Moradores de Guaporé e Anta Gorda enfrentam há trinta e um anos um problema que prejudica o deslocamento entre uma cidade e outra. A ponte que liga os dois municípios fica submersa de um a dois dias a cada período de chuva forte que atinge a região do Vale do Taquari. A situação também compromete o escoamento da produção, já que o acesso na chamada Rota do Mate é o mais curto para quem precisa fazer entrega de produtos.
Agora a comunidade volta a ter esperança de que uma nova ponte seja enfim construída sobre o Rio Guaporé. Isso porque será aberto um edital de licitação no dia 15 deste mês para a contratar a empresa que fará o projeto da obra. As duas cidades firmaram convênio, sendo que o município de Guaporé ficou responsável pela licitação da empresa que fará o projeto básico e executivo da ponte.
A estrutura é a principal ligação entre os dois municípios, que ficam a 25 quilômetros um do outro via RS-441, trecho de chão batido da rodovia. A outra opção entre as duas cidades é via RS-129, passando por Encantado e RS-332, o que aumenta o deslocamento em cerca de 70 quilômetros.
A reportagem esteve na ponte na sexta-feira (8). Em poucos minutos foi possível perceber como a via é movimentada. Passaram cerca de 15 a 20 veículos, entre eles, um caminhão carregado de frutas pela estrutura. O local é precário visto que essa ponte tem mais de 70 anos. A outra que existia ao lado dela foi levada por uma enxurrada em julho de 1990. O que sobrou dela segue na água do Rio Guaporé.
Na ponte que ficou passa apenas um carro por vez e estrutura não tem guarda-corpo. Outra preocupação é que há acidentes com frequência, especialmente, com motoristas que estão no sentido Anta Gorda a Guaporé e não conhecem o trecho. Eles não percebem que a ponte está embaixo da água e já tiveram carros que caíram nas águas do rio.
Luta para que obra saia do papel
A costureira Claudete Andrade, 48 anos, é uma das representantes da comunidade. Ela já organizou abaixo assinados, audiências e buscou ajuda para resolver o assunto. Em outubro de 2018, uma reportagem sobre a ponte foi veiculada no Jornal Nacional na série O Brasil Que eu Quero e, depois, em 24 de outubro do mesmo ano no Globo Repórter depois do contato dela.
Naquele mesmo ano, foi elaborado um pré-projeto para uma nova estrutura. Com o documento em mãos, os prefeitos das cidades buscaram recursos na bancada gaúcha na Câmara dos Deputados. Na época foi realizada uma audiência pública, mas a demanda não foi considerada prioritária e, portanto, não houve repasse. Atualmente foi lançada a Frente Parlamentar das Pontes. Isso, aliado ao edital que será aberto, deixa a costureira confiante de que a situação seja resolvida. Ela mora em Anta Gorda e trabalha em Guaporé.
— Fico atenta a previsão do tempo para adiantar a saída caso seja preciso porque a viagem é quatro vezes maior quando a ponte fica submersa. Eu não vou desistir. Nesse ano fui a Brasília com recursos próprios para pedir ajuda a Bancada Gaúcha mais uma vez. Acredito que com o projeto vamos poder contar com recursos do governo do Estado via Secretaria de Transportes.
Ela conta que a ponte também é um risco para os pedestres que usam a passagem para chegar ao município vizinho.
— Atrapalha nossas vidas e compromete os produtores de leite, os que têm aviários, os que têm criação de suínos. Todo o escoamento é por ali. A população torce por isso como se fosse um jogo de seleção brasileira — conta ela.
Comunidade criou grupo para trocar informações
Para tentar avisar ao maior número de pessoas possíveis se tem como passar pela ponte, os moradores têm um grupo em um aplicativo de conversas. O músico Aírton da Silva, 41, é um dos 90 integrantes.
— Minha casa é na beira do rio. Eu observo uma pedra e vejo se dá passagem ou não. Aviso no grupo e quem passa pela ponte começa a fazer fotos e vamos trocando informações.
Gilmara Troyan Alba, 54, mora na localidade de São Marcos, em Guaporé, a cerca de dois quilômetros da ponte.
— Cada vez que chove, o pessoal chega aqui e tem que voltar por Encantando. A passagem não é segura. A ponte está corroída e falta um pilar.
O advogado Alcedir Vanderlei Lovatto, 60, que vive em Guaporé, também enfrenta a mesma situação.
— Sou dos moradores que necessita transitar e assim como os demais me vejo impedido de passar com frequência pelo local.
O que diz a prefeitura de Guaporé
O Secretário de Coordenação, Planejamento e Desenvolvimento Econômico Gerson Ricardo Bedin afirma que o valor investido no projeto é de R$ 217 mil. As despesas serão divididas entre os dois Guaporé e Anta Gorda:
— Após essa primeira fase, o projeto será encaminhado para o Daer. Será o departamento que fará a avaliação e aprovação e depois vamos encaminhar esse projeto ao governo do Estado para execução. Contudo, ainda não está definido se o governo executará a obra ou se haverá um novo convênio para o repasse de recursos para que os municípios licitem a obra. Pelo que temos visto é isso que tem sido feito. O Estado passa os recursos e nós contratamos — explica Bedin.