, concessionária do serviço, cumpriu apenas metade dos horários previstos em todas as linhas, sem aviso prévio à população. A empresa justificou que a operação reduzida ocorreu por dificuldades financeiras. Depois do ocorrido, a prefeitura decidiu pagar um aporte emergencial à concessionária de R$ 4 milhões. A primeira parcela foi depositada nesta segunda-feira (22). O repasse por parte do poder público tem o objetivo de garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, assinado em maio.
A respeito disso, do contrato vigente, Willembring afirma que foi feita uma licitação, com uma estimativa mínima de passageiros. E, inclusive, isso foi discutido com o Tribunal de Contas do Estado, pois quanto maior a estimativa de passageiros, menor seria a tarifa inicial.
— Foi feita uma estimativa de 120 mil passageiros ao dia, coisa que até então não aconteceu. Anteriormente à pandemia, ainda tínhamos algo em torno de 150 mil, então estimamos abaixo, acreditando na recuperação social mais rápida com relação a pandemia. Porém isso não aconteceu. Desde o início deste contato, ou seja, lá no dia 13 de maio, nós passamos então, agora, a calcular. Na semana passada, a concessionária havia solicitado um reequilíbrio econômico financeiro do atual contrato. E eu tenho a destacar que nós já estávamos discutindo com a mediação do Tribunal de Justiça essa possibilidade de um auxílio emergencial — afirma o secretário.
O titular da pasta salienta que o poder público estava ciente das dificuldades enfrentadas pela concessionária. Porém, na última quinta-feira, ficaram surpresos quando foram informados à noite sobre a suspensão parcial dos transportes. O temor inicial foi pensar em começar esta semana sem transporte. Sendo assim, foi decidido realizar o acordo.
— Esses R$ 4 milhões são frutos de um cálculo feito pelos técnicos da secretaria desde o primeiro dia do contrato, pensando em qual seria a quebra de equilíbrio, o déficit, que a empresa estaria sofrendo frente ao baixo número de passageiros. Então, chegamos a esse valor, cuja primeira parcela já foi paga. A outra será reembolsada até o final do mês de novembro — explica.
Diversos ouvintes pediram qual o motivo da prefeitura dar esse aporte à Visate, que é uma empresa privada. Willembring responde acerca da legalidade deste acordo, informando que ele teve a mediação do Tribunal de Justiça. Além disso, ele salienta que as pessoas precisam compreender que o aporte não é para a Visate. É para o sistema de transporte público urbano, que é um dever do município, um dever de estado. O secretário ressalta que a concessionária é a empresa que executa o transporte, mas o serviço é da prefeitura. O acordo visou evitar um colapso no sistema de transporte. O secretário reforça que tem contato com secretários de inúmeros municípios do país e que essa questão de subsídio ao transporte já é uma realidade.
— Um fato a se considerar é que, historicamente, a passagem paga o sistema. É matemático, se soma o número de passageiros, quanto isso significa em reais, quanto é a despesa do transporte realizado e se divide. A concessionária poderia ter solicitado um reajuste tarifário. Isso é natural e pode ocorrer mais de uma vez ao ano, dependendo da situação. Nós vivemos hoje uma situação em que o principal dos insumos, que é o óleo diesel, somente neste ano já tem um reajuste acumulado superior a 70%. Somente dentro da vigência do atual contrato, de maio para cá, os reajustes superam 50% e isso reflete nas despesas do transporte — afirma Willembring.
A melhor medida, segundo o secretário foi o aporte financeiro do poder público, pois se fosse escolhido um reajuste tarifário, desde maio, abril e junho, as pessoas estariam pagando de 30 a 40 centavos a mais para que isso não fosse necessário hoje. Ele ainda destaca que será realizada uma revisão da tarifa mais para a frente. Porém, é meta do governo conseguir manter a atual tarifa.
Pensando justamente nos impactos da pandemia, outro fato a se questionar é sobre a chance da prefeitura ter que aportar mais valores para a Visate. Willembring afirma que há essa possibilidade. Ele salienta que no ano passado foram encurtados gastos. Porém, pode haver a necessidade de um novo aporte referente a 2020. Essa questão será decidida na Justiça. O conjunto probatório de documentos é grande e, por isso, a análise se torna muito demorada. O secretário ressalta que o município já trabalha em cima disso.
Mesmo com problemas financeiros, na licitação do transporte público a Visate foi a única interessada em manter o serviço. Willembring, ao responder questionamentos de ouvintes sobre isso, afirma que compreende a decisão da concessionária. É uma grande estrutura instalada em Caxias do Sul, que emprega milhares de pessoas. Por isso, de acordo com ele, a melhor oportunidade é continuar apostando no futuro.
Ônibus sem Catraca
O projeto Ônibus sem Catraca começa a ser operado a partir desta terça-feira (23) em Caxias do Sul. Conforme a Secretaria Municipal de Trânsito, um ônibus do transporte coletivo urbano atenderá a comunidade sem estar equipado com catraca. O teste será feito por 30 dias. A ideia é proporcionar novas experiências e facilitar o acesso dos passageiros ao veículo. A novidade poderá ser conferida no ônibus da Visate prefixo 241, na linha 98 - Panazzolo/Vila Verde. De acordo com a secretaria, o veículo já está identificado e adesivado.
Acerca desta inovação, Willembring afirma que é bastante simples: o ônibus tem um sensor mais próximo do motorista, da porta de embarque, em que a pessoa que tem o cartão passa próximo e o sensor já debita o valor da passagem e estará efetuado o pagamento. Entretanto, quem ainda prefere fazê-lo com dinheiro, poderá pagar para o próprio motorista. Haverá também um segundo funcionário, que vai auxiliar.
— Foi uma necessidade, pois essa linha atende a região da Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul (Apadev), onde é preciso que as pessoas tenham esse auxílio, pois é um sistema novo. Acredito que, em termos de futuro, isso será realidade. Estamos evoluindo para a integração de transportes, que sejam unificados por meio de um único sistema. Esse é o futuro — conclui.