Um problema histórico prejudica as famílias de Guaporé, na Serra, e Anta Gorda, no Vale do Taquari: a ponte que liga os dois municípios fica submersa por pelos menos um dia a cada chuva forte que atinge a região.
A estrutura sobre o Rio Guaporé é a principal ligação entre os dois municípios, que ficam a 25 quilômetros um do outro via RS-441, trecho de chão batido da rodovia. A outra opção entre as duas cidades é via RS-129, passando por Encantado, e RS-332, o que aumenta o deslocamento em cerca de 70 quilômetros.
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Ponte que liga Guaporé a Anta Gorda está submersa
A comunidade vive há mais de 30 anos com essa dificuldade. Na ponte, passa apenas um carro por vez. A estrutura não tem guarda-corpo. Outro problema é a falta de recursos para que uma nova ponte seja construída.
A costureira Claudete Andrade, 46 anos, é uma das representantes da comunidade na luta pela construção de uma nova ponte. Em outubro de 2018, uma reportagem sobre o assunto foi veiculada no Jornal Nacional na série O Brasil Que eu Quero e, depois, em 24 de outubro do mesmo ano no Globo Repórter. Foi Claudete que se mobilizou em busca de ajuda para resolver o problema. Naquele mesmo ano, foi elaborado um pré-projeto para uma nova estrutura. Com o documento em mãos, os prefeitos das cidades buscaram a bancada gaúcha na Câmara dos Deputados para obter recursos. Foi realizada uma audiência pública, mas a demanda não foi considerada prioritária, e portanto, não há repasse para que saia do papel.
- A ponte está submersa novamente. Eu não consigo entender porque esse projeto não tem prioridade? Em dois anos nada mudou. Por que não nos ajudam com essa demanda que é essencial para quem vive aqui? Eu moro em Anta Gorda e trabalho em Guaporé. É lamentável ter que conviver com isso, é rotineiro em períodos de chuva. Até hoje nenhum prefeito foi capaz de investir numa ponte nova. A viagem é quatro vezes maior quando a ponte fica submersa. A comunidade dos dois municípios está indignada e cansada. Queremos uma solução - cobra Claudete.
A situação também é um risco para os pedestres que usam a ponte para chegar ao município vizinho.
- É um perigo para todos. Há quase dois anos realizamos encontros, abaixo-assinados e reuniões. Tivemos audiência pública e nada foi feito. Ontem, como sabia que ela ia ficar submersa, saí de Anta Gorda por volta do meio-dia. É um transtorno ir por Encantado. Atrapalha nossas vidas e compromete os produtores de leite, os que têm aviários. Todo o escoamento é por ali.
Sem recursos
Uma solução seria a construção de uma outra ligação entre as duas cidades. Isso já aconteceu uma vez em 1978. Entretanto, a ponte ponte foi levada por uma chuvarada em 1990. Os prefeitos da região acreditavam que a ponte ficava em uma extensão da RS-441, e assim seria responsabilidade do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Contudo, há dois anos, o Daer apontou que cabe aos municípios cuidar daquele trecho. Em nota por meio da assessoria de imprensa, o departamento informa que: "de acordo com o Sistema Rodoviário Estadual (SRE) a ponte pertence ao município."
O prefeito de Guaporé, Valdir Carlos Fabris (PDT), afirma que o trecho pertencia ao Estado e, até 2018, não sabia que tinha sido devolvido aos municípios. Para ele, se tratava de uma extensão da RS-441. A manutenção das estradas sempre foi feita pelas duas prefeituras no limite de cada município. Ele ressalta que a ponte é uma prioridade mas não há recursos para executar uma obra desse porte. O prefeito explica que o Daer, mesmo alegando não ser responsável pelo trecho, fez um pré-projeto e a obra de uma ponte nova está orçada em cerca de R$ 3 milhões. As cidades encaminharam a solicitação de recursos à bancada gaúcha para tirar o projeto do papel:
- Teve audiência pública onde eu defendi a necessidade da ponte para os dois municípios, mas até o momento não fomos contemplados. Na votação do ano passado, recusaram o pré-projeto porque avaliaram que há outros prioritários. Para uma ponte nova, precisamos de recursos dos deputados. O que nos resta de esperança é que eles garantam a verba. Se conseguimos esse valor, podemos elaborar o projeto que sai por cerca de R$ 100 mil. Sem a garantia de que teremos a verba, não há porque usar essa verba em um projeto que sabemos que não teremos como executar.
Ele aponta que há necessidade de uma nova ligação entre as cidades:
- Quando chove, a ponte fica pelo menos um dia submersa até que o rio baixe. Para nos deslocarmos tem que ir por Encantado. Ao invés de andar 22 quilômetros precisamos fazer mais de 70. Prejudica os moradores e todo o escoamento da produção.
A prefeita de Anta Gorda, Madalena Gehlen Zanchin (PP), lembra que a demanda é histórica, mas frisa que o entrave é o valor alto para executar a obra.
- O município não tem como para bancar um projeto como a nova ponte. Estamos sempre mobilizados, e buscamos,, ao lado de Guaporé, os deputados gaúchos, principalmente, os da região, para demonstrar a necessidade de uma nova ponte. A maior possibilidade de executar a obra é se esse recurso vier da Câmara dos Deputados.
O que diz a bancada gaúcha na Câmara dos Deputados
Anualmente a bancada gaúcha realiza uma grande reunião para que todos os prefeitos, órgãos municipais e Estado levem seus pleitos para serem apresentados. Dentre eles, cerca de 15 a 17 projetos são selecionados pelos parlamentares que compõem a bancada para serem executados com a verba liberada pela BG. Ano passado infelizmente a ponte não recebeu voto suficiente para ser executada, porém, este ano a grande reunião ainda não aconteceu. Normalmente ocorre em outubro. Esperamos que os prefeitos de ambos municípios levem o projeto da ponte e apresente aos parlamentares para novamente ser avaliada.
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