![Marcelo Casagrande / Agencia RBS Marcelo Casagrande / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35584111.jpg?w=700)
Do alto, com a ajuda de drones, ou andando pelas ruas das comunidades periféricas de Caxias do Sul, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, estão indo a campo para verificar, nos locais, o que as imagens de satélite e documentos cartográficos não mostram. O trabalho faz parte do estudo, contratado pela prefeitura em maio do ano passado e que, até poucos dias, estava sendo feito no âmbito virtual e a distância.
O IPT está elaborando e vai entregar dois tipos de documentos. Um deles é uma carta geotécnica de aptidão à urbanização. Na prática, é um levantamento das áreas habitáveis do município. É um documento obrigatório por lei federal, constará no Plano Diretor e serve para o planejamento urbano da cidade. Segundo o pesquisador Eduardo Soares de Macedo, do IPT, dois geólogos estão atuando nessa frente de trabalho. Ele diz que a carta também terá um guia que trará as condições para aprovação de novos loteamentos utilizando os dados produzidos.
— Aí, vem o planejamento das cidades. Cuidar das áreas para que não se repitam os mesmos problemas que temos hoje; que todas as cidades brasileiras têm — comenta o pesquisador.
O segundo material que está sendo elaborado pelo IPT é o mapeamento das áreas de risco a partir de nove locais indicados pela prefeitura: Vila Ipê, Portinari, Cânion, Monte Carmelo, Diamantino, Planalto, Villa Lobos, Jardelino Ramos e Euzébio Beltrão de Queiroz. O pesquisador explica que esses locais estão relacionados aos paredões rochosos existentes em Caxias.
— A cidade, a base dela, tem rochas escuras e meio cinzas, os dacitos, que são lava de vulcão, vários derrames vulcânicos que tivemos na história geológica e foram se depositando. Para ocupação, pode haver problemas, como a formação desses paredões feitos por escavação das pessoas ou por antigas pedreiras ou para abrir ruas. Vemos pouco solo e muita rocha. Precisamos estudar isso com a ocupação, ou seja, o que tem em cima.
![Marcelo Casagrande / Agencia RBS Marcelo Casagrande / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35584112.jpg?w=700)
Na manhã de sexta-feira, os pesquisadores percorreram o bairro Villa Lobos, na região sul. O trabalho consiste em reconhecer as áreas, ver onde podem estar os problemas e fazer fotografias com drones. A ideia é obter imagens de ângulo inclinado das áreas que mostrem os barrancos, a altura, a qualidade das moradias, entre outros detalhes. As informações vão ajudar a avaliar os locais nas próximas visitas, que devem ocorrer em uma semana por mês até março de 2022. O mapeamento servirá para a elaboração do Plano Municipal de Redução de Risco.
— Mapeamos a área, apontamos o problema que ela terá – se o risco é alto, por exemplo – e, a partir dele, propomos soluções e um pré-orçamento. Com esse material, a prefeitura pode priorizar o ataque — explica Macedo.
Entre as soluções que podem ser indicadas estão desde ações que a própria prefeitura pode executar, como drenagem, impermeabilização de taludes e retirada de rochas que estejam prestes a cair, até obras grandes. Mas a remoção de moradores é uma decisão que caberá à prefeitura, em uma análise de custo financeiro, social e benefício.
Nas comunidades visitadas até o momento, um dos problemas verificados é a má qualidade das moradias.
— Principalmente nas áreas mais novas, ocupadas mais recentemente. Em algumas delas têm os paredões e casas de má qualidade, com uma fundação e um alicerce que não foram bem feitos, na beira e abaixo de encostas — pontua Macedo, do que já avaliou na cidade.
O estudo também aponta áreas onde não há riscos e que estão aptas a serem regularizadas. O IPT também vai promover uma capacitação de técnicos da prefeitura em novembro. O objetivo é que os profissionais locais possam atualizar os mapeamentos no futuro para que a cidade não fique tanto tempo sem dados atualizados, como ocorreu agora. O último levantamento havia sido feito em 2005.
O contrato da prefeitura com o Instituto expirou em maio deste ano mas, em função da pandemia, que impediu o trabalho de campo, teve um aditivo de prazo e a nova vigência é até abril do ano que vem. Não houve aditivo de valor. Uma comissão composta por integrantes das secretarias de Meio Ambiente, Urbanismo e Planejamento e do Serviço Municipal de Água e Esgoto (Samae) acompanham as ações do Instituto.
![Marcelo Casagrande / Agencia RBS Marcelo Casagrande / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/35584110.jpg?w=700)
Ivonir Alves Provin, 38 anos, mora há oito anos em uma parte ocupada do Villa Lobos, na beira de uma encosta que tem, na base, um arroio. Ele sonha com a regularização, já que investiu na construção da casa de alvenaria erguida sobre pilares.
— Na época que vim morar aqui coloquei umas 200 caçambas de terra. Fui eu que comprei a terra e aterrei — conta.
No final da rua, em frente à entrada da casa dele, houve um desmoronamento em direção ao curso d'água.
— É meio complicado. Mas nunca tive problemas — relata, referindo a possibilidade de deslizamentos.
O secretário de Meio Ambiente, João Osório Martins, que acompanhava as equipes na manhã dessa sexta-feira, falou da importância do estudo:
— Estamos localizados em uma região de muito relevo, muito acidentada. Então, esse estudo acaba sendo de fundamental importância para essa administração e para as futuras na hora da tomada de decisão em relação à ocupação do solo. O estudo vai mapear as situações de risco que nós temos. Todas elas já consolidadas. E o poder público vai ter o compromisso de proteger o cidadão, com medidas de contenção, no sentido de diminuir o risco. Existirão algumas situações em que não haverá outra saída a não ser a retirada do imóvel. Mas a equipe do IPT está fazendo um trabalho no sentido de evitar a retirada das famílias e, sim, indicando ao município as recomendações para que o cidadão tenha a segurança necessária para a sua moradia.