Estão suspensas, pelo menos até o dia 13 de setembro, as visitas aos cerca de 70 idosos que vivem hoje no Lar da Velhice São Francisco de Assis, em Caxias do Sul. A intensificação dos cuidados também ocorre na Casa de Repouso de Idosos Longevittá, que atende a 41 moradores no bairro Nossa Senhora de Lourdes. A administração do local tem intermediado o contato de familiares com chamadas de vídeo ou ligações. Desde o dia 13 de agosto, encontros presenciais são permitidos somente através de um vidro.
Estas e outras medidas vem sendo tomadas nas últimas semanas por Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPIs) de Caxias do Sul como forma de prevenir novos surtos, como o que foi registrado em uma ILPI de Nova Petrópolis, com a morte de dois idosos; e na Clínica Psiquiátrica Paulo Guedes, em Caxias, que registrou uma morte com amostra confirmada para a variante Delta.
A suspensão de visitas em ILPIs ainda não é uma medida orientada pela Vigilância Sanitária do município mas, segundo Anelise Kirch, médica infectologista da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), a circulação da variante Delta deve ser motivo de cuidados redobrados por parte da população, especialmente em relação aos idosos.
— Os lares sempre nos preocuparam bastante e a SMS segue vigilante. Esse ano, depois da vacinação, a gente orientou que fossem afrouxadas um pouco as regras, permitindo-se visitas dentro de determinados critérios. Mas concordamos que agora seja importante redobrar cuidados. A variante Delta está circulando e tem se mostrado mais infectante e as vacinas que eles receberam são menos eficazes diante dela. Além disso, foram os primeiros grupos vacinados e o tempo também pode influenciar na eficácia — destaca a infectologista.
Ela explica que, em caso de novos surtos, a mortalidade tende a ser consideravelmente menor se comparada a situações anteriores à vacinação. Entretanto, segundo Anelise, os pacientes podem ser acometidos por comorbidades em decorrência da covid-19.
Conforme dados do Painel Covid-19 da prefeitura, desde março de 2020, 1.278 pessoas morreram por conta da doença em Caxias do Sul. A faixa etária mais impactada foi a de idosos de 60 a 79 anos, com 625 mortes, seguida pela dos 80 anos ou mais, que contabiliza 338 vítimas.
"Estamos traumatizados e tentando ficar isolados disso"
Desde o início da pandemia foram registrados 34 surtos em ILPIs de Caxias do Sul, segundo dados da SMS, que considera como surtos casos suspeitos para covid-19 de duas pessoas ou mais. Um deles ocorreu no Lar da Velhice São Francisco de Assis, entre novembro e dezembro de 2020. A atenção permanentemente mantida em relação aos protocolos sanitários como forma de prevenção ao contágio volta a ser redobrada na casa, que quer evitar novos casos da doença.
— As medidas que tomamos desde o início do ano passado fizeram com que conseguíssemos evitar o vírus ao longo de muito tempo. Depois da vacina, não tivemos mais casos, mas estamos traumatizados e os casos recentes da variante Delta nos deixaram assustados. Queremos fazer com que o Lar fique isolado disso — afirma o presidente da instituição, Oidi Luiz Galeti.
Segundo ele, ainda que a SMS tenha orientado apenas a intensificar os cuidados que a casa vinha tomando, a equipe que administra a casa optou pela suspensão de visitas, inicialmente até o dia 13 de setembro.
— Estabelecemos uma data para que a gente reavalie a situação e, conforme for o caso, voltaremos a receber visitas ou prorrogaremos a suspensão. Lembrando que as visitas já eram mantidas com restrições e passaram a acontecer de forma gradativa, somente depois que todos já estavam vacinados. Tomamos a decisão de suspender novamente por precaução — completa.
Para quem vive no Lar da Velhice, o clima é de tranquilidade. Relativamente assegurada pelas medidas sanitárias, a rotina para os moradores não chega a ser muito diferente do que era antes da pandemia, embora as perdas causadas pela covid-19 ainda sejam lembradas. Levi Dias, 96 anos, perdeu o colega de quarto, um idoso de 75 anos. Ele lamenta a morte dele, mas diz não se deixar abater pelo medo.
— Ele fumava bastante. Eu me exercito todos os dias, tenho muita vitalidade e nunca carreguei medo nesse corpo. Aqui sou muito bem tratado, me arrependo de não ter vindo antes. Se eu ainda estivesse no apartamento onde morava, não estaria mais vivo — observa o idoso, que está há dois anos no Lar, onde atua como voluntário na lavanderia.
Ele diz que desde o início da pandemia mantém, por telefone, o contato com os netos, que residem fora de Caxias do Sul. O telefone também virou aliado para a manutenção dos contatos de Lúcia Menegotto, 77, que também mora no Lar, com seus familiares. Embora se diga satisfeita com a rotina que mantém, predominantemente na sala de costura, ela diz sentir falta dos passeios que fazia antes de março de 2020.
— A minha irmã vinha aqui costurar comigo. Agora não tem mais como. Volta e meia eles vinham me buscar, eu gostava de ir para o Centro, olhar as vitrines, comprar algumas coisas e tenho saudades de ver meus sobrinhos — relata Lúcia, que ficou com medo quando ocorreu o surto no Lar.
— Foi difícil. Eu pensava em Deus, é a melhor coisa que tem. E o amor, não tem coisa melhor na vida. Tá chegando ao fim, mas o coração não envelhece e sabe amar até os últimos dias — conclui.
"Aqui eu me sinto segura", diz moradora de casa de repouso
Maria Jovelina Schiavenin vai completar 78 anos neste sábado (28), mas a comemoração com a família vai ser a distância. Ela é uma das moradoras da Casa de Repouso de Idosos Longevittá, local que também intensificou as medidas preventivas à covid-19, suspendendo visitas por tempo indeterminado. Dona Maria mantém contato com a família por telefone e também tem a opção de vê-los pessoalmente através de um vidro de proteção. Mas abraço mesmo vai receber somente do marido, Olindo Schavenin, 78, que foi junto dela morar no local desde que ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), há cerca de 10 meses.
— Vim para me recuperar. Agora até estaria pronta para voltar para casa, mas não quero mais. Tenho medo do vírus e aqui me sinto mais segura. Eu sinto falta de ir a missa. Meu filho vinha quase todos os finais de semana, mas não podia ficar perto, então decidimos manter só por telefone — conta.
Depois de receber as duas doses da vacina, no dia 3 de agosto, Neodir Lorenzini, 63, ainda pôde dar na mãe dele, dona Irma Draghetti Lorenzini, 89, um abraço. O ato ocorreu durante a festa de aniversário dela na casa de repouso e comoveu a todos que assistiram. Era algo esperado por ambos desde o início da pandemia e que ainda não tem data prevista para se repetir.
— Me sinto triste por não poder estar lá do lado dela, mas contente porque sei que ela está protegida. Eu ando na rua todo dia, vacinado e com as medidas todas de proteção, mas lá eu prefiro não entrar, mantenho contato por telefone. A gente tem que se proteger até terminar com isso — comenta o filho.
Além da suspensão de visitas dentro da casa, a Longevittá, que não registrou surto durante a pandemia, intensificou os cuidados que já eram mantidos.
— Tive muitas ligações a favor, algumas contrárias alegando que os idosos já tinham a vacina, mas optamos por tomar essas providências de forma preventiva, até porque a vacina não garante completamente que um idoso não vá ser contaminado — afirma a proprietária da casa, Suzete Griebler.